Com a crise econômica durante a pandemia do novo coronavírus, muitas empresas precisaram se reinventar. E para o comércio da favela, não foi diferente. Mas como manter a fidelidade do cliente e gerar renda, se os moradores estão de isolamento social? Como oferecer bons preços e um serviço de qualidade, com tanta concorrência? E com os serviços de delivery, mais um questionamento: como levar o comércio local para das redes? As respostas estão no empreendedorismo digital dentro da favela.
Foi pensando nisso que a jornalista e moradora da favela do Jacarezinho Suelen Bastos teve a ideia de dar uma força para empreendedores de favela com o Guia Favela. Suelen faz o serviço de marketing digital, todos os processos de divulgação, mentoria, contando a história de empreendedores até o processo de venda, seja do camelô até uma multimarca dentro da favela, porque na favela não se vende apenas um produto, se vende uma boa história e ela precisa ser bem contada.
Para Suelen, empreendedores de favela têm um diferencial ao seu favor, que é a capacidade de se reinventar. “Aqui existe a crise, mas quando a coisa aperta, ninguém fica parado, o comerciante arregaça as mangas e vai à luta. Por isso temos uma variedade de boleiras, pedreiros, cabeleireiros… Cada um joga pra rolo o que sabe fazer.”
E com a responsável pelo Guia Favela não foi diferente. Ela usa dos seus conhecimentos de fotografia, textos, dinâmicas em vídeos, redes sociais para poder não só ajudar, mas também se manter. “Eu viro a noite estudando como posso aplicar um bom marketing de redes, eu pesquiso e estudo o empreendedor para entender suas demandas, e como uma boa jornalista e produtora de conteúdo tento ao máximo trabalhar a positividade da favela como pauta. Além disso, também ajudo profissionais que estão com problemas na logomarca, passo informações que considero úteis para o gerenciamento das redes sociais, dou dicas de fotografia, segurança digital, comportamento e até de beleza.”
A comunicadora digital não atende apenas a Favela do Jacarezinho e recebe diariamente várias mensagens de empreendedores de outras favelas. Além da favela que é cria, atualmente, atende Complexo do Alemão, Manguinhos, Vila Kennedy, e a demanda só aumenta, trazendo uma diversidade de produtos e serviços, seja na área gastronômica, de beleza e até venda de roupas e eletrônicos.
“A trajetória do Guia Favela é curiosa porque eu comecei com a intenção de incentivar a troca de experiências entre os moradores de todas as favelas, mas a procura começou a aumentar tanto que as pessoas ficavam chateadas quando eu dizia que não divulgava a favela delas. Agora eu estou divulgando todas as favelas.”
A maioria dos moradores tem celular, participa de grupos de Whatsapp, tem acesso à redes sociais e não precisa ir muito longe para pedir um produto ou adquirir um serviço. E segundo Suelen “na favela a gente encontra de tudo e mais um pouco. Cada comunidade têm pelo menos um pólo de vendas onde se encontra desde marcenarias até salão de beleza. Se quiser contratar Dj, tem na favela. Fotógrafo? tem na favela. Designer? tem na favela. Advogado? Tem na favela. Está com vontade de comer algum alimento? Camarão, Strogonoff, bolos, salgados, japonês, caldos, fast food? Pra que gastar caro se temos o empreendedor local, que faz tão bom ou melhor quanto.”
Com o sucesso nas redes do Guia Favela, Suelen aproveita a crise e enxerga uma grande oportunidade. Ela usa dos seus conhecimentos, da sua vivência territorial, não apenas para empreender, mas para mostrar ao mundo que na favela existe um povo trabalhador, guerreiro, que não desiste e sabe empreender como ninguém, seja no real ou no digital.