Marcelo Freixo – Foto: Reprodução/Internet
1) Nos primeiros 100 dias de governo, quais ações o senhor pretende fazer voltadas para as comunidades da cidade?
Olha, tem muita coisa. Primeiro é que é um espaço público onde a favela possa ter política pública construída com democracia, ou seja, ouvindo o que os moradores das favelas têm a dizer. Aí tem uma complexidade grande porque não existe uma favela. O Complexo do Alemão tem uma realidade, Vigário Geral tem outra, Rocinha tem outra, Maré tem outra, enfim. Um terço da população do Rio de Janeiro vive nas favelas. Evidente que você precisa ter um espaço na prefeitura, ou uma subsecretaria ou uma secretaria relacionada aos assuntos de favela que deem conta da complexidade das favelas e que seja um canal permanente de escutá-los. Tem que ter uma estrutura do poder público hoje que consiga estar diretamente com ela, construindo as políticas públicas.
2) Tem algum projeto específico para o Complexo do Alemão?
O Complexo do Alemão tem uma quantidade gigantesca de coisas para fazer, eu conheço razoavelmente bem. Você tem lugares no Alemão que você tem problemas sérios de moradia, são moradias que precisam ser reestruturadas, problemas de saneamento básico em algumas áreas, você tem o problema da segurança pública que não é um problema a princípio do conflito polícia/ facções, ou tráfico, do município, mas o município tem que entrar e tem que garantir um investimento social cheio que dê empoderamento a esses moradores. Não adianta a prefeitura pagar um complemento do salário ao PM, e dizer que a sua parte na segurança pública do Alemão está resolvida, não está. O número de mortes no alemão é maior do que qualquer período de guerra, ou qualquer período mais violento no Brasil. É fundamental que a gente entre, escute os moradores, chame o governo do estado, para gente cessar o número de mortes dentro do Complexo do Alemão. Tem muita iniciativa, como a Fábrica Verde, que trabalhava com a inclusão digital, gerava emprego pra juventude, e isso foi fechado. Você tem um espaço de esporte lá na Vila Olímpica que é muito mal utilizado, as escolas não utilizam bem, uma série de iniciativas muito ricas que se pode fazer no Alemão e hoje não faz.
3) O PSOL será a segunda maior bancada da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro em 2017. Mas o PMDB, partido do atual prefeito Eduardo Paes, ainda é a maioria. Como pretende se relacionar com essa bancada?
Eu estou muito tranquilo em relação à Câmara de Vereadores. Já são muitos vereadores que estão procurando a gente querendo conversar, de outros partidos, inclusive vereadores do PMDB, eu acho que existe uma lógica republicana do diálogo. A gente não quer fazer uma prefeitura exclusiva do PSOL, a gente quer fazer uma prefeitura que escute as pessoas, que seja das pessoas, que tenha técnica na hora de escolher o secretário, que seja o melhor secretário de saúde, que não vai ser indicado por nenhuma interferência política de ninguém ou de nenhum padrinho político, muito menos de partido político, a gente quer que seja as melhores pessoas das melhores áreas.
4) No mapa de votação do primeiro turno, o senhor aparece como o mais votado nas regiões com o maior IDH da cidade, e o seu adversário, Marcelo Crivella, nos lugares mais pobres. Como pretende conquistar os votos da Zona Oeste, por exemplo?
Isso não significa que a proposta do Crivella dialogue mais com a população mais pobre e a nossa não. Essa é uma leitura falsa. O Crivella é um candidato que tem um envolvimento religioso, é uma religião que penetra muito nas áreas mais populares, acho que esse é um indicador muito forte para entender a votação dele, isso não tem a ver com o programa dele, isso não tem a ver com a trajetória, nem com as bandeiras de defesa dele. Na verdade, a gente teve 11 segundos de tempo de televisão, a gente é muito desconhecido. Boa parte da população que não votou na gente não conhecia a gente. Agora o tempo de televisão é igual, a gente vai ser mais conhecido, então há uma chance maior da gente chegar nessas áreas. Tem que chegar na Zona Oeste, que a gente é muito desconhecido ainda.
5) Em transporte e mobilidade, a sua promessa é criar um plano participativo para reorganizar as linhas de ônibus. Quanto tempo acha que isso vai demorar?
