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O lado doce do Alemão

Do complexo de favelas saem os quitutes servidos nos hotéis cinco-estrelas da orla
Do complexo de favelas saem os quitutes servidos nos hotéis cinco-estrelas da orla

A seleção é digna das melhores pastelarias portuguesas. São pedaços de toucinho do céu, pastéis de nata leves e cremosos, queijadinhas típicas da vila de Sintra. Tudo servido aos hóspedes do cinco-estrelas Marriot, em Copacabana, durante o café da manhã. O mesmo ocorre no desjejum do Marina All Suites, Tulip Inn e Ipanema Plaza. Engana-se quem imagina, no entanto, que tais quitutes sejam produzidos na cozinha desses hotéis. Os doces, além de pães e bolos que completam o repasto, são feitos numa pequena fábrica no Complexo do Alemão, a Arte Conventual, criada em 2012 por ex-funcionários da rede Pestana, os portugueses Luis Santos e Rodrigo Castelão, e pelo paraense Adaílton Fonseca. “Notamos uma tendência de terceirização dos setores de confeitaria e padaria no ramo hoteleiro e resolvemos aproveitar esse filão”, conta Fonseca, que trouxe das pousadas de Portugal, onde trabalhou, as receitas e os segredos da doçaria conventual.

A escolha do imóvel na Travessa Guadalajara, um lugar inacessível até a pacificação, no fim de 2011, por causa das barragens feitas pelo tráfico, não foi por acaso. “O custo de instalação era muito menor que na Zona Sul. Mas logo percebemos o componente social. Ensinamos uma profissão aos moradores, que ainda têm melhor qualidade de vida por estar trabalhando perto de casa”, explica Santos. Atualmente, a equipe é formada por onze funcionários, todos da favela, que se revezam em três turnos: para conseguir atender a todos os pedidos, a linha de produção entra em ação às 7 horas da manhã e só encerra as atividades às 2h30 da madrugada. A mais recente encomenda foi feita pelo chef Thomas Troisgros, que usará o pão de batata-doce produzido no Alemão para emoldurar os hambúrgueres do novo empreendimento da família, a Reserva TT Burger, no Arpoador.

Com o sucesso da empreitada, a fábrica, que tem apenas 50 metros quadrados, começou a ficar apertada. Por isso, até o fim de setembro ela será deslocada para outro imóvel, oito vezes maior, no Rio Comprido. Com esse investimento, os sócios pretendem dobrar a produção, que hoje gira em torno de 40 000 doces por semana. O trio ainda tem planos de abrir um quiosque na Zona Sul até o fim do ano. As atividades no endereço original, contudo, não serão encerradas. A sede continuará funcionando como centro de capacitação profissional. Tudo para que o complexo de favelas não perca seu lado mais doce.

Via: http://vejario.abril.com.br

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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