Caras no Céu: crianças do Alemão e Vidigal recebem kit de tecnologia criativa

O kit contém tecnologias simples como baterias de relógios, LEDs e um conjunto de ferramentas e materiais criativos

No último dia 29 de agosto, o Pipas Labs, em parceria com o Voz das Comunidades e a Escola Vidigal, realizou a distribuição de 50 kits de tecnologia criativa. As instituições ofereceram de forma gratuita o material a crianças do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, e do Vidigal, na zona sul. O Kit Caras no Céu inclui todos os materiais e instruções necessárias para transformar uma pipa básica branca em um autorretrato iluminado que reflete a identidade de seu criador. O projeto é idealizado pela designer e tecnóloga Claudia Bernett.

O kit contém tecnologias simples como baterias de relógios, LEDs e um conjunto de ferramentas e materiais criativos, como canetinhas, cola, papel seda e tesoura. Inclui também um manual que guia os participantes através das etapas para criar o produto final, todas as fases com uma aula relacionada. Ana Luysa, de nove anos, foi uma das primeiras crianças do Vidigal a receber o kit, seu principal sentimento era a empolgação. “Eu nem sabia que tinha tanta coisa para aprender. Quero fazer a atividade logo para colocar minha pipa com LEDs enfeitando a parede do meu quarto, que não tem quase nada de decoração”.

Alegria das crianças

O avô de Ana, Luiz Ferreira, fala que atividades como a que está sendo proposta pelo Pipas Labs são importantes para manter as crianças ativas. “É muito bom, ocupa o tempo deles e também ensina”. Já Nicileide Soares, mãe de Isabela Felix, de sete anos, conta que tem se esforçado para ensinar os conteúdos à filha. “Tem sido difícil esse período de pandemia. Quando conseguimos desenvolver atividades como essas, mais lúdicas, é mais fácil para tirá-la do celular”. Isabela argumenta que, mesmo não tendo experiência com pipa, está ansiosa para fazer a sua. “Eu vou conseguir fazer e talvez até coloque no céu”, fala sorrindo.

Ana Luysa foi uma das primeira a receber o kit no Vidigal. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Rebecca Soares, de 10 anos, também não costuma soltar pipa, e fala sobre as dificuldades de estar longe de seus afazeres cotidianos. “A minha mãe trabalha o dia inteiro então, ela não consegue me ajudar muito nos exercícios. Sinto muita falta da escola e da escolinha (referindo-se à Escola Vidigal). Por isso, vou usar toda a minha criatividade para fazer minha pipa, a melhor que conseguir”.

Assim como Rebecca, Damiana Andrade, mãe do Pedro Lucas, de seis anos, fala sobre as dificuldades no período da pandemia de Covid-19. “Não tem sido fácil, direto em casa. A gente tenta distrair as crianças de todas as formas, brincar, fazer as atividades, por isso essas ações são importantes”. Pedro não empina pipa mas gosta de brincar com elas em casa. O Kit Caras no Céu terá bom uso em suas mãos pois quando ele enumera as coisas que mais gosta de fazer, a arte está entre elas. “Eu gosto de brincar, ver televisão e desenhar, amo desenhar!”

O kit Caras no Céu foi distribuído para 50 crianças. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Arte, educação e tecnologia

Os participantes da ação também receberam sabonete líquido e álcool em gel, oferecidos pela ONG Voz das Comunidades. Além disso, no caso das crianças do Vidigal, ganharam ainda uma apostila com atividades de alfabetização, arte digital e tecnologia, da Escola Vidigal, fundada pelo artista Vik Muniz.

Rebecca prometeu usar toda sua criatividade para personalizar sua pipa. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Elaine Alves, é coordenadora da Escola Vidigal e fala um pouco sobre o trabalho desenvolvido na instituição. “A escola existe há três anos e meio e estamos realizando atividades mesmo no período da pandemia. Mandamos conteúdo para os pais por WhatsApp, não paramos de acompanhar as crianças”. Elaine defende a importância de manter as crianças próximas ao projeto. “É fundamental que elas permaneçam vinculas à Escola e continuem se desenvolvendo. Para que o trabalho que vínhamos fazendo seja continuado, com arte e afetividade. Essa também foi uma oportunidade de fortalecer a parceria que temos com o Pipas Labs”.

Daisy Santos Soares, professora de alfabetização visual da Escola Vidigal, participou do desenvolvimento dos kits. “Colaborei com o conteúdo de história da arte. No material, as crianças vão encontrar conteúdos sobre autorretrato e colagem, por exemplo. O objetivo é concretizar um trabalho que já vem em andamento ao longo do ano em parceria com a Claudia Bernett, professora residente de tecnologia parceira da Escola”. A Escola Vidigal é um laboratório cultural que traz arte e tecnologia para as crianças de 4 a 11 anos do Vidigal, sendo essa parceria uma importante oportunidade para a persistência do que já haviam desenvolvendo. “Usamos a pipa como plataforma e o desenho como forma de fortalecer a identidade”.

Desenhar é uma das atividades preferidas de Pedro. Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Eder Ferreira é arte-educador do Pipas Labs, fundado por Claudia, e diz que a arte é uma forma de descobrimento. “A atividade do Pipas visa a arte, educação e tecnologia. Desenvolvemos atividades lúdicas e recreativas. Além de aprender sobre arte, as crianças também veem em algo simples, como saber o que é positivo e negativo em uma bateria, a oportunidade de serem eletricistas ou cientistas. Essa é a função da arte, se ligar com todas as outras funções da vida”.

Concurso

Cada participante está convidado a participar de um concurso. Três pipas do projeto Caras no Céu vão ganhar prêmios. Além disso, todos os participantes que quiserem, vão aparecer no Instagram do projeto. Depois dessa fase, será lançada uma série de desafios que combinam os materiais que sobrarem do kit com coisas cotidianas de casa para que as crianças possam continuar criando e aprendendo.

Caras no Céu é o primeiro de uma série de kits do Pipas Labs. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Com a chegada do coronavírus, o Pipas Labs procurou caminhos para atingir a população durante o isolamento. Caras no Céu é o primeiro de uma série de kits que o Pipas vai distribuir, cada um com um tema e uma atividade diferente. A intenção é que as populações mais vulneráveis do Brasil consigam continuar a desenvolver habilidades em tecnologia criativa. Para que, dessa forma, a voz dessas pessoas seja ouvida e que essa parte da sociedade tenha o poder de inventar um mundo novo com força e igualdade.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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