#Educação | A favela faz poesia?

Foto: Berro

Você gosta de literatura? Independente da sua resposta, provável que você ao menos já se deparou com algum livro na escola ou até mesmo na vida. Basta lembrar daquele professor de literatura que falava de Machado de Assis, Clarice Lispector ou outros escritores da nossa cultura brasileira.

Não precisa recordar muita coisa, mas é quase certo lembrar dos movimentos literários dados em aula, mesmo que minimamente, tipo Barroco, Arcadismo, Romantismo. Todos esses apresentados quase que superficialmente, divididos por tópicos e muito vagamente. Não estou dizendo aqui que devemos abolir e queimar os livros dados nas escolas, mas que a literatura precisa ser expandida e não apresentada como algo que só se consolida em livros de ensino. A literatura vai além de uma aula de quarenta minutos, ela forma e integra o indivíduo.

Mas, afinal, qualquer um pode ser um poeta? Ou melhor, um morador da favela pode ser poeta?

Atualmente, não existe mais aquela preocupação de antigamente quanto aos detalhes técnicos da poesia. Métrica e até mesmo a rima não são exigidas. A grande maioria do “público consumidor” das artes escritas prefere ver o sentimento, a alma de quem escreve, transcritos no papel. A vivência precisa estar ali, entrelaçada aos relatos de resistência.

Então, hoje há outros poetas (e quando digo que há, não me refiro àqueles já conhecidos e apresentados na sua experiência escolar, que certamente pertenciam ou pertencem à classe burguesa), são os poetas do morro. Que nasceram nas favelas e periferias, que andam armados de palavras poéticas e disparam estrofes por toda uma cidade.

Sabrina Martina, Carol Dall, Maria Eduarda e outros poetas à margem não só da literatura, mas da sociedade são alguns exemplos dessa produção literária. São eles que mostram escrita singular, uma literatura marginal e expressam suas críticas aos atos de opressão, violência e principalmente ao racismo.

E é por isso que precisamos apresentar essa literatura não só em sala de aula, mas em todos os espaços,  porque são esses relatos que evidenciam uma outra perspectiva literária. Precisamos desses poetas, mas também precisamos saber ouvi-los, pois voz sempre tiveram e hoje ela grita!

A sociedade e principalmente o Estado precisam enxergar que tem muitos Machados de Assis nas ruas, vendendo bala e fora da escola. A poesia salva os moleques!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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