Ainda é muito comum pensar que futebol é “coisa de homem”. Mas no Borel, assim como vem ocorrendo no mundo todo, cada vez mais mulheres praticam o esporte e se destacam por isso. Exemplo dessa novidade é o clube Nova Geração, sinônimo de resistência feminina no esporte e na favela. Se antes, os homens eram os donos da quadra, hoje, as chuteiras que as jovens calçam reafirmam a posição e o valor que as jogadoras têm e mostram quem manda no pedaço.
O Nova Geração é um projeto de futebol feminino que reúne meninas de 13 a 17 anos. Mas não se restringe somente a este público: jovens de mais de 18 anos também integram a equipe. O me surgiu em 2012 e, a partir daí, não parou mais. As atletas já conquistaram sete campeonatos e, ainda, participaram na Taça das Favelas. Com o objetivo de fortalecer a representatividade feminina no esporte e colaborar para o desenvolvimento comunitário, o projeto conta com 30 participantes.
Para Karoline Reis, 20 anos, atacante da equipe, que sonha em ser jogadora profissional, o futebol tem grande significado. Ela conta que fez diversas amizades e lembra do início da história do projeto: Como boa jogadora, ela não atua apenas como atacante. “Jogo em outras posições também. Quando a equipe precisa de zagueira e não tem, eu sou zagueira. Estou aqui para ajudar meu time”, afirma.
E não para por aí: entre as adolescentes da equipe sub-13, a cobrança para permanecer jogando é maior. As jogadoras do time mirim precisam manter um bom rendimento escolar e apresentar o boletim com as notas para a diretora do projeto e técnica do time, Cristina Chaves, 35 anos. “ O Nova Geração é como um filho para mim. E, como boa mãe, aqui não é diferente: tem que ir bem na escola, isso está em primeiro lugar. Se mentirem, vou à escola para saber mais com a professora. Fazendo assim, eu acredito que seja um estimulo para continuarem”, diz a técnica exigente. De acordo com Cristina, “se estiver tudo certo com as notas, é possível, então, permanecer no projeto”.
A diretora diz que o projeto vem enfrentando muitas barreiras desde o início, e destaca a principal delas: “É o preconceito”. Ela afirma que os horários reservados para o projeto de futebol feminino foram conquistados com muito custo. E conta um marco nesta história:
FALTA PATROCÍNIO
Além do preconceito, a falta de patrocínio é outro problema. “A gente não tem ajuda financeira, ou um patrocinador oficial. Isto dificulta, porque, quando vamos para um campeonato, às vezes não tem lanche, não tem passagem para todas as meninas. Na maioria das vezes eu tiro do meu bolso. E eu não ganho um real trabalhando neste projeto. Faço porque amo muito” – emociona-se Cristina.
RECONHECIMENTO
Apesar de todas as dificuldades, o reconhecimento pelo trabalho feito com as meninas já ganhou as favelas do Rio. “Nós somos conhecidas e reconhecidas como um bom time de futebol feminino, ainda mais depois de termos participado da Taça das Favelas. Não é fácil vencer a nossa equipe”, brinca a técnica. Os treinos da equipe Nova Geração acontecem três vezes na semana, à noite, e, aos sábados, à tarde.