Entre notícias de feridos, mortos e as incessantes trocas de tiros, a vida dos moradores de um dos maiores conjuntos de favelas do Brasil ganhou uma nova rotina. Comunicar diariamente os acontecimentos que ocorrem no dia a dia em uma comunidade, virou parte desta rotina dos moradores do Alemão. Usando ferramentas como aplicativos de mensagens instantâneas e até mesmo seus próprios perfis do Facebook, os moradores relatam a rotina de sofrimento e dor que vivem, em uma comunidade pacificada do Rio de Janeiro.
O mês de agosto já se iniciava aumentando as estatísticas de mortos e feridos no território. Logo no dia 03 de agosto, quatro pessoas foram baleadas durante uma intensa troca de tiros que ocorria durante uma operação no Alemão. Troca de tiros essa que já vinha de dias anteriores, sem recesso. Os moradores pelas redes sociais relataram dias antes, a intensa troca de tiros. “Muitos tiros aqui na Alvorada…” contava uma moradora pelo Facebook. “Meu Deus, onde vamos parar? Muitos tiros” Relata outra moradora comentando a postagem da vizinha.
assim seguia a rotina dos moradores do Alemão: Noticiando. Relatando o que se passava pela comunidade onde moravam. No dia 03 foram quatro baleados e rapidamente fotos, vídeos e áudios do tiroteio circulavam pelas redes dos mais de 180 mil moradores do Alemão. Uma mega operação da Polícia Civil foi deflagrada para cumprir 30 mandados de prisão no Alemão. A operação organizada pelo delegado de Polícia Felipe Curi resultou em mortos, baleados e presos. Um dos baleados foi o próprio delegado de polícia. Felipe entrava em um dos acessos a comunidade quando uma intensa troca de tiros teve início. O delegado foi atingido por dois tiros e levado para o hospital Getúlio Vargas, na Penha. Já em seguida, dois suspeitos foram baleados e mortos pelos agentes no confronto.
Logo no início da operação, nossa equipe recebeu através do Whatsapp do Jornal Voz da Comunidade, fotos e vídeos das casas reviradas que, segundo informações dos moradores, teriam sido reviradas pelos agentes. Uma das residências teve suas portas arrombadas e todos os móveis jogados ao chão. Foram diversas fotografias enviadas pelos moradores que mostram uma verdadeira cena de terror, vividas por eles.
“Quebraram a janela da minha porta e da minha sala, jogaram tudo no chão. Agora me diz, pra que isso? Sou trabalhadora e pago minhas contas em dia e não mereço isso…” Contou uma das moradoras da Comunidade do Areal que teve sua casa invadida pelos militares. Foram cerca de 40 pessoas atingidas somente este ano em algumas favelas do Alemão. É somar a cada 5 dias uma pessoa atingida por um tiro, vindo a falecer ou não. No ano passado, os dados contabilizaram exatamente 63 atingidos entre policiais, bandidos e moradores. Dados que bateram o recorde de atingidos, levando em consideração o ano de 2014, um dos mais violentos.
Mesmo com um forte aparato militar assegurando os territórios olímpicos, o que reinava era a falsa sensação de segurança nas comunidades cariocas. Com intensas trocas de tiros diariamente, notícias de feridos e mortos, os moradores da região se sentiam inseguros, mesmo presenciando todos os reforços da segurança em algumas áreas do Rio. E com isso a rotina dos moradores do alemão muda, passando de apenas pessoas comuns com seus afazeres e tarefas, para pessoas comunicadoras e sobreviventes, de uma guerra incessante que não sabemos quando terá fim.
Moradores viveram momentos de caos e terror durante todo dia de quinta feira (15) no Complexo do Alemão. Tudo por conta da intensa troca de tiros, já iniciada na parte da tarde. A troca de tiros teve início por volta das 16h na comunidade da Grota, parte interna do Alemão. Após uma incursão policial, duas pessoas acabaram ficando baleadas durante a troca de tiros. Conhecido com Luane “Babuíno” os dois jovens foram levados as pressas para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha e ainda não sabemos os estados de saúde de ambos. A comunidade ainda seguia violenta com notícias de intensas troca de tiros pela região.
TUDO AO VIVO
Nossa equipe acompanhou em tempo real, ao vivo pelo Facebook do Jornal, os momentos de tensão vividos pelos moradores que chegavam na comunidade do trabalho. Vias de acesso ao Alemão foram interrompidas e muitos moradores desembarcaram próxima a região e retornaram a pé para suas casas. Nossa equipe de reportagem entrevistou os moradores que aguardavam na parte de entrada da comunidade da Grota e ouviu suas reclamações sobre a atual situação em que vivem os moradores do Complexo do Alemão.
“É duro sair do trabalho e não saber se podemos entrar e chegar vivos em nossas casas. Saio de casa pra trabalhar e não sei se chegarei viva, isso é triste…” contou uma moradora que preferiu não se identificar.
TENSÃO
Enquanto transmitia o clima ao vivo pela página oficial do Jornal Voz da Comunidade, o repórter Betinho Casas Novas, registrou imagens tensas do carro blindado entrando na comunidade e também do forte aparato militar que estava na região. Além disso, registou a intensa troca de tiros e imagens dos moradores aguardando do lado de fora da comunidade. As imagens foram assistidas por mais de 40 mil pessoas após a transmissão.