Nas olimpíadas do ano passado, disputadas em Tóquio, três boxeadores brasileiros conquistaram medalhas no Japão. Uma coincidência entre o trio é que todos eram crias de projetos sociais nas suas cidades de origem. Tendo em vista este cenário, o professor de boxe Wellington Lisboa, do Instituto Todos na Luta, no Morro do Vidigal, comentou sobre os desafios de se manter um esporte olímpico em comunidades e como mais talentos poderiam ser descobertos com maiores incentivos.
Derivado da equipe do professor de boxe Raff Giglio, o Instituto Todos na Luta surgiu nos anos 90. Por conta do aumento da violência no Vidigal, o professor Raff resolveu custear gratuitamente aulas de boxe para crianças e jovens moradores da comunidade. A partir daí, então, surgiu um projeto com ambiente propício à descoberta de novos talentos e uma nova opção de realidade para as pessoas do morro. Hoje a organização conta com mais de 100 alunos participantes.
Menos investimentos , menos campeões
Atual professor da equipe de alto rendimento do Instituto, Wellington Lisboa, conhecido como Índio, apontou as adversidades enfrentadas pelos projetos sociais de uma maneira geral. “Falta uma capacitação, vinda de cima (Comité olímpico de boxe) para os treinadores. Não podemos cobrar um bom boxe se não existe uma boa preparação para quem está ali passando os ensinamentos para os alunos. A maioria dos projetos são independentes e não têm um aporte estrutural necessário”, cometeu Índio.
Superação como motivação
O professor destaca um diferencial nos alunos de projetos e diz que isso faz com que eles possam chegar tão longe mesmo com os obstáculos. “Na maioria das vezes esse cara não tem nada, então ele luta pela sua casa, pela sua família. O lutador de boxe dessa realidade tem o esporte como a sua salvação. Mas aqui, trabalhamos isso de uma maneira que eles possam ir além dos ringues. Podem vencer de outra maneira”, afirmou o professor.
Aluno do instituto há 7 anos, Joel Silva, de 20 anos, é morador da Rua 3, no Vidigal. O jovem relatou sua opinião sobre a falta de oportunidades para os jovens atletas. “Quero ser campeão mundial e chegar numa olimpíada, mas falta um pouco de olhar pra gente. O que me motiva a continuar é o amor ao esporte e o que ele mudou na minha vida. Mas, para chegar no alto nível no boxe, tem que batalhar muito. Mas, caminhar sozinho, sem muitos investimentos, é mais difícil”, afirmou Joel.
A meta do instituto nos próximos anos é conseguir formar boxeadores para disputarem as olimpíadas. Assim como Michel Borges e Patrick Anjos, crias do Vidigal, disputaram as olimpíadas do Rio em 2016, e o medalhista em Londres 2012, Esquiva Falcão, que passou pelo projeto. A projeção é que em 2028, nos jogos que serão realizados em Los Angeles, nos Estados Unidos, tenha alunos do projeto.