Era para ser o grande momento de Evelin Ferreira Carlos, de 42 anos, moradora do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Depois de muita espera, a dona de casa finalmente foi contemplada pelo programa Casa Carioca da Prefeitura do Rio de Janeiro. Entretanto, Evelin foi surpreendida quando ficou sabendo que sua casa não teria a reforma completa. “Só trocaram as tomadas!”
Evelin mora com a sua família na Rua União, na região conhecida como Capão. Ela nos recebeu em sua casa e apontou o que foi feito pelo pedreiro da prefeitura e o que ainda faltava. “Deram a obra da minha casa como finalizada. Mas cadê a finalização?” questionou a dona de casa. Praticamente, não há sinal de obras na casa de Evelin. As paredes da sala e dos quartos não foram pintadas e o teto dos cômodos permanece no cimento. No banheiro, a pia foi trocada e foi consertado um vazamento, mas não houve mais nada além disso. “É um momento que a gente espera muito, né? Nós, que somos moradores daqui. E a tal obra chegou pra mim. Demorou, mas chegou. E aí, eu que achei que ia me trazer muita coisa boa, né? Porque minha casa realmente precisa muito, é uma casa antiga.”
Expectativas frustradas
Evelin explicou como foi o processo. “Primeiro veio o engenheiro com o pedreiro. Mediram toda a minha casa. Isso foi em fevereiro, mais ou menos. Desde então, disseram que seria quase tudo: parede, teto, porta, janela. E, poxa, eu fiquei muito feliz, né?” A dona de casa foi comunicada que a obra ia demorar, mas só o fato de ser atendida pelo programa já tinha criado expectativa. Em julho, a obra chegou em sua casa. “Mas o que chegou pra mim? A obra chegou pra fazer só as tomadas das paredes, né? Eu falei, ‘como assim?’ Aí me falaram ‘não sei o que houve, mas só veio pra você fazer as tomadas’. É uma coisa que ele falou que demorava dois dias. A obra já finalizou na mente deles. Mas finalizou o quê? Porque as paredes estão por fazer. O meu teto está caindo. Eu sou uma mãe solteira. Tenho três filhas, estou desempregada. A obra chegou pra mim como? Eu tô querendo saber cadê a obra.”
Alteração na lista de materiais
Evelin contou à reportagem que no primeiro dia que recebeu o pedreiro em sua casa, a relação de materiais contemplava muitos itens. Até uma caixa d’água. Já no segundo dia que recebeu a visita do pedreiro, a lista de materiais já estava bem reduzida. “Eu tinha até comentado com a minha filha no primeiro dia que teríamos tudo, inclusive a caixa d’água. No segundo dia, cadê? Eu achei muito estranho”.
SEAC verifica situação de Evelin
O Voz das Comunidades entrou em contato com a Prefeitura do Rio para verificar a situação. O programa Casa Carioca é uma realização da Secretaria de Ação Comunitária (SEAC). Lançado em julho de 2022, o programa já transformou 2,8 mil imóveis na cidade. Informada sobre a situação, a SEAC respondeu que verificava a situação da moradora internamente.
Atualização:
Em nota, a secretária de Ação Comunitária informou que Marlí Peçanha, ao tomar conhecimento da situação, entrou em contato com a moradora Evelin Ferreira e esclareceu que a obra realizada na casa dela não foi feita em sua gestão. A secretária disse ainda que se comprometeu em ir pessoalmente nesta quinta-feira (27) até a casa da moradora para verificar a situação.
A espera continua
Enquanto isso, a dona de casa espera pela reforma de sua casa. “Eu preciso muito, cara, que alguém olhe por mim, pelas minhas filhas, porque é uma casa que eu comprei antiga, né? Eu sou sozinha, estou desempregada com as meninas, e elas também estão desempregadas. Além disso, tenho uma criança que tem problema respiratório. As paredes são muito mofadas, muito mofadas mesmo. E você consegue sentir o odor do mofo, sabe? O teto está desabando. Eu estou bem preocupada.”
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