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‘Vidro Fumê’, filme nacional tem estreia de moradores do Vidigal

Ramon Francisco que interpreta o personagem Célio na trama, conta sobre sua trajetória
Foto: Cristina Granato / Divulgação

Mary, uma estrangeira em busca de novas experiências no Rio de Janeiro, se vê em um pesadelo ao ser sequestrada junto com seu namorado. A noite se torna um terror enquanto a polícia tenta salvá-los. Paralelamente, Miriam enfrenta seu próprio horror ao ser assediada por um político corrupto. As duas mulheres, em situações distintas, lutam contra a violência e a injustiça na Cidade Maravilhosa.

Desculpa o spoiler, gente! Mas, pra vocês entenderem, essa é a sinopse de “Vidro Fumê”, filme nacional que estreou dia 25 de abril nos cinemas. E nele, quem dá vida a dois personagens são atores do Vidigal, favela da Zona do Sul do Rio. São eles, Ramon Francisco que vive o personagem Célio, e Francisco Assis que interpreta o ‘Moleque’.

E foi ele mesmo, Ramon, que concedeu uma entrevista para o Voz das Comunidades e falou sobre sua história e também sobre o filme.

“Quanto mais dos nossos tiver, será melhor!”, diz Ramon sobre a parceria com Francisco

A relação deles dentro e fora das telas marcam a correria dos atores da comunidade da Zona Sul do Rio: “Ele (Francisco) é um amigão, a gente já trampa juntos com o rap, temos um estúdio aqui no Vidigal. É incrível ver pessoas que vieram do mesmo lugar e trampam juntas! A gente tá conseguindo! Paralelamente, manter nossa dignidade, de outras formas, a arte cênica me dá uma possibilidade que nunca tive na vida”, carinhosamente lembra Ramon.

O artista e ator Ramon Francisco, de 28 anos, morador do Vidigal traça sua trajetória e carreira artística. “Eu vivia e sou cria do Nós do Morro. Minha mãe trabalhava lá, não tinha creche, ela tinha que me levar para todos os cantos. Eu ia para o Nós do Morro e ficava brincando. Comecei a atuar com 4 anos e fiz o clipe do O Rappa, Minha Alma, só aconteceu! O menino que estava escalado para fazer não tinha carisma. Aí me puxaram! Aí comecei a fazer filmes”, conclui o ator que tem participação nos tramas nacionais como “Última Parada 174”, “Casa Branca” e “Dona Vitória”; Ele também fez as séries “Dom” e “Arcanjo”.

Foto: Laís Torres | Fotografia

A importância de ter um projeto de artes cênicas do tamanho do Nós do Morro, se manifesta na gratidão e nas colaborações: “Nós do Morro é um salva-vidas. A minha construção pessoal é pelo projeto. Foi o lugar que eu consegui ter o máximo, com os melhores professores e fonoaudiólogos. Onde eu tive vontade de falar de mim”, agradecido conta o cria sobre sua primeira escola. A continuidade é produto de muitas mãos dos moradores: “Eu somo, eu tô dentro. Isso precisa ser mantido para muitas outras crianças, mas como acesso à cultura, a falar sobre assuntos importantes. Nós do Morro cria muito caráter”, destaca Ramon.

O cria do Vidigal, o ator resgata sua memória e os caminhos que o teatro podem apresentar: “A arte conseguiu me dá diversas possibilidades, diversos outros lugares. E foi possível enxergar minha gente também, minha mãe passou a trabalhar, minha tia também. E nossa família era pobre, as coisas foram mudando. Foi me dando opção de escolha. Um outro poder, uma autoestima, uma autoestima do favelado.”

Voltando a falar do filme, Vidro Fumê é um drama é dirigido e roteirizado por Pedro Varela e retrata um episódio real de duas mulheres. Ramon retrata o filme como algo importante, uma vez que toca em pontos que são enfrentados pelas mulheres na sociedade: “O filme conta sobre um fato real que aconteceu. Trata de estupro, agressão a mulher, feminicídio… Tem um trecho que uma das personagens tenta fazer uma denúncia na Delegacia de Mulher e lá só tem policiais homens. A mulher, na sociedade é muito agredida, muito tocada, muito sexualizada, seja dentro da favela, no asfalto, nos bairros nobres…! O filme quer informar e tenta mostrar como cuidar e acolher uma mulher agredida, e até mesmo, lidar com situações de aborto ou não, questões muito delicadas. Querendo ou não, perifericamente, não é falado! Não há visibilidade sobre o assunto”, detalha o ator, que finaliza sobre a construção de Célio, o seu personagem “Ele tinha diversas pendências, não tinha apoio e acessos. Eu coloco muito nesse lugar, mas eu humanizo ele. Procuro entender. E ao mesmo tempo, para ele era natural, ele precisava de grana, ele precisava fazer aquilo”.

Confira o trailer de Vidro Fumê:

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EDITORIAS

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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