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De ator e capoeirista à orientador social; Morador do Vidigal transforma a sua comunidade

Conheça Gargamel, uma vida dedicada ao Vidigal e a causas sociais. Sérgio Henrique é um carioca que passou sua infância se dividindo entre Bangu, bairro da Zona Oeste do Rio, e o Vidigal, que se localiza na Zona Sul da cidade

Conhecido como Gargamel, apelido que ganhou no grupo de capoeira no qual treinou por 25 anos, aos dez anos de idade, se muda de forma definitiva para a favela que tanto frequentava.

“Minha história no Vidigal começou assim. Aos 11 anos, fui convidado para participar do Grupo de Teatro Nós do Morro, administrado pelo jornalista e diretor artístico Guti Fraga. Na mesma época, iniciei como aluno nas aulas de capoeira no Grupo Centro Cultural Senzala de Capoeira, ministrado por Mestre Peixinho, já falecido”. O apelido que ganhou já diz muito sobre o ator e mobilizador social, Gargamel significa gente boa. Hoje, ele se dedica a ajudar a todos que consegue, principalmente as crianças.

Fotos: Acervo pessoal

Logo depois de se envolver com a vida cultural da favela onde morava, Sérgio começou a aprender e se aprimorar cada vez mais. “Com o passar do tempo, foi adquirindo conhecimentos direcionados à arte, aos trabalhos em coletivo, iluminação, cenário, figurino, roteiros, projetos sociais, produção cultural, entre outras áreas de valorização à cultura. Já com algumas experiências, dentro do grupo Nós do Morro me tornei um dos fundadores do Grupo de Pesquisa Afro-Brasileira, denominado Afro em Nós, um projeto de danças regionais, com aulas de músicas, percussão, voz e danças. Através deste projeto, conseguimos realizar diversas apresentações”.

Vida de ator

Gargamel tem um currículo extenso, nas várias áreas que já atuou. “Como diretor artístico, trabalhei na direção e atuação nos espetáculos ‘Capoeiragem’, ‘Abolição’ e ‘Afro em nós’. Também trabalhei como ator nos espetáculos ‘Água de Beber’, dirigido por Cláudio Baltar, ‘Machado A 3×4’, dirigido por Guti Fraga e Fátima Domingues e ‘Noites do Vidigal’, dirigido por Dado Amaral”.

Fotos: Acervo pessoal

“Através da minha dedicação e força de vontade, algumas portas se abriram na televisão também. Estive no elenco das minisséries e seriados da Globo ‘Linha Direta’, ‘A cura’, ‘Malhação’ e ‘A diarista’. Na Record participei de ‘Apocalipse’, ‘Vitoria’, ‘Vidas em Jogo’, ‘Alta Estação’, ‘Luz do Sol’, ‘Prova de Amor’, ‘Vidas Opostas’, ‘A lei e o Crime’ e ‘Dona Xepa’. Também participei dos curtas metragens ‘Crônicas Urbanas’ e ‘Lavagem Constitucional’”.

Mesmo com sua carreira significativa como ator, Sérgio Henrique queria mais. Sentia necessidade de oferecer algo importante para a comunidade em que vivia e que havia lhe dado e ensinado tanto. “Como capoeirista eu comecei a dar aulas dentro do grupo Nós do Morro mas algo me incomodava. Eu sentia que podia fazer mais pela minha favela e por outras. A primeira coisa que fiz ao sair do Nós do Morro foi procurar um espaço para entregar à favela do Vidigal tudo que aprendi, e aí começou minha luta”.

Fotos: Acervo pessoal

“Comei na Vila Olímpica do Vidigal com aulas de capoeira e teatro. Mas eu precisava de mais. Então comecei a realizar festas temáticas, como a sonho de Páscoa, que consiste na distribuição de chocolates para crianças”. Mas o morador e apaixonado pelo Vidigal não parou por aí. “Decidi fazer outra ação temática e desta vez foi a do Natal. Criei o evento solidário Natalizando Sorrisos, através deste evento consigo doações de roupas e calcados para a criançada.

Foco nas crianças do Vidigal

Percebendo a carência das crianças e de alguns moradores, Gargamel criou mais uma ação denominada Cine Viela, onde realiza a exibição de filmes educativos e alguns de aventuras dentro das vielas. Nessas ocasiões, com o apoio de moradores, distribui pipoca e suco para as crianças, que sentam e aproveitam muito o momento cinema. Hoje em dia, Sérgio atua como educador e orientador social. “Há uns cinco anos fui convidado a trabalhar no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da prefeitura do Rio de Janeiro. Minha função é educador e orientador social, por meio deste serviço, consegui ter portas abertas nas escolas e creches onde até hoje leciono com atividades diversas. A escola para a qual mais me dediquei foi a Djalma Maranhão localizada aqui no Vidigal”.

Fotos: Acervo pessoal

O ator e diretor encontrou sua verdadeira paixão e vocação, se dedicar a crianças. “Com a confiança dada pela direção das escolas, organizo festas juninas, dou todo o suporte para os professores, cuido de algumas crianças, vejo se está o bem, como estão em casa, se precisam de ajuda ou de alguma coisa. Sempre busco ajudar todos, mas o meu foco principal são as crianças. Através do meu serviço, como único representante do Cras, que atua aqui, visito algumas famílias, para saberem se estão precisando de algo, se a família tem o cadastro único ou se recebem o bolsa família. Sou o porta-voz dos serviços de convivência, articulo com os pais dos alunos e as escolas ”.

Com a chegada do coronavírus nas favelas do Rio, o comportamento de Sérgio não poderia ser diferente. Ele se mobilizou para ajudar o maior número de pessoas possível. “Diante desta situação, causada pela Covid-19, tenho feito doações de roupas e montei um grupo no WhatsApp onde mando algumas atividades para as crianças fazerem ou divulgo informações importantes para os pais. E sempre que alguém precisa de alguma ajuda em relação ao auxílio emergencial, me procuram. Vou ajudando de todas as formas que consigo. Essa é a minha missão”.

Fotos: Acervo pessoal

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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