Foram 3.200 crianças e adolescentes que passaram peloBallet Manguinhos de 2012 até 2020. Para além do balé clássico, a ONG (Organização Não Governamental) também oferece aulas de outras modalidades de dança, além do projeto circense e boxe, no programa “Respeita as Minas”. Atualmente, são 410 alunos, sendo 409 meninas e 1 menino, abraçados pela instituição que, não só oferece cursos, como também tem como objetivo a transformação social e o impacto positivo vida desses jovens. Sem patrocínio, o Ballet Manguinhos, localizado em Manguinhos, Zona Norte do Rio, luta para manter as contas pagas e continuar a atender a comunidade de forma gratuita.
História e superações
Tudo começou em 2012, quando Daiana Ferreira deu início às aulas de balé gratuitas em uma igreja de Manguinhos, favela onde morava. Esperando receber cerca de 20 crianças, a fundadora recebeu 80. Infelizmente, Daiana faleceu em 2021, aos 32 anos, em decorrência da Covid-19. Ela era bailarina, professora e coreógrafa e, por ter feito parte de projetos sociais, decidiu a partir disso também oferecer oportunidades às crianças de sua área.
Com o grande número de crianças, as aulas mudaram para a Biblioteca Parque de Manguinhos, que fechou em 2016. Mas, mesmo assim, a fundadora lutou para continuar com os projetos lá, já que eram 150 alunas. Nessa ocupação que aconteceu na Biblioteca Parque, o Ballet Manguinhos foi procurado por um jornalista do jornal estadunidense The New York Times, Ernesto Londoño.
A matéria, publicada em 2018, chegou até Peter Tower, da instituição The Secular Society (TSS), que é um patrocinador global de impacto social e escolheu o Ballet Manguinhos para impulsionar. Além deste projeto, o outro único projeto brasileiro que a TSS patrocinou foi o Onçafari, que trabalha pela preservação da biodiversidade em diversos biomas brasileiros, com ênfase em onças-pintadas e lobos-guarás.
Com a chegada deste novo patrocinador, surgiu um novo desafio: o idioma. Daiana não falava inglês mas pediu para sua amiga de infância, Carine Lopes, para que ajudasse com a papelada. Tiveram a ajuda de uma intérprete, Bruna Guadagnini, que é voluntária. Negócio fechado! Conseguiram, em 2020, comprar o prédio em que estão até hoje, o que foi a grande conquista. Carine virou a então vice-presidente do Ballet Manguinhos; hoje é a atual presidente.
O TSS tem como objetivo patrocinar durante 3 anos os projetos, para impulsionar, e, assim, pode ajudar outros. Completados os 3 anos, Daiana faleceu e, por isso, a instituição estadunidense permaneceu por mais 1 ano com o Ballet, totalizando 4, por entender que a situação era emergencial. Desde julho deste ano não há patrocinadores que a ajudem a manter todas as contas pagas, como luz, água e salários de funcionários, cujo quadro fixo teve de ser reduzido; 15 no total. Sendo que nenhum é voluntário.
Idarrah Corrêa, vice-presidente do Ballet Manguinhos e irmã de Daiana, reflete sobre a importância do impacto que o Ballet Manguinhos tem na favela. “Nossas alunas vão prestar prova para DRT e poderão ser professoras de baby class. A ideia é que sejam nossas estagiárias, até porque é difícil achar profissionais que queiram dar aula na favela e que queiram vir para uma ‘área de risco’. É sobre os próprios talentos desenvolvidos desenvolverem outros”, ressalta.
“Vemos a mudança na vida da criança e do familiar ou responsável. Nós educamos e preparamos para a vida. Nosso objetivo é trazer representatividade e, a partir disso, ter sonhos e realizar eles. Quebrar a roda, porque não é só um balé, é uma estrutura de transformação social”, pontua Idarrah sobre o propósito na favela de Manguinhos. Ela ressalta ainda a importância de discutir assuntos como identidade racial de mulheres negras.
O Ballet Manguinhos passou para Secretaria de Fazenda e Planejamento do Rio de Janeiro (ISS) e para Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas ainda não conseguiu captar recursos. A Lei Rouanet, dificultada pelo atual governo federal, também não tem sido uma opção. No momento, há o programa “Adote uma Bailarina” para que pessoas interessadas em ajudar possam assinar planos mensais.
No momento, o único programa que tem patrocínio é o “Respeita as Minas”, em parceria com a Centauro. São oferecidas aulas de boxe para as meninas de Manguinhos, além de rodas e palestras sobre empoderamento feminino. Mas, a verba do patrocínio não é direcionada para nada além do programa.
Com a palavra, uma das alunas mais antigas
Anna Júlia Martins da Silva, de 15 anos, frequenta as aulas de balé desde os 6. Sobre o Ballet Manguinhos, ela diz “é importante porque tem pessoas importantes pra mim”. E continua. “Tive a oportunidade de conhecer outros lugares e pessoas. O projeto precisa continuar porque dentro da comunidade a gente não tem isso. Escolas de balé são pagas e não temos condição pra isso”, comenta a jovem.
Anna ainda contou que frequentar o espaço a fez melhor e ter mais responsabilidade. “Me sinto bem aqui, é um refúgio para mim”, finaliza.
Como ajudar? “Adote uma bailarina” e transforme sonhos em realidade
Com R$3 ao dia já é possível ajudar o Ballet Manguinhos. A proposta é que cada madrinha ou padrinho se torne o fio condutor para o início das trajetórias artísticas. Há três planos: R$ 90, R$ 180 e R$ 270 mensais. Também é possível doar apenas uma vez. O valor é revertido para a manutenção de aulas regulares, lanches, kits de uniformes e figurinos para espetáculos Aos interessados em colaborar com ese projeto que muda vidas, basta acessar o link a seguir (https://doa.re/BM).