Há 38 anos, Dona Zezé, como a senhora Maria José Enoque de Lima, de 66 anos, é mais conhecida, começou o seu trabalho na comunidade do Vidigal, que escolheu para viver depois de migrar no nordeste em busca de uma vida melhor no Rio de Janeiro. Esse trabalho acabou amadurecendo e se tornando longevo. Foi aí que sua filha Vanessa Enoque, 41 anos, e agora a sua neta, Isabel Lima, 13 anos, também se integraram nesta missão e estão dando continuidade nesse trabalho tão importante.
Maria, que só tirou seus documentos aos 18 anos para viajar para uma capital em busca de uma vida melhor, trabalhava como doméstica e enviava tudo o que ganhava para ajudar a sua família que ficou no nordeste. Até que um dia, uma freira coreana a escolheu, enquanto lavava roupa numa lavanderia comunitária, para iniciar um projeto de educação na comunidade.
“Tudo começou com a “Pastoral da Criança”, uma freira coreana subiu o morro e, ao me encontrar numa “bica” lavando roupa, me perguntou se eu não tinha vontade de fazer um trabalho para a comunidade. Eu disse que tinha vontade, mas não tinha condições. Foi aí que ela marcou uma reunião com as pessoas que moravam aqui nas proximidades e foi aí que começou um trabalho mais voltado para a segurança alimentar. Inicialmente a preocupação era com as crianças desnutridas. Isso foi em 1990”, disse D. Maria.
Depois de muitos anos surgiu a necessidade de ampliar o espaço porque o número de crianças cresceu muito. Nesse momento surgiu um casal de australianos, que foram contactados pela freira coreana, que foi patrona da creche, e, como anjos que caíram do céu, ajudaram nesse crescimento necessário.
“A Pastoral, através da freira coerana comprou essa casa e iniciou o trabalho. Depois, quando a freira precisou voltar ao seu país, eu fiquei administrando a instituição. Nesse momento nós cuidávamos de umas 30 crianças. Mas o trabalho era diferente. Nessa época a gente fornecia o alimento produzido aqui e acompanhava o desenvolvimento das crianças. Elas vinham aqui uma vez por mês para se pesar e medir”, acrescentou Maria.
Depois dessa fase D. Maria percebeu que havia uma necessidade de transformar o espaço numa escola de verdade e foi aí que buscou ajuda da associação e de uma professora que morava perto. Com a partida da freira, a casa foi passada para o nome de Zezé e essa recebeu a missão de tornar o espaço em algo produtivo.
“Começamos com uma escolinha que tinha 12 crianças somente e uma professora que morava aqui perto. O começo foi difícil porque não tínhamos como manter o espaço, já que as mães não tinham como pagar e as professoras não podiam trabalhar voluntariamente. Foi quando começamos a cobrar uma pequena taxa das crianças que foram entrando. Nesse momento surgiu um casal de australianos que nos ajudou a ampliar e melhorar o nosso espaço que era muito precário”, disse Zezé.
Hoje a creche não recebe nenhuma ajuda financeira e os funcionários trabalham recebem apenas uma ajuda de custo. Esse é um dos motivos para que D. Zezé pense em encerrar suas atividades. O fato de não conseguir dar uma remuneração digna para quem realiza um trabalho de tanta importância faz a veterana da educação comunitária desanimar e querer para com o seu trabalho.