Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Indo contra a maioria dos planos que foram colocados em seus caminhos, Leonam Silva resolveu empreender na favela e atualmente é sócio de uma das casas noturnas mais famosas do Rio, que se encontra no alto da Vila Cruzeiro, o Konteiner. Ele acredita no potencial econômico das comunidades cariocas e tem se dedicado a abrir seus negócios nesses locais, gerando empregos e capacitando moradores. Leonam tem 29 anos, foi criado em Vista Alegre, Zona Norte do Rio, e é o filho do meio entre três irmãos. Cresceu fora da favela mas sempre teve muito contato com comunidades devido ao esporte. “Sempre joguei bola dentro de comunidades. Entrei na Central Única das Favelas, onde comecei a abrir minha mente. Trabalhava diretamente com o Celso Athayde, ali eu fui amadurecendo, crescendo, aprendendo e trabalhando”.
O empreendedor cresceu longe do pai, que foi preso quando ele era criança. “Tive uma infância boa e saudável, brinquei na rua e tive uma juventude tranquila. No início da minha relação com a Cufa, inclusive tínhamos um projeto, o ‘Papo de futuro’. A ideia era pegar pessoas da comunidade, jovens, cujos os pais eram envolvidos no crime, para quebrar paradigmas. Mostrar que não é porque você é filho que você vai trilhar os mesmos caminhos. Não chegou a ir para frente mas gosto sempre de falar dele. Hoje, temos o projeto ‘Recomeço’, onde pegamos ex-presidiários de comunidades que querem trabalhar e empregamos em uma distribuidora”.
O Konteiner
A ideia do Konteiner surgiu depois que Leonam promoveu alguns eventos dentro da comunidade. Junto de seus sócios Dodô, Pedro e Rene. “A gente viu ali uma oportunidade de criar um espaço dentro da favela, já que nossos eventos atraiam muitas pessoas de fora. E nossa ideia era essa, fazer essa interação e ver todo mundo curtindo junto”. O K é mais que uma casa noturna. Com nove contêineres, é possível encontrar no local: bar, restaurante, barbearia e loja de roupas. É um centro cultural, de interação social e prestação de serviços. “Foi construído onde antigamente era um lixão. Muitos falaram que não ia dar certo, por ser no alto do Complexo da Penha, local em que muitas pessoas viam apenas violência”.
“O comércio da rua em que o Konteiner fica começou a vender mais e alguns até abriram devido ao maior movimento na localidade. Essa é uma das minhas maiores satisfações, sempre digo que a economia tem que vir e ficar na comunidade. A gente quer isso. Nós capacitamos o morador para estar trabalhando ali, o que abre portas até fora da favela, Nosso maior foco é empregar pessoas da favela para que o dinheiro entre e permaneça lá. O favelado gosta de aprender, tem garra, força de vontade e aprende rápido, só falta a oportunidade. A comunidade é muito forte, gosta de comer bem, se arrumar legal e trabalha para isso”.
Futuro
Leonam tem grandes planos para o Konteiner. “Minha ideia é levar o ‘K’ para rodar o Brasil. Levar nossa essência da favela para todos os cantos. Quero vê-lo na Sapucaí também, estamos bastante focados nisso E crescer, ajudar gente, gerar muitos empregos. A gente vem de baixo, então somos muito pés no chão e queremos crescer e levar muita gente conosco”. E deixa uma mensagem para quem está começando. “Não é só sonhar. É idealizar e correr atrás. Não temos que ficar sentados esperando, precisamos ir para cima de nossos sonhos e realizar. Você vai cair várias vezes, mas é preciso usar esses momentos como amadurecimento e aprendizado. Porque é difícil, empreender é complicado mas é prazeroso. Não desistir, não abaixar a cabeça, mas sempre com humildade, pedir ajuda e escutar quando necessário e seguir em frente”.