O Programa Cidade Integrada, elaborado pelo governo de Cláudio Castro, completou 2 anos nesta sexta-feira (19). O programa entrou na comunidade como uma ação efetiva, prometendo projetos sociais e serviços disponíveis à comunidade. Mas o que se vê hoje é um saldo zerado de ações.
‘Cidade integrada, aqui no Jacarezinho, não existe’
O Voz das Comunidades recebeu relatos de moradores que moram na favela do Jacarezinho. Através deles, torna-se visível como o programa se consolidou como um fracasso até o momento. Segundo uma moradora, o Jacarezinho é “uma comunidade grande. Eu ando nela parece que estou na década de 70, sem melhorias. Sobre a educação, a impressão que dá é que não querem ver os jovens crescendo, não querem que quem more em comunidade tenha expectativa de vida e crescimento, resumindo não querem melhoria.”.
Operações frequentes acabam fazendo com que o Jacarezinho tenha uma “fama” ruim para a sociedade e isso impacta diretamente para os moradores da favela. Os relatos da mãe abordam essa situação. “Tenho um filho de 19 anos tem transtorno. Devido a isso se fechou, agora ele foi morar com o pai. Lá é menos perigoso que aqui. Mas começou andar com pessoas que pelo olho da sociedade não e legal. Sempre criei meus filhos no meio da arte. Ele fez esporte no Cefan, mas infelizmente, a idade chegou. ELe me pediu pra fazer teatro. Onde vou achar teatro aqui? Colocamos curriculum e ninguém chama. E com as crises que ele tem de bipolaridade, não sei como vai ser, mais com a arte iria ajudar ele é muito.
Para Felipe Medeiros, morador da comunidade do Jacarezinho, o Cidade Integrada foi um cavalo-de-Tróia. “Aparentemente era lindo, cheio de planos e projetos mas na real era só fachada pra poderem colocar policiamento aqui. Parece birra de morador insatisfeito mas nem se trata disso. Simplesmente nada do que foi proposto funciona”, comentou. Felipe também comentou que posto de saúde e centro de esporte nunca saiu do papel.
“O número de tiroteios e de baleados este ano no Jacarezinho já é maior que a soma dos tiroteios ocorridos no bairro nos primeiros 16 dias dos anos anteriores desde 2017”
O Instituto Fogo Cruzado contabilizou os números das operações realizadas no Rio de Janeiro desde o início do ano e o Jacarezinho encabeçou a lista de tiroteios intensos. Segundo o instituto, “em 16 dias, o Jacarezinho tem a mesma quantidade de tiroteios que a soma de registros do Éden, Brás de Pina e Vila Isabel, bairros que ocupam a segunda, terceira e quarta posição no ranking respectivamente.
Os 10 bairros mais afetados pela violência armada nos primeiros 16 dias de 2024 foram:
- Jacarezinho (Rio de Janeiro): 15 tiroteios, 2 mortos e 6 feridos
- Éden (São João de Meriti): 6 tiroteios e 1 ferido
- Brás de Pina (Rio de Janeiro): 5 tiroteios e 2 mortos
- Vila Isabel (Rio de Janeiro): 4 tiroteios e 3 feridos
- Itanhangá (Rio de Janeiro): 3 tiroteios, 1 morto e 1 ferido
- Campinho (Rio de Janeiro): 3 tiroteios
- Mangueira (Rio de Janeiro): 3 tiroteios
- Vilar dos Teles (São João de Meriti): 3 tiroteios
- Bangu (Rio de Janeiro): 3 tiroteios e 1 morto
- Cascadura (Rio de Janeiro): 2 tiroteios e 1 morto
O Fogo Cruzado retrata que no tiroteio mais recente, que ocorreu no dia 16, a operação policial deixou seis pessoas baleadas: duas mortas e quatro feridas. Ao todo, entre os oito baleados no Jacarezinho em 2024, metade foi vítima de balas perdidas – três deles, atingidos neste mesmo tiroteio do dia 16 de janeiro.
Nos últimos oito anos, o Jacarezinho acumulou nos primeiros 16 dias:
- 2024: 15 tiroteios, 2 mortos e 6 feridos
- 2023: sem tiroteios mapeados
- 2022: sem tiroteios mapeados
- 2021: sem tiroteios mapeados
- 2020: sem tiroteios mapeados
- 2019: 2 tiroteios e 1 morto
- 2018: 9 tiroteios, 1 morto e 1 ferido
- 2017: 2 tiroteios e 1 ferido
E a polícia?
O Voz das Comunidades entrou em contato com a assessoria da polícia militar do Rio de Janeiro. No contato, questionamos sobre os dois anos do programa na comunidade, assim como projetos que deram certo, não deram certo e quais seriam as projeções da instituição para o 2024 sobre o Cidade Integrada. Até o momento do fechamento desta matéria, o Voz das Comunidades não recebeu nenhuma resposta.