Ministério da Saúde anuncia até R$1,2 bilhão para ações de combate ao coronavírus em favelas

Prefeitura do Rio, no entanto, ainda não tem planos para requerer verba
Complexo do Alemão - Foto: Renato Moura
Complexo do Alemão - Foto: Renato Moura

O presidente Jair Bolsonaro publicou no Twitter, na última segunda-feira (8), que o Ministério da Saúde vai repassar até R$1,2 bilhão para municípios que criarem ações de combate ao coronavírus em favelas de todo o país. O objetivo é montar centros de atendimento e vigilância de casos confirmados e suspeitos, além de testagem na população, o que já vinha sendo reivindicado por lideranças comunitárias.

A portaria de número 1.444, publicada no Diário Oficial da União em 29 de maio, estabelece os Centros Comunitários de Referência para o combate à Covid-19, no âmbito da Atenção Primária, ou seja, nos postos de saúde locais, com o objetivo de garantir verbas por parte do Governo Federal para ações efetivas. Para ter acesso ao incentivo financeiro, as prefeituras devem estruturar espaços para o atendimento de pessoas com síndrome gripal, casos confirmados ou suspeitos de coronavírus.

O aumento de casos confirmados e a subnotificação de infectados em comunidades preocupa quem está no front de batalha contra a Covid-19 em favelas e periferias, onde o poder público não chegou permanentemente. Coletivos independentes vêm realizando trabalhos de enfrentamento dentro das comunidades sem apoio do governo, numa tentativa de minimizar os impactos da doença.

O projeto Favela Sem Corona realiza a testagem da população moradora de favela e reivindica essa ação como uma iniciativa do governo. “Infelizmente, a subnotificação foi um dos principais problemas no combate ao coronavírus. Sem mapeamento da população atingida, é impossível ter ações de vigilância sanitária, educação e assistência social”, ressalta Luciana Barros, mestre em Ciência Política e coordenadora do projeto. Para ela, a urgência de testar moradores contribui para o entendimento do cenário de contaminação em espaços que já não contavam com o Estado. 

Naldinho Lourenço está na linha de frente do combate à pandemia no Complexo da Maré, na zona Norte do Rio. A Frente Maré, projeto do qual ele faz parte, nasceu a partir de um conjunto de coletivos no complexo de favelas que sentiam a necessidade de contribuir para a comunicação direta com o morador sobre o coronavírus, além de auxiliar aqueles que sofrem com a falta de alimentos, produtos de higiene, acesso à informação nos serviços de saúde e sociais, como o CRAS. Os dois ativistas concordam que a presença do Estado não é percebida. “O Estado deixa de fazer o que deveria e os moradores têm que se organizar para sobreviver”, aponta o líder comunitário. 

Naldinho Lourenço

Voz das Comunidades vai fazer uma live especial para crianças neste sábado (13)

Crédito: Patrick Mendes

O outro lado

Na semana passada, nós, do Voz das Comunidades, procuramos a prefeitura para falar sobre propostas com relação a essa verba, porém, recebemos a informação de que o Complexo do Alemão já era uma comunidade com serviço de saúde suficiente. E devido à queda no número de casos suspeitos na cidade, não era necessário criar mais um ponto de atendimento para oferecer os mesmos serviços. 

Já nesta semana, a prefeitura informou que está em reunião com a Fiocruz e avaliando as propostas, mas não apontou quais. Disse, também, que, assim que houver uma definição, será divulgada. O Voz procurou o Ministério da Saúde, para saber sobre as ações da pasta para as comunidades durante a pandemia, que teve início nos primeiros meses do ano. Até o fechamento desta reportagem, não obtivemos retorno.

De acordo com o painel de monitoramento do Voz das Comunidades, as favelas da capital fluminense registram mais de 1.727 casos, ultrapassando a marca de mais de 385 mortes. As maiores da cidade, como é o caso do Complexo da Maré e da Rocinha, são as que mais têm moradores infectados pelo vírus. Enquanto medidas públicas para frear o avanço da Covid-19 nas favelas não são tomadas, ativistas temem o crescimento de casos e mortes a cada dia. 

Painel do Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro, atualizado em 11/06

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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