A gente quer criar a Secretaria de Mobilidade Urbana, ao invés da Secretaria de Transportes e que seja o poder público que vai regular cada linha de ônibus, cada modal, qual é a integração tarifária, quanto vai custar a passagem. A gente acredita que no prazo de 6 meses é possível reestruturar essas linhas.
6) Pretende voltar com as vans?
Você não pode ter isso descontrolado, mas elas são muito úteis. Mas é preciso que tenha regulamentação individual para que elas não sejam vítimas das ações das milícias. Para que eles possam abastecer as linhas de ônibus centrais em cada bairro.
7) O senhor também promete extinguir a dupla função de motorista e cobrador de ônibus. Essa medida pode diminuir o salário desse trabalhador?
A gente não tem como prometer acabar com isso, mas a gente é contra isso. Na medida do possível a gente quer ir voltando com a função do cobrador. Primeiro porque gera emprego, segundo porque dá mais segurança ao motorista e aos passageiros.
8) Na educação, o senhor promete uma educação integral. Acha que o dinheiro da prefeitura vai dar para manter as crianças mais tempo na escola?
Eu acho que é fundamental. Não dá para fazer toda rede escolar do Rio de Janeiro, a maior rede da América Latina, seja toda de tempo integral. Mas a educação infantil é a prioridade para que seja de tempo integral. A meta é garantir ano a ano que você tenha mais creche e garantir que no ensino infantil o maior número de escolas seja de tempo integral.
9) Em entrevistas concedidas durante a corrida eleitoral do primeiro turno, o senhor disse palavras como “sincericídio” e “descalabro”. Acha que usando essa comunicação você chega até o eleitor do Complexo do Alemão e de outras comunidades?
Não acho que seja uma linguagem minha. Acho que 20 anos de sala de aula como professor de história, em educação popular, dando aula em presídio e favela fez a gente aprender a se comunicar, não à toa a gente chegou no segundo turno. Se a gente não se comunicasse bem a gente não chegaria no segundo turno tendo 11 segundos apenas de tempo de televisão. Mas eu acho que quanto mais a linguagem for pedagógica… Tem uma frase minha é que muito comum que é a luta pedagógica, você tem que comunicar, tem que falar, tem que saber ouvir principalmente, acho que isso a gente conseguiu fazer. Cometemos erros? Sim. Mas eu acho que a linguagem tem que ser ao máximo simplificada para que todos possam entender.
Marcelo Crivella – Foto: Reprodução/Internet
1) Nos primeiros 100 dias de governo, quais ações o senhor pretende fazer voltadas para as comunidades da cidade?
Os moradores das comunidades são os que mais sofrem com a falta de saúde. As pesquisas indicam que essa é a principal queixa do carioca. Meu primeiro dia de governo será marcado por um mutirão da saúde. Vou convocar meu secretário de Saúde, médicos, servidores, funcionários de hospitais e unidades de saúde pra que a gente comece a dar fim nas filas por um exame, uma consulta, uma cirurgia. Obras foram feitas e agora vamos cuidar das pessoas. Outro problema grave nas comunidades é a falta de saneamento. Vamos trabalhar para acabar com o esgoto à céu aberto em todas as comunidades.
2) Tem algum projeto específico para o Complexo do Alemão?
O Complexo do Alemão é um exemplo claro que mostra que a polícia subiu o morro, com as UPPs, mas os serviços, não. Vamos investir em postos de saúde, coleta de lixo, creches – outra preocupação frequente nas comunidades. Vamos identificar os problemas mais urgentes e traçar um plano de metas para levar os serviços e cidadania aos moradores do Alemão.
3) Candidato, no seu programa de governo, você promete que vai “combater de forma contundente qualquer prática de corrupção na prefeitura”. Tem algum programa específico para por isso em prática?
O meu governo será transparente. As contas da prefeitura precisam ser abertas e não pairar dúvidas sobre os gastos do município. Pretendo pôr fim à caixa-preta das empresas de ônibus. A prefeitura se comprometeu e não cumpriu colocar ar condicionado em todos os ônibus até a Olimpíada. E o preço da passagem dos ônibus subiu contando com essa promessa. Transparência é fundamental para o bom gestor público. Vamos trabalhar juntos com o Ministério Público, com os órgãos de fiscalização, tudo para que o carioca tenha todas as informações necessárias para acompanhar o investimento público, o que facilita o combate à corrupção.
