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Morador do Alemão cria primeiro portal paralímpico do país

“A gente colhe o que planta; eu planto o bem” Nataniel criou um site paralímpico, visando à inclusão de atletas deficientes na sociedade

Nascido e criado no Complexo do Alemão, Nataniel Souza, de 24 anos, sempre teve amor pelo esporte, mas acabou optando por uma faculdade de jornalismo. Atualmente ele estuda na Unisuam de Bonsucesso e está no sétimo período. Aproveitando o trabalho de uma disciplina, criou um site chamado Portal Noticiário Paralímpico e ganhou o prêmio Cidadão Socialmente Responsável, oferecido por sua faculdade.

O morador da Alvorada contou em uma entrevista para o jornal Voz da Comunidade como foi sua trajetória. Nataniel estudou em colégios públicos e trabalha desde seus 16 anos. Para ele é desafiante ser morador do Complexo: “nunca fui de ficar na rua, sempre que acontecia tiroteio estava dentro de casa ou trabalhando”. Para ele, há alguns anos a situação na favela era pior: “víamos muitos drogados nas ruas, hoje já não se vê, isso já é um avanço”. Mas para o jovem a realidade de quem mora em comunidade é complicada e apenas os moradores sabem de fato como é. Porém, ele garante que gosta do lugar em que nasceu e no qual conquistou muitos amigos.

Mesmo com as dificuldades, conta que nunca se sentiu prejudicado por morar na comunidade: “não é por ser morador de favela que sou inferior a alguém”. Nataniel mora com a mãe, dona Irene Rosa, e um irmão. Os dois sempre apoiaram o jovem em suas escolhas. “Eu acredito que a gente colhe o que planta, se eu plantar o bem na terra, irei colher o bem”.

O jovem fez o ensino médio no colégio Amaro Cavalcante, no Largo do Machado, zona sul do Rio. Ele revelou que sentiu uma grande diferença no ensino e nos cuidados da escola: “para uma instituição da zona sul, mesmo sendo pública também, os olhares são diferentes”.

“Gostava das disciplinas de História e Educação Física, sempre fui apaixonado por esportes”. Ele não foi um aluno com as melhores notas, mas após ganhar uma bolsa de estudos na Unisuam,  resolveu se esforçar ao máximo nos estudos.

Quando iniciou a faculdade, colocou na cabeça que não queria ser apenas mais um e faria a diferença. E disse que em todos os lugares ele é dessa forma, quer se destacar positivamente: “não é questão de ego, é o meu jeito, quero estar na frente”. Para se destacar, ele acredita que precisa ser ótimo, bom é pouco.

Sobre o fato de ser cristão, ele percebe que quando algum seguidor dessa religião faz algo que não dá muito certo as pessoas falam: “está vendo, ele é crente… errou porque é crente”. Também por causa disso, Nataniel procura fazer tudo sempre da forma mais correta.

A criação do Portal Paralímpico foi parte das atividades da matéria Projeto Experimental, na qual ele teve a ajuda de duas amigas para desenvolver um site, Nathália Moura e Viviani Guimarães. Elas foram importantes para a execução. A ideia surgiu por sua paixão pelo esporte: inicialmente queria falar sobre Olimpíadas, mas segundo ele, existiam diversos portais falando sobre este assunto, e Nataniel gosta de ter um diferencial. “Pensei: se eu criar um portal falando disso, vai ser apenas mais um, aí criei o portal sobre Paralimpíadas”.

(Foto: Renato Moura/Jornal Voz da comunidade)
Ele viu um gancho na proximidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Anteriormente, havia buscado informações sobre o assunto e não tinha encontrado. Percebeu o quanto o assunto era pouco falado, e encontrou dificuldades para montar o produto, pois não conseguia conteúdo. Ainda assim, foi atrás, entrevistou atletas, buscou notícias a respeito e deu vida ao Portal Noticiário Paralímpico. (Clique aqui para acessar o site)

Nataniel batalha para conseguir cobrir os Jogos Paralímpicos do Rio no ano que vem, já que seu portal é o único específico no Brasil que cobre essa modalidade. Os principais portais de esporte do Brasil falam dos atletas paralímpicos, porém isso acontece raramente e só falam dos atletas mais conhecidos.

Após cinco meses de portal, o jovem conta com a colaboração de oito pessoas: alunos e uma atleta paralímpica e também estudante de jornalismo, Taiana Lopes. “Ela se surpreendeu com a minha ideia e hoje é fundamental para o portal”. O jovem contou que o site ainda não é rentável, pois não conseguiu patrocínio.

A mídia é uma ferramenta fundamental para a inclusão das pessoas com deficiências na sociedade. O site fala de atletas, mas seu principal objetivo é mostrar que as pessoas com deficiências são tão ou mais capazes que qualquer outra pessoa. E o preconceito no nosso país infelizmente ainda é muito grande. “Quero, com o site, ajudar na inserção deles a sociedade”, sonha Nataniel.

Com um olhar especial o jovem afirma: “São pessoas que estudam, trabalham, praticam esportes e não são reconhecidas, a divulgação é quase nenhuma”. Ele pretende atrair visibilidade para esses atletas: “O que eu quero é que a população veja, através do esporte, o quanto eles lutam e superam os obstáculos”. Atualmente os atletas paralímpicos brasileiros têm mais medalhas que os olímpicos.

“Em Londres, um canal teve a maior audiência da história com o enceramento das Paralimpíadas e depois disso, a visão acerca das pessoas com deficiência em Londres foi outra. É isso que eu espero que aconteça aqui”.

O prêmio Cidadão Socialmente Responsável, oferecido pela Unisuam em novembro, foi para ele um dos maiores reconhecimentos que poderia ter. “É o sinal de que estou indo pelo caminho certo, quero que mais pessoas possam ver o meu trabalho e se inspirem de alguma forma”. Vale destacar que o jovem será o primeiro homem a se formar em sua família.

prêmio Cidadão Socialmente Responsável - (Foto: Renato Moura/Jornal Voz da comunidade)
prêmio Cidadão Socialmente Responsável – (Foto: Renato Moura/Jornal Voz da comunidade)

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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