Foto: Acervo Pessoal
No Morro do Santa Marta, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, um projeto social faz a diferença na cultura da comunidade e de seus moradores. A iniciativa tem como fundamento usar os princípios da capoeira como estilo de vida e determinação.
A capoeira é uma arte marcial que possui uma grande representatividade na cultura afro-brasileira. Ela mistura o esporte com cultura popular, dança e música. A origem da luta vem do período da escravização de africanos no Brasil. Na época, eles criaram a capoeira como uma forma de luta e resistência dentro das senzalas, se protegendo da violência e punição dos Senhores de Engenho.
Sobre o projeto social
Comandado pelo Professor Alex Lino, mais conhecido na comunidade como Sil, de 42 anos, o projeto social Capoeira Santa Marta há quase 28 anos atua na localidade do Morro Santa Marta. A iniciativa começou com o irmão em 1993, na quadra da G.R.E.S. Mocidade Unida do Santa Marta, e permanece até hoje no mesmo local. O capoeirista fala da importância de retribuir para a comunidade as oportunidades que ele teve graças à arte marcial brasileira.
“Tive uma infância muito pobre. Vivia pelos becos da favela vendo situações que não agregaram nada de bom para a minha vida. E com a Capoeira, fui incentivado a sempre estudar, me disciplinando e, por ser levado para shows, apresentações, fui conhecendo outro mundo. E hoje, conheço o Brasil quase todo, alguns países da Europa e pude dar uma estrutura melhor do que tive para minhas filhas. Hoje não moro mais no Santa Marta. Volto lá duas, três vezes por semana para contribuir com o chão que me criei. A Capoeira transformou a minha vida. É com ela que quero transformar a vida de outras pessoas. O sentimento de gratidão e amor que tenho pela Capoeira é o sentimento que deposito no projeto, tentando mudar a perspectiva de vida dos envolvidos”, contou o professor.
Capoeira transformando vidas
O primo mais velho, fundador do projeto Anderson Lino, de 48 anos, atualmente vive na Espanha. Ele começou ensinar capoeira em casa. E, posteriormente, no espaço cedido pela associação de moradores da comunidade, incentivou outras crianças a seguirem um caminho correto a partir dessa prática. Anderson conta como é poder ver outros como ele tendo suas vidas modificadas.
“O projeto foi importante em todos os momentos da minha vida, porque ali eu comecei, que eu aprendi. E isso eu trouxe para a Espanha. Os momentos difíceis de tristeza, eu matava nas rodas com os amigos que fiz, nas pessoas que acreditam em mim. Isso foi me dando força para não desistir, porque tem pessoas que estão atrás de você e precisam de você. Isso é o que trago do Santa Marta, minha comunidade, essa força”, ressalta Anderson.
Aluna do projeto desde 2009, Vandessa Helen comenta como a arte marcial foi importante para superar um momento difícil da vida. “O projeto me ajudou e me ajuda até hoje nas minhas decisões da vida, querendo conquistar e evoluir cada vez mais. Hoje o projeto é muito mais importante do que antes, pois sofri um avc há 2 anos e a Capoeira foi e é a minha fisioterapia. Isso é muito importante para mim. Um projeto, como esse na favela, é como um resgate, para tirar o foco das crianças para com o tráfico e incentiva-las a estudar e ver a vida de um outro ângulo”.
Mesmo com todas as dificuldades que o projeto apresenta, como manutenção do local, troca dos instrumentos, e uniformes para novos alunos, o professor continua firme na luta social. Hoje cerca de 80 alunos fazem parte do projeto. As aulas acontecem na quadra do Santa Marta, que fica em Botafogo, na Rua Jupira, 72. Treinos terças e quintas-feiras, das 19h às 20h, infantil, e das 20h às 21h30h adulto.