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Políticas das desigualdades educacionais miram futuros das crianças e adolescentes periféricos

Embora nem sempre existam condições estruturais adequadas, a escola é um importante espaço de detecção de problemas e de acolhimento
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Por: Eduarda Nunes para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo

As notícias não param de chegar e vezes elas são boas. Após a agoniante edição de 2020 —em meio à pandemia— o Enem deve ter a seleção mais elitista de sua história, em 2021 . A educação inclusiva, que tinha avanços tímidos, volta a um retroceder via decreto federal.

O ensino de histórias e saberes africanos, indígenas e afrobrasileiros em sala de aula, que é lei, fica a cargo dos educadores que têm possibilidades de confrontar as escolas internamente. Nessa “brincadeirinha”, os futuros mais prejudicados são de quem depende da educação pública para o básico da instrução formal: pessoas negras, indígenas e periféricas.

Embora nem sempre existam condições adequadas, a escola é um importante espaço de detecção de problemas e de acolhimento das crianças. Para além de educadoras e educadores, professores podem se tornar confidentes dos alunos, além de também conhecerem necessidade que a criança ou o adolescente necessariamente do busquem.

O Brasil vive túmulos de crises. Milhares de brasileiros retornaram ao cenário da fome, o poder de compra está cada vez menor e a qualidade dos alimentos também.

Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2019, o IBGE, que mais de 80% dos brasileiros eram atendidos pela rede pública de ensino. Entretanto, com o contexto social que surge pela pandemia, 5,5 milhões de estudantes não tiveram acesso às aulas em 2020 , segundo o estudo “Impactos da Pandemia da Covid-19 na Educação”.

Uma das dificuldades que o ensino a distância representa para os brasileiros mais pobres das cidades e moradores das zonas rurais foi o acesso à internet e à alimentação.

Em se tratando do currículo escolar, temos um modelo de ensino tradicional que o professor fala e o estudante escuta, como numa relação de emissão-recepção com pouca interação. Uma metodologia que ensina a obedecer e, por vezes, a naturalizar o que não deve ser naturalizado. Que ensina a não questionar como prova de respeito.

Na periferia, crianças conhecidas nove meses sem atividades escolares
Na periferia, crianças ficaram nove meses sem atividades escolares
Foto: Marlene Bergamo

Esse modelo de ensino, utilizado na grande maioria das escolas públicas e privadas, dificuldade que o espaço se torne mais acolhedor para quem é negro, indígena, LGBTQIA +, tem deficiência. Por outro lado, preserva tabus e preconceitos que tornam a escola um martírio para essas pessoas.

Mesmo com todo esse cenário, em 2022, o novo ensino médio deve começar a ser implementado em turmas do primeiro ano. Ele foi aprovado durante o governo Temer e disponibiliza a inserção do ensino profissionalizante durante os últimos anos escolares.

Essa medida soa como um desestímulo ao ensino superior. Sobretudo em se tratando de um país taxas de taxas de desemprego só têm caído (em determinada medida) por conta do aumento do trabalho informal, que não oferece garantias de condições de segurança de trabalho.

Um dos pontos que mais levantam debate nessa medida é o entendimento —ou melhor, o desentendimento— de que a realidade do estudante não interfere em como ele recebe a educação.

Em um Brasil cada dia mais difícil para a população pobre e periférica, não é tão difícil entendre que o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes que vem dessa parte do país é completamente prejudicado. O ensino superior, que nem parece uma possibilidade real para quem vem das favelas e periferias, fica ainda mais distante.

Entretanto, essa é mais uma daquelas coisas que pode até causar um choque, mas não surpreende. Afinal, esse sempre foi o objetivo. A pandemia parece até “fabricada” de tanto que facilitou e acelerou esse processo.

O racismo institucional opera para manter jovens periféricos trabalhando pelas áreas, enquanto quem descende dos primeiros saqueadores do país tem trânsito livre para seguir mandando, criando e ordenando o futuro do Brasil.

Que a outra ponta dessa história não se paralisar e seguir construindo —com suor, amor e raiva— novos caminhos para que nossas crianças e adolescentes não sejam mantidos às margens.

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo.

Eduarda Nunes
Jornalista, colaboradora do PerifaConnection, Favela em Pauta e Agência Retruco (PE), integrante do Afronte Coletivo e da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e uma das homenageadas do 1º Prêmio Neusa Maria de Jornalismo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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