Fotos: Selma Souza / Voz das Comunidades
“Foi a ação mais emblemática que o Voz já fez. Onde a vulnerabilidade se destacou. O que mais ouvi dos moradores foi sobre o medo do Auxílio Emergencial acabar e não ter o que comer” ‐ Rene Silva
O forte calor com sensação térmica de 36° da manhã de hoje (19) não intimidou os 95 voluntários que participaram da ação ‘Por Um Natal Melhor‘, que chega a sua 15ª edição. Este ano faz parte da campanha ‘Pandemia com Empatia’, promovida pela ONG Voz das Comunidades.
Divididos em 5 equipes, voluntários carregaram cerca de 16kg de alimentos, entre os becos e vielas dos Complexos do Alemão e Penha, aos moradores de 18 localidades: Merendiba, Caixa d’água, Estradinha, Pedra do Sapo, Baiana, Favelinha, Inferno Verde, Palmeiras, Casinhas, Adeus, Prédios Acácias, Palmeiras, Fazendinha, Mineiros, Matinha, Favelinha, Sereno e Vila Cruzeiro. No total foram mais de 800 famílias beneficiadas com cestas básicas doadas na ação.
Todo ano, o morador da Favelinha da Skol, senhor Fernando Costa, monta a árvore de Natal. O catador de recicláveis vive na comunidade desde a construção das primeiras casas e recebeu a cesta básica do voluntário João Paulo Freire, de 33 anos, que participa da ação pela primeira vez. Para João, participar de ações como a ‘Por Um Natal Melhor’ é como ajudar um irmão. “São locais de total ausência do estado em todos os pontos e aspectos. É triste não poder atender a todo mundo. Somos irmãos, a gente deve ajudar um ao outro e essa situação de pandemia destaca as necessidades dessas famílias, que ficam cada vez mais limitadas na busca de sobrevivência”.
Claudia Sousa, de 46 anos, mora desde que nasceu na comunidade Pedra do Sapo e conta que grande parte da família também mora por lá. Vanessa Sousa, da mesma idade, é prima de Cláudia e, ao receber a cesta básica do Voz das Comunidades, brincou ao comentar sobre o que espera do Natal em família. “A gente aproveita pra ficar ainda mais junto, né? Agora vamos comer muito. Ainda não sei o que tem aqui dentro, mas vou virar a Ana Maria Braga da Pedra do Sapo”. Claudia comentou que não vê a hora de encontrar com as 3 filhas e com os 6 netinhos. “Elas já são casadas e não moram mais aqui comigo, mas sempre aproveitamos o Natal para ficar perto das crianças”.
Em caminhada pelo Morro da Baiana, a aposentada Antônia Rodrigues Guerra, de 67 anos, disse que vai dividir a cesta básica com o filho, que mora no cômodo de cima do dela. Dona Antônia contou que todo ano espera a chegada do Voz e que neste o apoio às famílias da região está sendo essencial durante essa pandemia. “Ele está no trabalho e como sou sozinha, a cesta é grande pra mim. A gente sempre divide o que pode. Toda ajuda é muito importante nesse momento e agradeço quem nos ajuda até aqui’’.
Além dos Complexos do Alemão e Penha, na Zona Norte, moradores do Morro do Vidigal, Zona Sul do Rio, também estão na lista para receber as mais de 10 toneladas de alimentos que estão sendo distribuídos entre os dias 19 e 20 de dezembro. A iniciativa faz parte de um conjunto de ações que a ONG Voz das Comunidades realiza anualmente e conta com as doações e apoio de pessoas populares e anônimos. Amanhã na favela do Vidigal 40 voluntários subirão o morro entregando as cestas básicas.
Pela primeira vez como líder de equipe, a estudante de direito Alzira Roque, de 22 anos, que também participou da equipe do ‘Gabinete de crise’, durante o pico da pandemia nas favelas do Rio, disse que fica realizada em ajudar. “Infelizmente não é possível a gente como ONG suprir todas as necessidades dessas famílias. Vimos quem não tinha nada pra comer. Armários vazios de verdade! Sem arroz, sem nada pra se alimentar. Foi intenso ver pessoas se emocionando ao receber comida”.
Para Rene Silva, fundador e editor chefe do Jornal Voz das Comunidades, o trabalho não pode e não vai parar. “Seguimos com as medidas de prevenção ao coronavírus, como sempre fizemos, e encerraremos nosso ano com a nossa tradicional ação. Pois, temos muitas pessoas em situação de vulnerabilidade e que contam com a nossa ajuda. Foi a ação mais emblemática que o Voz já fez. Onde a vulnerabilidade se destacou. O que mais ouvi dos moradores foi sobre o medo do Auxílio Emergencial acabar e não ter o que comer. Muitas pessoas sem emprego e sem trabalho estão priorizando esse auxilio para comprar comida. Nós fizemos ações durante o ano inteiro, desde que começou a pandemia da Covid19. Foram milhares de famílias beneficiadas durante os últimos 10 meses e agora, encerrando 2020, fazemos o que a gente mais fez esse ano: distribuir comida a quem precisa”.