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Apenas 16% dos moradores do CPX nunca sofreram racismo, enquanto 74% não consideram um problema relevante no território

O crime de racismo foi equiparado ano passado ao de injúria racial, a pena pode chegar a prisão de dois a cinco anos com pagamento de multa
Entre os entrevistados, 51% se autodeclaram como pardos Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Apesar de ser crime, o racismo ainda passa despercebido para alguns moradores do Complexo do Alemão. Segundo pesquisa realizada pelo Voz das Comunidades, 74% dos entrevistados não consideram desigualdades raciais como algo relevante e grande parte dos entrevistados não consideram o tema ao escolher seus representantes políticos.

A pesquisa ouviu 56 moradores, dos quais 14 afirmam ter sofrido racismo e 33 já presenciaram algum caso; e esses dados também refletem a realidade nacional. Segundo pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), 9 em cada 10 pessoas já presenciaram atitudes racistas, as maiores vítimas são pessoas negras, seguidas por indígenas e pessoas africanas.

Raphael Machado, de 37 anos, conta que vivencia situações de racismo e, na tentativa de evitar que seu filho de 1 ano e 7 meses sofra as mesmas coisas, reforça  a autoestima da criança desde o berço. “Eu ensino que ele é lindo, falo isso todo dia”. Entretanto, casos como o de Raphael, não são maioria no CPX. Cerca de 83% dos entrevistados nunca discutem racismo com familiares ou amigos, revelando uma barreira no combate ao problema.

Fabiene Teixeira, de 49 anos, é mãe de uma adolescente que foi vítima de racismo. Ela conta que, após o ocorrido, recebeu um pedido de desculpas, mas não sentiu sinceridade. “Parecia apenas que era para amenizar o que passou”, comenta. 

16% das pessoas entrevistadas afirmam nunca ter sofrido ou presenciado racismo
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Para ela, é importante educar sua filha para resistir às ofensas, mas também para estar preparada para o inesperado: “Eu peço pra ela se impor e colocar quem a ofender no lugar”. Fabiene entende a importância de discussões sobre o tema e vê como essencial a penalização dos atos racistas. “Todo mundo precisa se sentir protegido”. 

O crime de racismo foi equiparado ano passado ao de  injúria racial. A pena pode chegar a prisão de dois a cinco anos com pagamento de multa. Além disso, os crimes são imprescritíveis, ou seja, não perdem o efeito legal mesmo com o passar do tempo.

Outro problema revelado pela pesquisa é a falta de engajamento político. Segundo os dados, há pouco interesse em pautas raciais nas eleições. Apenas 15% dos moradores consideram questões raciais ao votar e só 13% já participaram de eventos contra o racismo. 

A partir da análise dos dados, percebe-se que, mesmo conscientes, poucos se mobilizam na causa. Há poucas conversas com com amigos e parentes sobre o assunto e o racismo não é enxergado uma questão importante no território. Apesar disso, embora em número reduzido, algumas poucas pessoas estão engajadas nos debates raciais.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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