Projeto Bem Me Quer: Iniciativa realiza reforço escolar para crianças do Complexo do Alemão

Há 10 anos, projeto vem desenvolvendo e educando alunos na favela
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Com o objetivo de ensinar e ajudar crianças, o projeto Bem Me Quer fica na Rua Itararé, 320, no Complexo do Alemão. A iniciativa, que completou 10 anos recentemente, começou com a ideia de Gláucia Lima, professora do ensino privado.

Moradora do Méier, zona norte do Rio de Janeiro, Gláucia teve o intuito de levar o conhecimento além da escola, desejando usar sua experiência e aprendizado para fazer o bem a quem precisa. Tudo começou como uma iniciativa educacional e cultural itinerante em creches e orfanatos. O objetivo da professora era proporcionar um dia diferente para as crianças. Um dia especial com entrega de brinquedos, recreação educativa e aulas de artes e teatro. Após algum tempo realizando essas atividades, Gláucia sentiu que apenas isso não era suficiente e um dia era muito pouco.

Foi então que ela decidiu iniciar um projeto integral, que pudesse ensinar e oferecer uma nova realidade para as crianças por meio da cultura e educação. “E foi assim que comecei esse sonho maluco e difícil. Começamos sem nada, completamente do zero, só com vontade e desejo de concretizar essa ideia,” comenta Gláucia.

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Ensinando e Fazendo o Bem

Desde o início, até hoje, o projeto é sustentado pelos pais de alunos que tiveram aula com Gláucia em seu antigo trabalho, e que contribuem com mensalidades, vaquinhas, pequenas reformas, passeios e até nas festas, como Páscoa, Festas Juninas, Dia das Crianças e Natal. Com Gláucia trabalham mais duas mulheres: a professora Benaia Flores, que está há 5 anos no projeto, e Ingrid do Nascimento, mãe ajudante que auxilia em todas as funções há 3 anos.

Atualmente, o projeto atende 26 alunos, do 1° ao 7° ano do ensino fundamental, e funciona três vezes por semana, nas tardes de segunda, quarta e sexta-feira. Com o propósito de complementar o ensino da rede pública, as aulas focam no reforço de português e matemática. A iniciativa prioriza o progresso dos alunos, avaliando se eles devem continuar no projeto no ano seguinte, sempre garantindo que façam todas as tarefas e trabalhos da escola. Além disso, busca oferecer experiências diferentes para os alunos, com aulas de informática, passeios culturais e dias voltados exclusivamente para atividades recreativas.

A professora Benaia Flores comenta: “A educação é tudo para mim! Ensinar essas crianças é um grande prazer. Ver o crescimento e desenvolvimento deles na escola me faz muito feliz. Fico contente ao ver os alunos do projeto sendo aprovados na escola e sabendo que aprenderam cada matéria. Isso é muito gratificante para mim como professora, poder ensiná-los continua sendo um prazer imenso.”

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Em meio as dificuldades

Infelizmente, ao longo desses 10 anos, as dificuldades surgiram, e o projeto não foi exceção. Após o fim da pandemia de COVID-19, a iniciativa perdeu o patrocínio da marca Piraquê, que fornecia lanches para os alunos, além de perder o apoio de uma empresa de transporte que realizava os passeios. Sem o patrocínio para passeios, pagamento dos funcionários e lanche, o projeto passou a pedir uma taxa de R$20 reais por mês de cada aluno, para colaboração. 

Mas a maior tristeza, no entanto, veio quando o projeto recebeu a oferta do espaço maior que está atualmente, mas o local estava em péssimas condições e ninguém sabia. Após a mudança e a reforma do espaço, tudo foi destruído por uma chuva de verão.  “Eu vou dizer para você no fundo do meu coração, depois disso eu falei que iria fechar e desistir. Porque não é fácil manter, é uma luta diária e constante, quando você quer ser certo, sabe? Eu não tenho ajuda, apoio e patrocínio de ninguém. É muito difícil, porque o que eu faço, é do meu coração e eu quero fazer sempre certo.  Porque eu vim com esse objetivo.” Declara Gláucia.

Rede de Apoio e Amor

Após perderem tudo, a primeira ideia foi iniciar uma vaquinha para reformar o projeto mais uma vez. A ajuda da rede de apoio que sempre esteve presente, conseguiu arrecadar R$5 mil para reparar e revitalizar o espaço. Com o esforço e a dedicação das mães, que se uniram na reforma, foi possível reerguer o projeto com a construção de um banheiro e de uma cozinha e recuperar tudo o que havia sido perdido.

Com a ajuda de uma rede de apoio, o projeto Bem Me Quer conseguiu se reerguer dentro desses 10 anos, fazendo o bem, superando as dificuldades e mantendo o objetivo de transformar vidas através da educação e cultura. Como bem resume Gláucia, a fundadora: Nosso lema, nossa filosofia, é fazer o bem sem olhar a quem, como está escrito nos nossos uniformes”, conclui.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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