Crianças diagnosticadas com algum transtorno do espectro autista enfrentam desafios no desenvolvimento de ações, movimentos, pensamentos e até na percepção do mundo ao seu redor. Cada uma pode apresentar dificuldades diferentes, seja no aspecto físico, mental ou psicológico.
Uma das formas mais eficazes de apoiar essas crianças é por meio da terapia ocupacional. Esse tratamento trabalha com cada criança de maneira individualizada, levando em conta suas necessidades e capacidades. O objetivo principal é promover a independência, a segurança e a capacidade de enfrentar os desafios do dia a dia, melhorando sua qualidade de vida e favorecendo a participação ativa em ambientes como escola, casa e outros espaços.
No entanto, segundo o Mapa Autismo Brasil, apenas 9,70% das crianças com diagnóstico recebem esse tipo de terapia, especialmente na infância. A falta de acesso a consultórios que oferecem preços acessíveis é uma das principais barreiras para muitas famílias, especialmente nas zonas mais vulneráveis do Rio de Janeiro.
Percebendo essa realidade, André Melo, presidente da ONG Nóiz, da Cidade de Deus, tomou uma atitude inovadora. Ele inaugurou uma sala sensorial na comunidade, que contará com o apoio de uma terapeuta ocupacional (TO) especializada no tratamento de crianças com autismo. A sala, batizada de Sala Multissensorial Rafael Dias, foi criada para atender as necessidades das crianças autistas da região e se destaca como a primeira de grande porte em uma favela do Rio.
Esse projeto ganhou força com o apoio de campanhas de arrecadação e também com a contribuição de patrocinadores como o Grupo Águia Turismo, que forneceu os equipamentos necessários para o espaço. O nome da sala foi uma homenagem ao filho do presidente da ONG, André Melo, diagnosticado com autismo grau 3. A expectativa é atender 8 crianças por dia, oferecendo um ambiente com tecnologia inovadora, como um sistema de luzes controladas por comando de voz, que pode alterar as cores do ambiente. Além disso, o espaço conta com ferramentas sensoriais que estimulam o toque, o som e as texturas, promovendo tanto o desenvolvimento das crianças quanto o seu relaxamento.
Ivanildo Mota, colaborador da ONG, destaca um ponto importante. “Algumas crianças aqui da comunidade nem têm seus laudos em mãos, e a gente tem que ajudar nesse processo também.” A ONG também oferece outras atividades essenciais para o desenvolvimento, como sala de informática, psicologia, biblioteca e atividades extracurriculares, como dança, luta e teatro, que já atendem crianças atípicas da comunidade.
André Melo, presidente da ONG, enfatiza a importância dessa expansão. “Já atendemos algumas crianças atípicas nas atividades que oferecemos, mas com a sala sensorial, a terapeuta ocupacional e a psicóloga, esperamos atender mais crianças e acompanhar o desenvolvimento delas. Muitas nunca tiveram contato com terapia e isso fará toda a diferença.”
A iniciativa da Sala Multissensorial Rafael Dias é um exemplo de como a união de recursos e a colaboração comunitária podem trazer transformações significativas para as crianças com autismo e suas famílias.