Depois de mais de 100 anos, o futebol femino no Brasil está conseguindo conquistar seu devido espaço e ter reconhecimento. A primeira partida de futebol femino oficial no Brasil aconteceu em 1921 (em 1913 já havia acontecido uma partida com times mistos). Depois desse primeiro movimento, o futebol delas teve algum crescimento na década de 1930, até entrar em declínio e ser proibido por setores conservadores da sociedade brasileira que diziam que não era um esporte adequado para mulheres.
Foi somente em 1979 que o esporte voltou a ser praticado por mulheres, após revogação do decreto-lei 3.199 – criado por Getúlio Vargas e continha a proibição do futebol feminino. De lá pra cá, foram muitas conquistas, sendo as principais delas as três medalhas de prata nas Olimpíadas e as seis bolas de ouro da Fifa – conquistadas por Marta, jogadora da seleção brasileira. Todo esse retrospecto positivo atraiu investimentos, trouxe visibilidade e fez o futebol das mulheres conquistar novas praticantes.
Uma delas é Ester Albuquerque, uma menina de 12 anos, que já tem um ícone como referência, em quem se espelha. A pré-adolescente, torcedora do Flamengo, é jogadora de futebol, sonha em ter sucesso e reconhecimento no esporte, assim como sua grande referência, a jogadora Marta, a Rainha do Futebol.
Para enfrentar todos os desafios que essa fase de transição lhe impõe e ainda seguir focada no seu objetivo, Ester encontra em sua mãe, Fernanda Albuquerque (36) e no seu treinador, Paulo Cypa (53), o apoio necessário para seguir em busca da realização do seu sonho.
Assim como a sua ídola, que começou desde muito nova a jogar bola com os seus irmãos mais velhos, Esterzinha Jogadora, como é mais conhecida no morro, também começou a jogar bola ainda pequena, com seu irmão Pedro Albuquerque. Ela tomou gosto pelo esporte e hoje divide seu tempo entre os estudos, em período integral, e as aulas de Beach Soccer à noite (futebol de areia).
Esterzinha conta sobre os seus objetivos e sonhos no futebol:
“O futebol pra mim é um sonho, uma meta de vida, tenho um amor muito grande por esse esporte. O meu desejo no futebol é treinar, me empenhar ao máximo, para um dia chegar na seleção brasileira feminina e, como sou flamenguista, seria uma honra vestir a camisa e representar meu time de coração. E eu também queria muito jogar fora do país onde o futebol feminino é mais reconhecido”, declara a jovem.
Sua mãe, Fernanda, apoia totalmente e acha muito positiva a escolha da filha pelo esporte. Mas tem receio de que ela se frustre por não conseguir conquistar seus objetivos numa área com pouco investimento e oportunidades para as mulheres.
“Eu, como mãe, acho o máximo, apoio ela, faço tudo que estiver ao meu alcance. Mas, ao mesmo tempo, fico com medo de criar muita expectativa nela, porque eu sei que o futebol feminino é muito concorrido e de pouquíssimas oportunidades. Tenho muito medo de que ela crie uma expectativa e se frustre”, completou.
Quem também é entusiasta do talento da pequena jogadora é o treinador Paulo Cypa. Para ele, com foco e perseverança, ela consegue ir longe na sua carreira.
“A Ester realmente é muito talentosa. Ela se destaca pela grande habilidade. Já estamos em contato com pessoas do futebol feminino com o objetivo de encaminhar para algum clube. Ela precisa ingressar num clube, disputar as principais competições e se destacar. Potencial técnico para isso, ela, com certeza, tem. Aí, depois, é jogar nos Estados Unidos e na Europa. Isso já muda tudo”, conta Cypa.
De acordo com relatório da Fifa divulgado em janeiro deste ano, as transferências internacionais de jogadoras entre clubes movimentou 6,8 milhões de dólares (38,3 milhões de reais). O número é maior que o registrado no mesmo período da temporada anterior – de 3 milhões de dólares (17 milhões de reais). Com esses investimentos na modalidade, Ester tem mais chances de conseguir um lugar de destaque no cenário do futebol.