O teleférico do Complexo do Alemão foi inaugurado em 2011 pelo Governo do Rio de Janeiro, diferente do Teleférico da Providência, do qual a Prefeitura do Município se responsabiliza. Com a promessa de habitar lugares pouco movimentados e muito afastados da pista, contava com linha única e seis estações atendendo 4 favelas do CPX: Adeus, Alemão, Baiana e Palmeiras, além de ter integração com os trens da SuperVia.
Em 2016 houve a paralisação temporária do transporte por conta do desgaste de um dos cabos de tração, item que é comprado e negociado com uma empresa francesa chamada Poma. Isso ocorreu após o fim do contrato com a SuperVia, onde seria repassado para a empresa Consórcio Rio Teleféricos. Quando o anúncio da suspensão do transporte foi feito, o Consórcio alegou que o Governo teria suspendido durante meses as verbas para a manutenção do Teleférico.
Desde então, há quase 9 anos, os moradores das comunidades sofrem por não terem mais meios públicos para subirem os morros em que moram. Conversamos com duas moradoras do Morro do Alemão, Elaine Pacheco da Central e Glória Alves Biserra do Morro das Palmeiras. Ao serem questionadas sobre o sentimento que esse atraso causa, Elaine nos respondeu. “Nessa altura da situação eu me sinto uma palhaça, porque entra ano e sai ano e são essas mesmas promessas…”, e Glória continuou com a indignação. “Acho que esse elefante branco será usado por todos os políticos em todas as eleições. Se tivessem que fazer algo, já teriam feito. O que chamam de obras foi maquiagem, história da ‘carochinha’.
O artigo escrito pelos professores de estudos sociais da UERJ Mariana Cavalcanti e Marcos Campos, chamado “A Fantástica Obra da Paz: o Teleférico do Alemão e a Produção de Infraestrutura Urbana no Rio de Janeiro” defende, em síntese, que o modelo usado no Complexo do Alemão seria o mesmo usado em Medellin. “Na Colômbia, como no Rio, o anúncio das obras era acompanhado por um considerável trabalho simbólico e publicização grandiosa dos esforços de ressignificação de certos espaços a serem por elas efetivadas. De áreas isoladas pela violência, passariam, a partir do investimento em equipamentos públicos como teleféricos e bibliotecas, a integrar roteiros oficiais da cidade.” Porém não é só do território da Zona Norte que esse conceito se aplica, também funciona para o Teleférico da Providência.
Após oito anos paralisado, a Prefeitura de Eduardo Paes conseguiu retomar as obras para a reativação do Teleférico. Em 2016 o mesmo foi parado pois a Prefeitura da gestão seguinte não renovou contrato, de acordo com a empresa CCPar, responsável pelo transporte. A estrutura conta com 3 estações e 16 gôndolas que atendem cerca de mil pessoas por lado, levando 3 minutos para que a população saia da Gamboa e acesse a Central. Atualmente, de acordo com a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos, o teleférico da Providência precisou pausar e está inoperante desde o dia 20 de janeiro. Mas deve voltar em 20 dias.
Conforme a ideia de transformar territórios avança, leva junto dela a promessa de mudança na vida da população. Porém se uma parte desse sistema não funcionar, gerará a consequência da segunda parte também não funcionar; ou seja, se o ponto principal está paralisado, a vida dos que dependem daquilo também será paralisada. Então se torna de extrema importância analisar o motivo por trás do funcionamento de ambos os Teleféricos: um deles presente na Zona Central da cidade, que está sofrendo com grande gentrificação (Processo que expulsa os moradores locais por conta da supervalorização do território) e aberturas turísticas. Do outro lado, o transporte se insere em um local da Zona Norte, que mesmo com potencial apelo turístico, ainda está inserido em um território popularmente entendido como “perigoso demais”.
Ao entrar em contato com a Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas do Governo, eles informaram que o novo prazo para a entrega do teleférico indica ser até o final do ano de 2025, reitera também que o atraso aconteceu por conta da compra dos cabos de aço. Que os mesmos foram comprados por meio de uma carta de crédito internacional no início de Novembro de 2024.
“A primeira remessa dos equipamentos importados, fornecidos pela empresa francesa Poma, chega ao Brasil no primeiro trimestre”.“A pasta informa ainda que as obras de recuperação das estações estão na reta final.” Essas são respostas que abrem margem para uma grande dúvida por parte da população residente do local, pois em outras edições do Jornal, como a de Agosto de 2024, o Voz das Comunidades entrou em contato com a Secretaria e as informações obtidas não apresentavam futuros promissores para a situação.
Além de prejudicar a funcionalidade dos trajetos dos moradores, também acrescentam dificuldades na vida, já que para atingir os picos mais altos dos morros é preciso pegar o mototáxi ou veículos como kombi, que geram grandes saldos negativos para a vida financeira e para a saúde da população; tendo em vista que o teleférico era gratuito para cidadãos do Complexo do Alemão e mais seguro também.
“Sem contar com o gasto que eu tenho de mais de R$120,00 por mês com kombi ou moto para subir o morro. Um dinheiro que eu poderia fazer outra coisa se o teleférico estivesse funcionando”, conta a moradora Elaine.
As grandes promessas da volta do funcionamento do Teleférico refletem a falta de compromisso e de respostas úteis e ágeis à população do CPX que sofre com o descaso e com a insegurança de não ter o seu direito de ir e vir garantido. O povo aguarda que o que lhes foi dito em 2016 se cumpra e que a entrega se torne realidade, retomando também com a dignidade e qualidade de vida de todos os moradores.