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‘Só trocaram as tomadas’, moradora do Capão denuncia reforma inacabada em sua casa por programa da Prefeitura

Evelin Ferreira Carlos, de 42 anos, esperava a tão sonhada reforma completa, mas teve suas expectativas frustradas ao receber apenas uma troca de tomadas em sua casa
Foto: Rafael Costa / Voz das Comunidades

Era para ser o grande momento de Evelin Ferreira Carlos, de 42 anos, moradora do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Depois de muita espera, a dona de casa finalmente foi contemplada pelo programa Casa Carioca da Prefeitura do Rio de Janeiro. Entretanto, Evelin foi surpreendida quando ficou sabendo que sua casa não teria a reforma completa. “Só trocaram as tomadas!”

Evelin mora com a sua família na Rua União, na região conhecida como Capão. Ela nos recebeu em sua casa e apontou o que foi feito pelo pedreiro da prefeitura e o que ainda faltava. “Deram a obra da minha casa como finalizada. Mas cadê a finalização?” questionou a dona de casa. Praticamente, não há sinal de obras na casa de Evelin. As paredes da sala e dos quartos não foram pintadas e o teto dos cômodos permanece no cimento. No banheiro, a pia foi trocada e foi consertado um vazamento, mas não houve mais nada além disso. “É um momento que a gente espera muito, né? Nós, que somos moradores daqui. E a tal obra chegou pra mim. Demorou, mas chegou. E aí, eu que achei que ia me trazer muita coisa boa, né? Porque minha casa realmente precisa muito, é uma casa antiga.”

Expectativas frustradas

Evelin explicou como foi o processo. “Primeiro veio o engenheiro com o pedreiro. Mediram toda a minha casa. Isso foi em fevereiro, mais ou menos. Desde então, disseram que seria quase tudo: parede, teto, porta, janela. E, poxa, eu fiquei muito feliz, né?” A dona de casa foi comunicada que a obra ia demorar, mas só o fato de ser atendida pelo programa já tinha criado expectativa. Em julho, a obra chegou em sua casa. “Mas o que chegou pra mim? A obra chegou pra fazer só as tomadas das paredes, né? Eu falei, ‘como assim?’ Aí me falaram ‘não sei o que houve, mas só veio pra você fazer as tomadas’. É uma coisa que ele falou que demorava dois dias. A obra já finalizou na mente deles. Mas finalizou o quê? Porque as paredes estão por fazer. O meu teto está caindo. Eu sou uma mãe solteira. Tenho três filhas, estou desempregada. A obra chegou pra mim como? Eu tô querendo saber cadê a obra.”

Alteração na lista de materiais

Evelin contou à reportagem que no primeiro dia que recebeu o pedreiro em sua casa, a relação de materiais contemplava muitos itens. Até uma caixa d’água. Já no segundo dia que recebeu a visita do pedreiro, a lista de materiais já estava bem reduzida. “Eu tinha até comentado com a minha filha no primeiro dia que teríamos tudo, inclusive a caixa d’água. No segundo dia, cadê? Eu achei muito estranho”.

SEAC verifica situação de Evelin

O Voz das Comunidades entrou em contato com a Prefeitura do Rio para verificar a situação. O programa Casa Carioca é uma realização da Secretaria de Ação Comunitária (SEAC). Lançado em julho de 2022, o programa já transformou 2,8 mil imóveis na cidade. Informada sobre a situação, a SEAC respondeu que verificava a situação da moradora internamente.

Atualização:

Em nota, a secretária de Ação Comunitária informou que Marlí Peçanha, ao tomar conhecimento da situação, entrou em contato com a moradora Evelin Ferreira e esclareceu que a obra realizada na casa dela não foi feita em sua gestão. A secretária disse ainda que se comprometeu em ir pessoalmente nesta quinta-feira (27) até a casa da moradora para verificar a situação.

A espera continua

Enquanto isso, a dona de casa espera pela reforma de sua casa. “Eu preciso muito, cara, que alguém olhe por mim, pelas minhas filhas, porque é uma casa que eu comprei antiga, né? Eu sou sozinha, estou desempregada com as meninas, e elas também estão desempregadas. Além disso, tenho uma criança que tem problema respiratório. As paredes são muito mofadas, muito mofadas mesmo. E você consegue sentir o odor do mofo, sabe? O teto está desabando. Eu estou bem preocupada.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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