Alemão receberá 2,200 militares da polícia a partir de Março

Comando da Pacificação será fincado no Alemão

Sede do CPP, que ficaria onde está o Bope, vai ser instalado em fábrica usada pelo Exército

POR FLAVIO ARAÚJO

Rio –  Na antiga fábrica de refrigerantes que serve de quartel para a Força de Pacificação nos complexos do Alemão e da Penha vai ser ocupada pela Polícia Militar, a partir de junho, quando o Exército retirar seus últimos militares, e o patrulhamento nos dois conjuntos de favelas passar para os 2,2 mil homens da PM em nove bases de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

“Vamos colocar o CPP (Comando de Polícia Pacificadora) lá, além de mais unidades da PM, que ainda estamos definindo quais são”, adiantou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. A ideia era que o CPP funcionasse na atual sede do Bope, em Laranjeiras, na Zona Sul, mas os planos mudaram. “Precisamos aproveitar aquele espaço no Alemão, que tem infraestrutura montada e que ficará com o estado”.

Na atual sede do Bope, que fica na comunidade Tavares Bastos, a Secretaria de Segurança pretende criar a Escola Nacional de Polícia Pacificadora, que vai passar a experiência do Rio para outros estados do País. A previsão é de que o Bope vá para antigo quartel do 24º BIB, em Ramos, no segundo semestre.

Sentimentos distintos

Os sentimentos dos moradores no Complexo do Alemão, na Zona Norte, e na comunidade Tavares Bastos, em Laranjeiras, são contraditórios. Se na Leopoldina, o alívio é claro, na vizinhança do Bope, beira a revolta.

“Se o Bope não estivesse aqui há 11 anos, não tenho certeza se eu e muitos dos meus amigos estaríamos vivos. Poderíamos ter levado uma bala perdida. Nós somos a primeira comunidade pacificada do Rio”, diz o produtor cultural Sérgio Luiz da Costa, 44.

A preocupação vai além da segurança pública. “O Bope não pode sair, faço minha ginástica lá”, queixa-se dona-de-casa Hilsa Sardinha, 66. “Meu filho tem jiu-jitsu com os caveiras, como vai ficar?” questiona Antônio dos Santos, 41.

No Alemão, moradores respiram aliviados com a presença da polícia após a saída dos militares do Exército.

“Já vi gente ir para o micro-ondas do tráfico. Hoje a realidade é outra”, conta o comerciante Luiz Esteves, 60.

“Fui pai mês passado e tenho certeza que meu filho vai viver uma nova realidade”, vislumbra o autônomo Nélson Oliveira, 43.

Cerca de 2,2 mil policiais vão ocupar espaço hoje usado pelo Exército

Comandante da Força de Pacificação, o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva acha a ocupação do quartel positiva. “Estamos prontos para passar a missão para a Polícia Militar. É fundamental que o Estado ocupe aqui e as outras bases nossas nos complexos”, avaliou o oficial. A troca da tropa verde-oliva pela azul da Polícia Militar começa mês que vem. Serão 500 PMs em março, 500 em abril, 500 em maio e 700 em junho.

No Complexo de favelas do Alemão, a sede da Força de Pacificação tem 20 mil m², 5.840 deles de área construída. As estruturas foram montadas pelo governo do estado do Rio nos mesmos moldes das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), em contêineres.

A fábrica da Rio de Janeiro Refrescos foi fechada em 2006 por conta da violência. A região também perdeu outros empreendimentos, como famosa fábrica de lingerie.

JORNAL O DIA: http://odia.ig.com.br/portal/rio/comando-da-pacificação-será-fincado-no-alemão-1.402876

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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