Por: Vários autores para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo
No dia, 11 de setembro, o PerifaConnection abriu sua primeira exposição de arte no Studio Om.Art, localizado no Jockey Club, no Rio.
Oito artistas periféricos formas claras de separação. Poéticas e procedimentos artísticos que passam por materialidades como pintura, fotografia, argila, barro, madeira, vídeo, costura, poesia e palavra. Configurações comuns de humanidades diversas em um meio que constrói subjetividades, o das artes.
Com curadoria de Camilla Rocha Campos e Raquel Barreto, uma mostra aborda três temáticas que se impõem com muita vivacidade: territórios, pertencimentos e afetos.
A “Vazar Invisível” também provoca o público para um olhar sobre uma potência de vida invisível pela herança colonial.
Ela desloca a perspectiva iluminista europeia e o seu antropocentrismo padronizado no homem branco, cis e europeu, para mulheres e homens negros, LGBTQIA +, favelados e periféricos.
O foco é a população pobre, diariamente empurrada pelo sistema para uma luta por sobreviviência, que encontra em suas artes uma maneira de superar as barreiras que a cultura renascentista e iluminista reservaram a eles.
Desta maneira, um “Vazar o Invisível” é uma outra forma do público nos ouvir, pois o silenciamento e a invisibilidade compõem o modus operandi que reforça a ideia de um único discurso sobre a história do Brasil. Em outros termos, é uma ferramenta para disputa de poder simbólico.
Como aponta a filósofa Djamila Ribeiro em seu livro “O que é Lugar de Fala?”, Quando utiliza a palavra para interromper o regime da autorização discursiva, estamos nos referindo a uma estrutura que determina o imaginário social que envolve poder e controle.
As encruzilhadas que abrem os caminhos (in) busca da mostra são pontos riscados por Abdias Nascimento, Carolina Maria de Jesus, Joãozinho da Goméia, Ayrson Heraclito, Rosana Paulino, Ailton Krenak, Pêdra Costa, Jota Mombaça, Sandra Benites e tantes outres que manifestaram e manifestam o legado ancestral, múltiplo e coletivo da gira da criação (O lugar da roda e da ritualística dos terreiros que faz conexão espiritual com a ancestralidade).
Idealizada por Jefferson Barbosa, Ernesto Neto e Oskar Metsavaht, A “Vazar Invisível” reúne obras de oito artistas periféricos: Deize Tigrona, Filipe Cordon, Gabriella Marinho, Jefferson Medeiros, Lidi de Oliveira, Osmar Paulino, Rainha F. e Raphael Cruz.
A exposição pulsa a prática do deslocar-se, do desejo de reunir, das poéticas da ancestralidade, das lutas, da força. Estas conectadas aos territórios, pertencimentos e afetos. Como afirmam as curadoras da mostra: “A intenção aqui é vazar o invisível e te deslocar para longe de uma ficção colonial.”
A Vazar Invisível ficará aberta, com entrada franca, até 31 de outubro, no Studio Om.Art.
Osmar Paulino
Geografo / UFRJ. Mestrando em Cultura e Territorialidades / UFF. Fundador do FAIM – Festival de Artes em Imbarie. Artista visual e estudante da EAV Parque Lage. É um dos artistas da “Vazar o Invisível”
Jefferson Barbosa
Jornalista e diretor do PerifaConnection
Lidi de Oliveira
Multiartista, Coordenadora do Lab Arremate. Conexão Faz parte do Movimenta Caxias, Voz da Baixada e é colaboradora do Perifa. E também é uma das artistas da Mostra “Vazar o Invisível”
Camilla Rocha Campos
Artista, professora, curadora, escritora, co-diretora da Plataforma de Arte 0101, professora e mestre em Teoria da Arte pela UERJ. E é uma das curadoras da “Vazar o Invisível”
Raquel Barreto
Historiadora, pesquisadora, co-curadora da exposição da “Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros, que será realizada no IMS / São Paulo e desenvolver pesquisa no doutorado sobre o Partido dos Panteras Negra e as relações entre história, fotografia e imaginação radical. E assina também a curadoria da “Vazar o Invisível”
PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo.