Setembro de guerra no Alemão termina com sete baleados

Foto: Renato Moura/Jornal Voz da Comunidade
Foto: Renato Moura/Jornal Voz da Comunidade

O mês de setembro já começava violento para os moradores, comerciantes e visitantes do Alemão. Logo no dia 05 do mês, um evento cultural que era realizado na quadra da Vila Olímpica Carlos Castilhos, na parte de entrada do Alemão, terminou com confusão, tiros e muitas bombas de efeito moral. O evento Baile Funk da Antiga reuniu cerca de 3 mil pessoas entre amantes do funk, mulheres e crianças. Por volta das 22h da noite um grupo de policiais das Upps chegaram na porta de entrada do evento, que estava previsto para acabar as 23h. Em menos de 5 minutos de sua entrada no local do evento, barulhos de bombas e gritos foram ouvidos.

“Foi um terror! Estávamos dançando quando ouvimos o barulho das bombas em meio ao funk. Só deu tempo de agarrar meu filho e correr” escreveu a Técnica de Enfermagem, Camila Pinheiro, 24, moradora da comunidade da Grota, em nossa página no Facebook. Camila contou a nossa equipe que foi surpreendida pelos militares já na porta de entrada da quadra. “Eles entraram e se espalharam, pediram para desligar o som, e do nada ouvimos os barulhos de bombas” afirma. Os participantes do evento correram para a Estrada do Itararé, principal via do Alemão. Nossa equipe de reportagem estava cobrindo ao vivo toda movimentação e toda ação dos militares. “Estamos aqui na entrada da Vila Olímpica e vocês podem ver um forte aparato militar saindo de lá” contou o repórter Betinho Casas Novas na transmissão. “Nesse exato momento vocês podem ver os militares se preparando para atirar. Olha gente, ele vai atirar. Atirou!” relata o repórter no momento exato em que dois policiais dispararam bombas de efeito moral nos moradores que saiam do evento. A transmissão foi vista por mais de 40 mil pessoas. Segundo nota da assessoria de imprensa das Upps: “Policiais militares foram ao local checar denúncias de que homens fortemente armados estariam no evento” versão negada pelos moradores.

A onda de violência seguia no Alemão como os meses anteriores. Moradores viveram momentos de caos e terror durante todo dia de quinta feira (15) no Complexo do Alemão. Tudo por conta da intensa troca de tiros, já iniciada na parte da tarde. A troca de tiros teve início por volta das 16h na comunidade da Grota, parte interna do Alemão. Após uma incursão policial, duas pessoas acabaram ficando baleadas durante a troca de tiros.

Conhecido como Luan e “Babuíno” os dois jovens foram levados às pressas para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Ao anoitecer, por volta das 21h, os moradores mais uma vez se viam sitiados na entrada da comunidade. Uma intensa troca de tiros deu inicio na parte alta do Alemão, fazendo os moradores terem que aguardar na parte de entrada, os tiros cessarem. Logo a notícia de baleados circulavam pelas redes sociais.

“Tem dois policiais baleados aqui em cima, ainda está dando muitos tiros…” relatava uma moradora via áudio pelo Whatsapp do Jornal Voz da Comunidade. A informação era sobre os policiais Santana e Feitosa, ambos baleados e socorridos para o HGV. Santana foi atingido por um tiro no braço, sem gravidade. Já o Feitosa, foi alvejado de raspão na cabeça, também sem gravidade. Com a intensa troca de tiros próxima a base da Upp Nova Brasília e também bem ao lado de uma delegacia de polícia, o reforço policial foi acionado e em questões de minutos, dois carros blindados e homens do CORE (corregedoria de recursos especiais) foram acionados. A troca de tiros seguia mais violenta, com balas traçantes cortando o céu do Alemão. Foram três dias de intenso tiroteio no Alemão, resultando em operações militares com sete pessoas baleadas.

Entre os atingidos, dois PMs, um jovem de 14 anos, uma senhora de idade e outros três jovens, que foram mortos. As trocas de tiros simultaneamente em diversas partes do Alemão causaram pânico nos moradores e comerciantes da região que tiveram que se abrigar e fechar suas lojas por conta dos disparos. Os confrontos começaram logo pela manhã de quinta feira (15), quando dois jovens foram baleados e mortos durante troca de tiros no interior da comunidade da Grota, parte de entrada do Alemão. Renan Alves de Almeida, de 19 anos e Luan Martins, também de 19, foram baleados e mortos após a troca de tiros. Ambos chegaram a ser socorrido para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiram aos ferimentos. Ao anoitecer da mesma quinta feira (15), mais uma troca de tiros deu início. Pelo Whatsapp do Jornal Voz da Comunidade moradores da Alvorada, parte alta do Alemão, mandaram áudios das sequências dos disparos feitos nas comunidades. Em um dos áudios enviados, moradores gritavam por socorro, informando que os disparos vinham do Largo do Coqueiro.

O largo é o ponto onde existe uma base de Polícia Pacificadora (UPP-Nova Brasília) e uma delegacia de Polícia (45ªDP), além de uma estação do teleférico. Segundo informações, a estação onde funciona uma delegacia, foi atacada. Marcas de tiros ficaram cravadas nas paredes do teleférico e da delegacia. Além de bares, lojas e casas que são vizinhas à base e à delegacia. Com tudo isso, o mês de setembro se tornou o mês mais violento deste ano, tendo o maior número de pessoas feridas e mortas antes mesmo do mês terminar. A hashtag #GuerranoAlemão foi levantada pelo Voz da Comunidade nas redes sociais e chegou a ficar nos Trends Topics do Twitter, como o assunto mais comentado do Brasil. Os moradores ainda seguem no clima de tensão com a esperança de viverem dias melhores.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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