4) Também no programa de governo, o senhor diz que pretende “unir os cariocas de todas as ideologias em torno de um projeto comum para o Rio a partir de consultas permanentes e um diálogo democrático com a população”. Como seria isso na prática?
Um homem público precisa ouvir mais que falar, muitas vezes. Obras importantes foram feitas pelo Eduardo Paes, mas qual o legado da Olimpíada para as comunidades? Não se vê; o prefeito não se preocupou em ouvir os que mais necessitam. Comigo, não. As comunidades vão participar do meu governo, porque vou ouvi-las.
5) O senhor diz que vai colocar mais R$ 250 milhões por ano em investimento na saúde. Esse dinheiro vai vir de qual receita?
As verbas de Saúde, Educação, são carimbadas, ou seja, há um mínimo por lei que tem que ser investido. O problema é que o prefeito atual tirou R$ 1 bilhão da Saúde para fazer a Olimpíada. Esse dinheiro, que foi remanejado, será reaplicado na Saúde dos cariocas. A Saúde precisa de mais recursos e de uma ampla reestruturação da sua gestão, inclusive, na questão dos Recursos Humanos – precisamos controlar melhor a frequência, a produtividade e a qualidade do atendimento dos nossos profissionais de saúde.
6) Na educação, o candidato diz vai criar 20 mil novas vagas em creches e 40 mil novas vagas em pré-escolas até 2020, através de uma parceria público privada. O senhor já tem algum parceiro em vista?
Primeiro precisamos vencer a eleição. O parceiro privado será responsável pela construção e manutenção administrativa das novas unidades de ensino infantil (EDIs). Caberá à Prefeitura cuidar da parte pedagógica e da merenda. O importante é que quanto mais tempo a criança passa na escola, menos tempo fica na rua. A criança precisa de atividades esportivas, lendo, desenvolvendo habilidades em oficinas. É a minha meta. Envolver os pais nas atividades também é fundamental. Por isso, vamos criar um programa de incentivo para a família participar mais do aprendizado, resgatando o programa Escola de Pais, cancelado pela Prefeitura para gastar em obras. Mas, em relação ao ensino em horário integral, nossa meta é chegar a 2020, com 50% das crianças dos anos iniciais estudando em horário integral de verdade, até às 5:00 da tarde. Essa é uma meta realista e razoável.
7) Também na educação, você promete que vai “dar mais autonomia pedagógica aos diretores das unidades de ensino do município e reduzir suas atividades relacionadas à gestão administrativa das escolas já a partir do primeiro ano de governo”. Nessa autonomia, o professor pode incluir no programa de educação assuntos como a questão de gênero?
A escola não pode dar às costas aos mais variados assuntos que envolvam a aprendizagem de uma criança. E a relação da escola com a família, com os pais, responsáveis, é que vai pautar essa questão. A autonomia aos diretores tem a ver com a valorização do professor, do servidor público.
Um Plano de Cargos e Salários é um passo importante na valorização do professor. Quero ser o prefeito do diálogo. Sei que todos os servidores sentem falta disso, e meu gabinete vai abrir as portas para ouvir a todos.
8) Sobre segurança, o senhor diz que vai “redirecionar imediatamente o foco da Guarda Municipal às operações de policiamento comunitário”. Pode explicar melhor o que seria esse policiamento comunitário?
A Guarda Municipal precisa ajudar na segurança pública, outro tema sensível aos cariocas. Quero melhorar a qualificação dos guardas, treiná-los para lidar com o carioca sem violência, mas dentro da ordem. Vou ficar feliz quando os moradores das comunidades olharem para um guarda municipal e verem nele um parceiro, um agente da lei, mas um parceiro. A ideia é aproximar a Guarda das pessoas. E dar visibilidade dos agentes nas ruas para coibir casos de violência, ajudando a Polícia Militar.
9) O senhor promete que vai reduzir os números de secretarias de 29 para 15. Quais seriam as secretarias extintas?
É preciso, primeiro, como já disse acima, ganhar a eleição. Temos que olhar com calma as finanças da prefeitura, a questão da previdência, para avaliar o que pode ser feito. Claro que vivemos uma crise, e não podemos gastar mais do que arrecadamos. A intenção de enxugar a máquina pública é gastar com responsabilidade, no entanto, áreas essenciais como Saúde, Educação, Transportes, não serão afetadas como cortes.