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Sem trégua, Covid-19 volta a atingir as favelas do Rio

Após queda no final do ano, comunidades somam mais de 18 mil casos registrados e doze mortes em janeiro
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

O ano de 2022 começou com o impacto da nova variante da Covid-19, a Ômicron, que, segundo especialistas, é mais contagiosa do que as outras, fazendo com que haja mais infecções em um curto período de tempo. Com isso, postos de saúde passaram de poucos pacientes, para uma quantidade grande de pessoas.

Em janeiro, foi registrado alta de 18.360% dos casos nas favelas do Rio de Janeiro. Diferente do final de 2021, que havia fechado sem nenhum caso. Os dados são do Painel da Covid-19 do Voz das Comunidades, que registrou, até o dia 28 de janeiro, 18.360 novos casos nas 40 favelas monitoradas. Do total, doze pessoas morreram, o que corresponde a 0,065% dos infectados pelo vírus. A diminuição da taxa de letalidade, no entanto, coincide com a marca de quase 70% da população vacinada com as duas doses; são mais de 148 milhões de brasileiros imunizados até o momento.

Sabrina Guimarães, coordenadora de enfermagem da UPA do Complexo do Alemão, trabalha na unidade desde 2015 e acompanhou todo o período de pandemia. Ela conta que esperava por um aumento no número de casos, já que descobriram mais uma variante: a Ômicron. Mas, não se compara aos anos anteriores. “Não estamos tendo aqueles quadros da época do início do Coronavírus em que as pessoas já chegavam mortas ou em situação grave. Normalmente, os casos mais complexos são de pessoas que não se vacinaram ou que têm muita comorbidade”, explica. 

Sabrina Guimarães, coordenadora de enfermagem da UPA do Alemão
Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

Ela conta, também, que no atual momento o que mais a preocupa é o número de funcionários que precisam ser afastados ao testarem positivo para Covid-19. “A equipe de saúde está o tempo todo em contato com pacientes e é impossível, mesmo com todos os cuidados, a gente não se contaminar. Então, precisamos sempre estar repondo esses profissionais para poder dar o atendimento que a população precisa. Graças a Deus, por enquanto, estamos conseguindo!”, diz.

Vacinas salvam vidas!

A coordenadora de enfermagem enfatizou que é totalmente a favor da vacinação e que a imunização infantil deveria ter acontecido há muito tempo, assim como a de toda a população, que teria a chance de se vacinar em 2020, caso o governo federal não tivesse atrasado a compra dos imunizantes. “Até agora, as crianças infectadas que chegam aqui não precisam ficar internadas, a não ser as que têm problema cardíaco ou já têm algum problema respiratório; essas precisam de um pouco mais de assistência”, revela.

De acordo com o Instituto Butantan, centro de pesquisa que produz a Coronavac em parceria com o laboratório chinês Sinovac, a Covid-19 já matou mais de 1.400 crianças de 0 a 11 anos no Brasil e causou Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) em mais de 2.400. A síndrome afeta o coração e pode levar ao óbito. 

Sabrina ressaltou, também, que o número de pessoas “antivacina” na unidade do Alemão é pequeno. Lembrando que, em agosto de 2020 – primeiro ano de pandemia – o governo de Jair Bolsonaro rejeitou 70 milhões de doses da Pfizer. O presidente regional da marca, Carlos Murillo, disse que tentava negociar a venda desde maio do mesmo ano. A vacinação começou no ano seguinte, em janeiro de 2021, com apenas 6 milhões de doses da CoronaVac para todo o Brasil. 

Como eu sei se preciso testar para Covid-19?

Janaína Balmant no Centro de Testagem da Vila Olímpica do Alemão
Foto: Matheus Guimarães/Voz das Comunidades

O Centro de Testagem de Covid-19 da Vila Olímpica do Complexo do Alemão tem realizado, diariamente, uma média de 1000 testes. Segundo Janaína Balmant, enfermeira de formação e assessora do Coordenador Geral de Atenção Primária da Área de Planejamento 3.1, Thiago Wendel, depois de positivar para Covid-19, muita gente volta depois dos 7 dias para testar novamente, sem necessidade. 

Desde a sua inauguração, em 8 de dezembro de 2021, até 20 de janeiro deste ano, o CT da Vila Olímpica do Alemão realizou 23.462 atendimentos. Destes, 15.528 deram negativo e 6863 positivos. 

Shirlei Lopes, de 38 anos, recebeu o resultado positivo. Ela foi fazer o teste porque estava sentindo dor no corpo, além de estar com febre há dias. “Estou suando frio. Tenho duas doses da vacina, mas não tomei a terceira dose porque, sinceramente, odeio tomar vacina, hospital e essas coisas”, relata. 
Foto: Matheus Guimarães/Voz das Comunidades

Em casos sintomáticos, Janaína orienta que a pessoa vá fazer o teste no primeiro dia de sintomas. “O paciente vai passar pela triagem, onde vão fazer a classificação de risco. Ela vai testar e sair com a prescrição médica. Em caso de teste positivo, nós fazemos toda a orientação de isolamento – são 7 dias – e das medidas que as pessoas precisam ter em casa. Por exemplo, não precisa separar talher, mas minimamente limpar as superfícies com álcool, como maçaneta e cadeira, que são locais de fácil contaminação. Se tiver como, dormir em quarto separado. Se não, todo mundo de máscara em casa”, ressalta. “Não existe tratamento para Covid-19, especificamente. Tratamos os sintomas do vírus como um resfriado, medicando de acordo com os sintomas”, disse Janaína. 

Suelen Machado, de 37 anos, testou negativo. Ela estava sem sintomas e foi ao Polo por ter tido contato com pessoas infectadas. “Não tivemos muito contato, mas vim por desencargo de consciência”, conta. 

Suelen Machado e sua filha Emanuelle Vitória segurando o resultado negativo
Foto: Matheus Guimarães/Voz das Comunidades

Em casos de pessoas assintomáticas, não é preciso realizar o teste. “Caso a pessoa more na mesma casa que alguém infectado, ela já é considerada infectada também. Então, se ela precisar de um atestado de afastamento para o trabalho, pode ir até o centro de testagem explicando que é “contato positivo”. Nisso, a pessoa será avaliada e liberada. Não há necessidade de testar, porque ela já é contato, mas não tem sintoma, ou seja, nós afastamos essa pessoa porque ela já pode contaminar outros”. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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