Chegar à casa da família de Vitinho, no Complexo do Alemão, não é fácil. É preciso subir uma rua que vai se afunilando a cada metro percorrido, passar por uma bifurcação e, por fim, entrar em uma das milhares de vielas que compõem o conjunto de favelas do subúrbio carioca. Uma distância que nem se aproxima do que o meia-atacante do Botafogo já percorreu para alcançar o sonho de marcar um gol no Engenhão.
Nos tempos de Audax, com apenas 13 anos, ele já se submetia a uma longa jornada para treinar. Dois meios de transporte e uma caminhada de 30 minutos para ir e voltar faziam parte de sua rotina.
— Ele pegava uma Kombi que o levava até a praça de Inhaúma. Depois, pegava um ônibus até a estação (de trem) da Pavuna. De lá, ia andando até o Audax, em São João de Meriti — resume o pai, Rinaldo, que, ao refletir sobre as dificuldades superadas pelo filho, logo exibe um sorriso no rosto:
— As coisas vão melhorar bastante para ele.
Na verdade, já estão melhorando. Um dos sonhos de Vitinho (tirar o pai do Alemão) está perto de se tornar realidade. Ele está alugando um apartamento em Pilares, na Zona Norte, onde irá morar com Rinaldo, o irmão Vagner, de 9 anos; a noiva Thayanne, com quem mora atualmente em Del Castilho; e a filha Manuela, há oito meses na barriga da mãe.
— Ele está com o pé no chão. Quer fazer tudo passo a passo — diz Rinaldo.
O passo a passo de Vitinho foi de idas e voltas, mas parece finalmente estar deslanchado. Ele começou no futsal do Melo Tênis Clube, da Vila da Penha. Lá, atuou ao lado dos tricolores Wellington Silva e Rafinha.
A transição para o campo ocorreu aos 11 anos, quando entrou em uma filial do supermercado Sendas e se inscreveu na peneira do time de mesmo nome. Mas o início não foi fácil. Sempre que o caveirão (carro blindado da Polícia Militar, temido pelos moradores) invadia a favela, Vitinho, que morava perto de onde hoje fica estação do teleférico do Itararé, chegava atrasado.
— Ele sempre foi um atleta que dividiu muito com a gente o que se passava com ele. E já aconteceu algumas vezes de pedir para ficar por aqui e dormir no alojamento porque a polícia havia invadido a favela — contou Michel Cravo, coordenador geral do Audax Rio, primeiro time de Vitinho.
Em seguida, vieram os problemas de comportamento. Vitinho tinha dificuldades de marcar. Na verdade, achava que, por ser atacante, não precisava se preocupar com isso.
— Tinha qualidade indiscutível, mas era um jogador preguiçoso. Não gostava de voltar para marcar. Precisou de muitas orientações — contou Sílvio Marques, seu técnico no juvenil do Audax.
Descoberto pelo Botafogo após a semifinal do Carioca da categoria em 2010, disputada contra o próprio Audax, Vitinho foi parar em Marechal Hermes. Manteve o talento. Mas também o comportamento. Tanto que, no ano passado, quando subiu para os profissionais pela primeira vez, acabou voltando para os juniores.
O ano de 2013 surgiu em sua vida como um marco. Filha à caminho, mudança no comportamento e o tão sonhado primeiro gol. Para a alegria da torcida, que pôde comemorar a classificação para a final da Taça Guanabara, e de seu avô João dos Santos, único alvinegro da família, que chorou ao ver, pela TV, o auge do neto.
— Eu me emocionei com o gol. Foi o primeiro. E ele vai longe.
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Via: http://extra.globo.com/esporte/botafogo/do-complexo-do-alemao-ao-gol-no-classico-trajetoria-de-vitinho-um-dos-jovens-destaques-do-botafogo-7743187.html#ixzz2Mg15eIjH