O consumo de sacolé e açaí tem crescido cada vez mais nas favelas do Rio de Janeiro. Não é difícil caminhar pelo Vidigal e CPX do Alemão e encontrar estabelecimentos que tenham esses produtos saborosos. Eles são conhecidos por todos, porque são rápidos, práticos e baratos. Com o verão e as altas temperaturas já conhecidas pelos cariocas, o açaí ou sacolé são uma maneira saborosa de se refrescar.
“Olha o sacolé! A delícia no saquinho!“
Para aqueles que decidem conhecer a vista do Vidigal e não conseguem aguentar o calor, o Sacolé da Leka é a porta de entrada para o paraíso e também para quem sobe à favela. Com 20 anos de estabelecimento, a comerciante Valesca Santos, conhecida também como Leka, tira seu sustento principal da venda dos sacolés. Tudo começou em uma conversa com a vizinha, que já havia vendido sacolé, e deu a ideia para Leka que, na época, estava desempregada; assim como o esposo. A necessidade de trabalhar para sustentar seu filho pequeno e família foi o principal empurrão para que começasse a testar as formas e receitas para fazer o produto.
No início, as vendas eram feitas na sua casa, no alto do morro do Vidigal. Uma cartolina com sabores e valores colados ao lado da porta anunciavam que ali era o lugar certo para saborear o sacolé que, em alguns anos, ficaria famoso. “A gente começou vendendo em casa. E, um belo dia, meu marido chegou pra mim e falou assim ‘por que que você não tenta na praia? Na prainha?’ E eu fui. E aos poucos esse trabalho na praia virou uma febre, mas foi com muita luta”, relembra a empreendedora.
É quase impossível não conhecer o Sacolé da Leka no Vidigal. O amor pelo que faz é visível a cada fala e venda feita. Mesmo com algumas outras oportunidades para trabalhar de carteira assinada, Valesca negou todas, porque ali preparando cada sacolé, embalando e vendendo, foi onde tudo começou e fez ela chegar em lugares, conquistando objetivos que ela nunca imaginaria. “Não tem emprego de carteira assinada que me faça sair. Porque foi onde tudo começou, é onde foi uma luta muito grande para criar meus filhos. Eu estava num momento muito difícil mesmo. Não tinha o que comer em casa. E hoje é a mesma marca e faço com maior amor. Eu me emociono quando falo, porque eu não largo sacolé por nada”, afirma com olhos cheios de lágrimas.
Com produção feita em família, Leka e seu marido costumam ir cedo ao CEASA produtos para a confecção. Segundo ela, que é a responsável por colocar a mão na massa, cada sacolé possui uma receita secreta, por conta dos diferentes sabores. As vendas costumam acontecer em duas praias: a Prainha, próximo a favela do Vidigal, e no Leblon, além da própria entrada do Vidigal. Para isso, Leka conta sempre com a ajuda do seu esposo, filho e também de um funcionário. As vendas não ficam restritas só à praia, a empreendedora produz mini-sacolés para aniversários, festas escolares, eventos de empresa e não pretende parar por aí. Uma nova meta já foi colocada por Valesca e em 2023 ela pretende ter um ponto em São Conrado. “Eu tenho o maior orgulho de sair daqui e estar com o dinheirinho pra poder comprar as coisas pra dentro de casa. Eu tenho muito orgulho, muito mesmo e quero expandir cada vez mais”, conclui Leka sobre os sonhos para este ano novo.
O Açaí do CPX!
O sabor do açaí conquista fãs o ano inteiro, mas se tem uma temporada na qual é especialmente irresistível é na primavera e verão. A iguaria amazônica que conquistou o Brasil é uma das atrações do cardápio em três versões. Muito nutritivo e energético, o açaí também possui antioxidantes que combatem o envelhecimento.
Leilane Cristina, que possui uma loja de açaí há três anos no CPX do Alemão, faz do produto, assim como a Leka, a principal fonte de renda. O comércio que era do seu esposo, que veio a falecer, acabou se tornando um lugar onde ela pôde seguir seus sonhos; mesmo depois de tudo que houve. A empreendedora sempre gostou de Açaí. Foi observando como o mundo do empreendedorismo funcionava que tomou coragem e criou o Açaí da Lili, que leva esse nome em homenagem a sua filha chamada Eliane.
A comerciante mantém sempre altas expectativas no verão, principalmente no início do ano, momento em que o Rio e também as favelas recebem turistas. “Estamos com uma expectativa bem grande. Porque o açaí realmente vende muito melhor quando está no verão, no calor. Quando faz sol, a gente vê as vendas triplicar”, afirma Leilane.
Com projetos para os próximos anos, ela busca seguir fidelizando seus clientes, pois essa foi uma das suas maiores dificuldades durante esse processo de criação do açaí, que se deu durante a pandemia da Covid-19. “Eu acho que a maior dificuldade no início é a gente fidelizar o cliente, mas depois que a gente trabalha com produto de qualidade, não deixa faltar as coisas. Então hoje em dia a gente já tem e vai seguir conquistando mais”, ressalta.
O empreendedorismo nas favelas
Negócios como o de Valesca e Leilane deram certo, mas é inegável que ter independência financeira e uma renda suficiente através do negócio próprio é um grande desafio para quem mora nas favelas. Segundo a pesquisa encomendada pela Digital Favela e feita pelo Data Favela, os empreendedores de favelas, 22%, assumem que o negócio já se tornou sua principal fonte de renda.
Além disso, no empreendedorismo das favelas, a indicação ainda é a forma que mais se sobressai. O tradicional “boca a boca” foi citado por 56% dos entrevistados como a melhor maneira de divulgação de seu trabalho. E 88% dos moradores de favelas dizem que confiam nas indicações e recomendações feitas por pessoas da própria comunidade.