Gari Comunitário: Após 9 anos sem contratações, é impossível prever o futuro do projeto

Onze favelas e cinco mil becos são atendidos pelo grupo

Os Garis Comunitários fazem parte de um projeto conjunto da Comlurb com a Associação de Moradores do Complexo, que atua em 11 favelas há mais de 25 anos e são os responsáveis pela manutenção da limpeza no interior da comunidade. No Alemão, a equipe liderada por João Carlos, já há 20 anos, tem feito a diferença não só na limpeza, mas também no auxílio aos moradores.

Os 46 garis formam um grupo que trabalha junto há pelo menos 9 anos, quando por decisão da justiça, tornou-se ilegal demitir ou contratar novos funcionários para exercer a profissão. João lembra que no início havia mais de 2.500 garis comunitários e ao longo do tempo esse projeto foi sendo esquecido.

A função do Gari Comunitário é a varredura das ruas e limpeza das valas, mas uma comunidade limpa é função de todos. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

A Função do Gari Comunitário

O Gari Comunitário trabalha de segunda a sábado, realizando a varredura das ruas principais em 11 comunidades do Complexo do Alemão, sendo que nas quartas-feira ocorre o mutirão de limpeza das valas, além disso, em situações de catástrofes naturais, eles também são acionados para recolher o lixo, entulho, podar árvores entre outras funções. 

Como o contingente de trabalhadores tem diminuído ao longo dos anos, existe a necessidade de escolher os locais de atuação pela demanda.

Os Garis Comunitários conhecem como ninguém o interior da favela e seus costumes, não só trabalham, também moram nela. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

“O povo precisa reconhecer a necessidade do nosso trabalho e também, seria ótimo se não jogassem lixo na vala e deixar o lixo na calçada somente quando o caminhão for passar, já que passa de três a quatro vezes ao dia pela comunidade.” Pede João Carlos, ao dizer que essas atitudes podem ajudar a manter a favela limpa.

Relacionamento com a comunidade

Todos os Garis residem no Alemão e, por isso, tem uma relação mais direto com os moradores, além de conhecerem como ninguém os becos e vielas. Não só cuidam da limpeza, mas também procuram ajudar as pessoas em situações atípicas, causadas muitas vezes pela precariedade dos serviços públicos como saneamento básico e contenção de encostas.

Dessa  forma, são contactados em casos de emergências, como conta João Carlos: “Por eu ter um vínculo com a Defesa Civil, com o Corpo de Bombeiros, com Voz das Comunidades e estar há mais de 20 anos trabalhando com a Associação de Moradores, nós temos maior facilidade de atender o morador.”

Após 9 anos sem contratações é difícil planejar como serão os próximos anos do projeto. Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

O Futuro do Gari Comunitário

O Futuro do Projeto é incerto, desde 2010, quando houve uma demissão em massa de profissionais. A partir de então acumularam-se 9 anos sem novas contratações. O trabalho braçal e o efetivo pequeno, de apenas 46 garis, não é suficiente para realizar a manutenção da limpeza de todo o Complexo.

Onze favelas e cinco mil becos são atendidos pelo grupo, liderado por João Carlos, há 20 anos. Com o passar do tempo, os garis foram envelhecendo e alguns até se aposentaram, mas como não há possibilidade de reposição do efetivo continuam trabalhando, com serviços menos pesados.  

Senhor Amauri de Souza, 57 anos, 11 anos como Gari Comunitário diz que “O Gari Comunitário ajuda muito a comunidade.” Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

Que diferença faz o Gari Comunitário

O principal benefício do programa são os garis serem residentes do Alemão, diferente dos Garis da Comlurb, que podem vir de qualquer parte da cidade.

O senhor Amauri de Souza é Gari Comunitário há 11 anos, e contou que foi indicado para a vaga por seu profissionalismo nos outros empregos.

 “Seria muito ruim se o projeto acabasse, por que nós já estamos no ritmo do trabalho, tudo que tem que ser feito, nós que somos garis comunitários que tomamos a iniciativa. O gari comunitário ajuda muito a comunidade.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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