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Domingo de eleição na Zona Norte é marcado por muitos ‘santinhos’ no chão e eleitores assíduos

O Voz das Comunidades visitou três favelas para conferir como foi o período da tarde para os eleitores do município
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

A cidade do Rio de Janeiro hoje se dividiu entre uma dicotomia em que pudemos ver a festa democracia em contraste com a festa de sujeira nas ruas. Com transporte público gratuito para que os cidadãos pudessem comparecer às suas zonas eleitorais e voltar para casa sem gastar nada, a Zona Norte do Rio se movimentou neste domingo (6). O Voz das Comunidades visitou três favelas para conferir como foi o período da tarde para os eleitores do município.

A Escola Municipal Bahia, na Maré, chamou a atenção pela exagerada quantidade de ‘santinhos’ no chão. Apesar de um grande número de eleitores, a unidade não tem acessibilidade e uma das fiscais da Justiça Federal declarou que, sem elevador, cadeirantes recebiam ajuda de outros eleitores para poder acessar o segundo andar. 

Diogo Santos, de 40 anos, é morador da Maré e levou seu filho para votar junto dele. Ele saiu de casa achando que estaria cheio, mas contou que foi “de boa”. Diogo explica que considera importante levar o filho para votar para que ele vá conhecendo e se acostumando a ter esse dever. “Porque quando ele for mais velho, ele vai estar elegendo o candidato dele. É uma escolha que a gente tem que fazer; se você não vota depois não pode reclamar”, diz. 

Lá, os amigos de infância José Rangel e Ivanildo dos Santos, ambos com 74 anos – exato, eles não têm a obrigação de ir votar – sempre se encontram para “exercer a cidadania”, contam. Para José, é importante votar pensando no futuro dos netos. Ivanildo concorda e completa: “Eu voto porque acredito que alguns candidatos possam trazer melhorias para a Maré”. 

Aos 74 anos, José Rangel e Ivanildo dos Santos ainda fazem questão de votar
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Chegando na Penha, mais ‘santinhos’ no chão. Nenhuma surpresa. Uma rampa de acesso, para além da escada, para chegar até o hall de entrada. No entanto, um elevador que não funcionava. Francisca Santos, de 43 anos, está há cerca de um mês andando em cadeira de rodas por conta de uma inflamação bacteriana que teve no pé. Ela já sabia que seria um desafio porque vota no segundo andar e já conhece a escola. “Liguei para o TRE e disseram que todos os lugares têm rampa e elevador. Ainda falaram que é de graça. eu não perguntei isso, eu queria saber da minha obrigação como cidadã”, disse. 

Levou alguns minutos até que ela conseguisse votar, de fato. Francisca, que teria que subir dois lances de escada com cadeira de rodas, disse que tinha medo de se acidentar e piorar seu pé. Os guardas municipais a ajudaram na subida e na descida. Os policiais militares da zona eleitoral também foram prestativos. Para ela, o resumo do dia foi: “medo”. “Eu tive medo desde que saí de casa porque sabia que enfrentaria um monte de coisa. A única coisa boa foi que as pessoas me ajudaram desde que cheguei. Eu fui salva pela sensibilidade e bondade”, desabafou, já esgotada de todo o trabalho que foi um simples ato de votar. 

Guardas municipais ajudando Francisca a descer, por falta de acessibilidade
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

No fim do dia, no Colégio Estadual Olga Benário Prestes, localizado no Complexo do Alemão, o movimento estava bem calmo. Ruas sujas, mas bem menos que nas localidades anteriores. Um grupo de três amigos do Morro do Adeus estava lá levando a ‘festa da democracia’ a sério. “Além do voto garantir nossa cidadania, a gente se reúne para confraternizar em dia de eleição”, disse Mateus Gonçalves, de 26 anos, que estava com Gian Lucas, 26, e Eduardo Fernandes, 24. O último parecia o mais centrado sobre o assunto político, considerando importante sempre votar. “É um direito nosso, temos que participar”, afirmou. 

Mateus, Gian e Eduardo após votar
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Perto deles, estava Elson Souza, de 56 anos, que vê de uma forma diferente. “Por mim, eu não votaria. Não tinha que ser obrigatório, eu voto porque tenho que votar. Eu não acredito na política”, conta. O morador do Adeus finaliza: “Quando eu tiver 70 não volto mais aqui”.

Elson não acha que o voto deveria ser obrigatório
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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