Depois de 10 anos, o processo aberto para a condenação do PM na morte do Caio Moraes foi a Júri Popular no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, nesta terça-feira às 14h. Caio Moraes da Silva foi morto em 2014, por um tiro nas costas, disparo efetivado por um PM. Defensores públicos, familiares, amigos e outras mães que também sofreram a mesma injustiça se uniram em frente ao Tribunal com cartazes e dizeres de justiças.
Adenize de Moraes da Silva conhecida como “Denize”, de 59 anos, mãe de Caio Moraes da Silva falou sobre os 10 anos de ausência de seu filho: “Eu não tenho medo! Nestes 10 anos, eu luto por justiça. Eu crio meus netos, ajudo ao máximo. Depois da perda do meu filho, eu perdi outros familiares”, reflete sobre a dor da impunidade sofrida. “Eu espero justiça, eu espero que ele seja condenado porque ele matou meu filho. E eu sei que a condenação dele, vai ajudar todo preto e favelado. Toda mãe que perde um filho! Todo mundo que não acredita que a justiça que a justiça pode ser feita, ainda mais quando é um PM que matou meu filho. Eu não sei o tempo que ele vai ficar, mas que ele fique preso. Que ele possa pensar que antes de atirar, tem que ser abordado”, sua expectativa frente à causa na justiça.
Dois defensores públicos, do núcleo de direitos humanos, estavam presentes na audiência: Pedro Paulo Carriello e André Castro. Questionado sobre o caso, Carriello esclarece: “O julgamento hoje do policial, que tirou a vida do Caio e tá respondendo por homicídio simples. A tese dele [do policial] é que foi acidente ou legítima defesa. A gente tem um confronto balístico positivo, ou seja, a perícia confirmou que o mesmo projetil de disparo da arma foi encontrado no corpo de Caio.”
André Castro, defensor público, complementa a narrativa: “O que a gente sabe que a vítima estava de costas, provavelmente, fugindo da situação quando foi atingido pelo disparo.”
Os defensores, relatam que se for entendido pelos jurados que o discurso foi de homicídio culposo, ou seja, matou sem a intenção de matar, o caso sai da esfera civil e passa para a auditória militar.
Outras mães estavam presentes e disseram sobre a rede de apoio neste momento de dor. Ana Paula Oliveira era uma delas. A mãe do Jonathan de Oliveira Lima que foi assassinado em Manguinhos por um PM estava no protesto com outras mães dando apoio e reforçando o pedido de justiça pelos seus filhos e também, por Caio de Moraes. “A gente acha que justiça é o mínimo que uma mãe espera quando seu filho foi assinado pelo braço armado do Estado. Eu também acho uma falta de respeito e sensibilidade por tanta demora da justiça.”
“É uma vergonha perder nossos filhos e esperar 10 anos por uma justiça! É uma covardia! É como se tivesse matando a gente mais uma vez”, o pronunciamento é Janaína Mattos Alves, mãe Jhonata Dalber Matos Alves, que foi assassinado há 8 anos. O garoto tinha 16 anos de idade quando foi assinado por um PM da UPP que confundiu o pacote de pipoca com saco de drogas na comunidade do Borel. “Hoje eu tô aqui com a Denize para apoiar porque é muito importante a gente que sente a mesma dor.”
Relembre o caso de Caio Moraes:
No dia 27 de maio de 2014, o Complexo do Alemão perdeu um jovem com futuro promissor. Caio Moraes da Silva, de apenas 20 anos, foi tragicamente interrompido sua vida enquanto exercia sua profissão de mototaxista. Morador do Loteamento Nova Brasília, do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Caio era um jovem vibrante e sonhador, conhecido por seu sorriso contagiante e a vontade incessante de proporcionar um futuro melhor para sua família e seu filho pequeno.
Caio levava um passageiro para dentro da Grota, no Complexo do Alemão, onde ocorria um protesto, quando foi atingido.