Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
No Morro do Vidigal, Zona Sul da cidade do Rio, pai e filha decidiram investir em algo ainda visto com muito preconceito na atual sociedade: a reciclagem. O Centro de Reciclagem do Vidigal, desde fevereiro deste ano, vem tentando mudar os estereótipos do que se conhece como “Ferro Velho” e busca valorizar o trabalho dos catadores, gerando renda justa para eles, além de emprego para os moradores que precisam.
O Morro do Vidigal possui cerca de mais de 12 mil moradores e mais de 5 mil moradias. Essa grande quantidade de pessoas produzem igualmente uma grande quantidade de lixo. Mas a questão que fica é para onde vai todo esse lixo. O novo Centro de reciclagem surge como uma opção para este problema. Sob nova gestão, desde o início deste ano, o espaço é um projeto da comunidade de lixos sustentáveis, e que está se estruturando para fortalecer a sustentabilidade ambiental e resiliência social. O trabalho realizado no local, além da boa compensação financeira pelo material trazido pelos catadores, tem como finalidade auxiliar na consciência em relação ao meio ambiente.
Pai e filha à frente de práticas socioambientais
Betina Domingos, de 27 anos, e Danilo, de 69 anos, conhecido por todo Vidigal, são pai e filha que decidiram investir nesta demanda de lixo reciclável. Após comprar um novo galpão onde atuam na reciclagem, começaram a mudar o pensamento dos moradores sobre como tratar melhor os seus descartes. “Hoje em dia tem vindo bastante material. Até da Rocinha tem chegado aqui. Fazemos o intermédio entre o catador e a indústria. Nossa intenção é conscientizar o morador da comunidade de vir e trazer o material dele e, a partir disso, ele mesmo enxergar que pode fazer uma renda extra, em vez de deixá-lo ali na rua”, comentou Betina.
O espaço, que fica próximo à Escola Municipal Almirante Tamandaré, vem ganhando notoriedade com o serviço, aumentando também as oportunidades de emprego e renda aos moradores do Vidigal. Seu Danilo, que há mais de 30 anos é morador da comunidade, fala a respeito do diferencial quanto à valorização do trabalho dos catadores. “Antigamente aqui ninguém se importava de fato com isso, e nós começamos a olhar para isso. Procuramos um comprador que pague bem (pelo lixo), para pagarmos bem por ele aos catadores. Aqui não fede a lixo. É algo bem feito, para tirar esse preconceito também, porque é um trabalho como outros. As pessoas não tem noção de quanto o seu lixo pode valer, por isso não cuidam dele”.
A importância para quem recicla
Atualmente cerca de 10 funcionários trabalham na localidade. Todos são moradores de favelas. A moradora da Vidigal, Vitória de Souza, de 21 anos, há alguns meses trabalha no serviço de reciclagem e quebra estereótipos por ser mulher e trabalhar com lixo. “Eu gosto do que eu faço, do meu serviço. Quase todo dia volto com a roupa do trabalho e geralmente as pessoas me olham de cima para baixo e falam. Mas, eu digo que a profissão não define caráter. Aqui é um serviço importante. A reciclagem é para muitas pessoas a única fonte de renda, ainda mais nestes tempos difíceis. Se não trabalhar, a vida não anda”, contou a jovem.
O Centro de Reciclagem também ganhou uma parceria em conjunto com a empresa “PlasticBank”, que combate a poluição de plástico nos oceanos. Ao levar o seu material para reciclagem, é possível ganhar um valor financiado pela própria empresa – que pode virar um “vale refeição” -. Um dos catadores que frequentemente leva seu material no local é Edmilson Ricardo Nogueira, 51 anos, também morador do Vidigal. “Há muitos anos trabalho como catador aqui e esse centro tem sido um dos melhores. Pela qualidade do trabalho, melhorou muito. Acredito que meu trabalho é valorizado, e outros também são. Eles oferecem mais opções para trabalharmos, ficou mais amplo, isso é bom para nós. Não é só fazer reciclagem, não é só tirar o lixo das ruas, eu fiz disso o meu trabalho”. ressaltou Edmilson.
O Centro de Reciclagem funciona no endereço Avenida Presidente João Goulart, n 290, Vidigal, de segunda a sexta-feira das 8h ás 17h e sábado até 12h.