Por: Wesley Teixeira para a Folha de S. Paulo
A eleição do Brasil em 2022, sem dúvidas, será uma das mais importantes desde 1988, pois servirá como plebiscito dos pactos democráticos da Constituição. Ela também será parte de uma disputa mundial entre um projeto de civilização contra a barbárie. Se tratando de eleições, ela só estará ganha quando todos os votos já estiverem nas urnas; fora isso, tudo é projeção e disputa, por isso, cada voto importa.
O passado do Brasil é de baixa democracia e golpes. Além disso, o recente ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, a vitrine do mundo livre, nos transmite a mensagem que: vencer e levar ainda são coisas diferentes. Pode ser que Bolsonaro passe, mas o bolsonarismo seguirá entre nós.
Historicamente, existe uma parcela do povo que costuma ser excluída de participar das decisões. O direito ao voto é uma conquista recente para as mulheres e negros no mundo todo, no Brasil até 1988 anafalbetos não votavam e por sua consequência a maioria da população pobre e negra por estar nessa situação também não. Além da ditadura que negou essa possibilidade ao conjunto da sociedade.
De lá pra cá, vimos o poder financeiro e a violência interferirem em todo o processo eleitoral e, principalmente, nas periferias, encontramos a crueldade da compra de votos e troca de acesso a direitos básicos, processo que chamamos de clientelismo. Além de alguns territórios dominados que impedem o acesso de campanhas e proíbem a existência de outras candidaturas.
A internet e as redes sociais poderiam representar uma possibilidade de diálogo maior. Porém, vimos nos últimos anos uma onda de fakenews, que influenciaram negativamente.
O que fazer nesse cenário? Visando estimular um processo mais participativo que ajude na garantia dos direitos básicos do povo brasileiro, que, apesar de sofrido, é extremamente batalhador e criativo, destaco estratégias com urgência de serem aplicadas.
Nas últimas eleições, 30% do eleitorado brasileiro —cerca de 32 milhões de pessoas— não votaram ou votaram branco e nulos; muitos que vão às urnas o fazem por obrigação jurídica para obter o comprovante de voto, porém, permanecem desacreditados e sem esperança na política.
No Brasil o voto entre jovens de 16 a 18 anos é juridicamente opcional, temos 6.2 milhões de jovens nessa faixa etária, até agosto de 2021 apenas 600 mil tiraram o título, que é permitido até 4 de maio. Aprendemos com o Movimento Black Lives Matter que essa turma é fundamental para virar o jogo. Levá-los às urnas é a primeira tarefa!
A segunda tarefa é crescer o sentimento de quem não votar em sua legítima defesa, em defesa da sua vida, que está em risco com um vírus que matou 640.000 vidas, em defesa de um posto de emprego fundamental para sua sobrevivência, que está difícil pela crise econômica e por medidas equivocadas que foram tomadas pelo governo, 13 % — cerca de 14 milhões— estão desempregados.
Além da alta nos preços dos alimentos, em um país que 80 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar, isto é, maior que a população do sudeste. No planeta onde a água está ameaçada, recurso fundamental para vida, o Brasil tem 12% da água potável do mundo, que estamos poluindo, sem tratar o esgoto, lançado venenos que vão para o subsolo.
A maior parte deste volume de água está na Amazônia, que também é responsável pela criação dos rios aéreos que impactam no ciclo das chuvas, e estamos batendo o recorde de desmatamento na maior floresta do mundo.
Para disputar essas narrativas, a comunicação é fundamental, é urgente a união da sociedade civil e todo campo progressista para criação de aparelhos unificados de disseminação de conteúdo nas redes sociais, em especial WhatsApp e TikTok visando ampliar o alcance dessa mensagem e aperfeiçoamento da sua linguagem, bunkers ou gabinetes do amor para vencer o ódio.
Por fim, surge uma pergunta, então em quem votar? Estamos focando apenas nas eleições majoritárias que, sem dúvidas, vão orientar o debate nos próximos anos. O legislativo desempenha um papel importante na reconstituição da nossa nação, após anos muito difíceis. A sociedade civil e partidos devem apresentar seus melhores nomes e darem condições para que cheguem ao conhecimento do maior número de pessoas, isso passa por garantir visibilidade e estrutura.
Minha esperança é que sejam quem sente na pele os problemas que falamos aqui: do empobrecimento que gera desemprego, fome, falta de saneamento, pois também poderiam trazer soluções. Aquelas e aqueles que desejam derrubar barreiras, como já fazem por acesso à educação e que agora estão oferecendo seus aprendizados para enfrentar essas crises sem precedentes que estamos vivendo, que estejam dispostos a lutar por mudanças mesmo sabendo dos riscos. Que sejam aquelas e aquelas capazes ampliar o diálogo e liderar coalizões entre diversos segmentos para construir um futuro melhor.
Wesley Teixeira
Morador da Baixada Fluminense, integrante do PerifaConnection, da Coalizão Negra por Direitos e da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo