As operações policiais nas favelas causam um prejuízo de aproximadamente R$14 milhões anuais para quem vive nesses locais. Com essas ações, muitos ficam impedidos de ir ao trabalho (por muitos dias) ou precisam ficar com os seus pequenos comércios fechados. Além disso, ainda acabam tendo suas casas, carros e estabelecimentos atingidos pelos tiros,quando não ficam sem luz e água.
Uma pesquisa, lançada em setembro deste ano, feita pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), “Favelas na Mira de Tiro: Impacto da Guerra às Drogas na Economia dos territórios” mostrou que os dois territórios sofreram com a grande incidência de tiroteios decorrentes de ações policiais. 400 moradores dos Complexo da Penha e 400 de Manguinhos, ambos na Norte do Rio, foram entrevistados. Também foram ouvidos 303 comerciantes e prestadores de serviços especificamente da Vila Cruzeiro, Mandela de Pedra, as duas que mais sofreram com os enfrentamentos bélicos.
Os dados da pesquisa mostraram que 60,4% dos moradores dos complexos da Penha e de Manguinhos, que trabalhavam com remuneração, precisaram faltar nos seus trabalhos por causa de operações policiais que ocorreram ao longo do ano. Eles perderam, em média, 7,5 dias de trabalho, o equivalente a uma semana e meia ou 2,8% de um ano com 264 dias úteis.
Sabendo que a população adulta que mora nessas favelas ganha em média R$ 1.652 por mês, os dias que essas pessoas deixam de trabalhar pelas operações as fazem perder, se somados o prejuízo de todos, um valor anual de aproximadamente R$ 9,4 milhões. Os prejuízos decorrentes da reposição ou reparo de bens danificados também são expressivos, chegando a R$ milhões por ano nos dois complexos.
A pesquisa mostra ainda que 56,6% dos moradores não conseguiram usar o transporte público; 42,8% não conseguiram curtir seu lazer; 33,3% não receberam suas encomendas; 32,3% não conseguiram ir ao médico, e 26% não puderam estudar.
Os tiroteios resultantes de operações policiais fizeram 51,3% dos estabelecimentos da Vila Cruzeiro e de 46,3% de Mandela de Pedra fecharem temporariamente, nos 12 meses anteriores à pesquisa nas duas favelas. 51,2% dos empreendimentos tiveram diminuição em suas vendas e/ou atendimentos.
Em entrevista ao Ponte Jornalismo, a socióloga e coordenadora-adjunta do CESeC Mariana Siracusa traz uma análise, com recorte de raça/cor, que explica a motivação desta situação. “A gente está falando de territórios majoritariamente negros, e também historicamente marginalizados e criminalizados, com uma origem associada aos quilombos, como a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. A gente tem vários governadores se referindo a esses territórios como lugar de bandido. É o racismo que legitima a atuação das forças policiais nesses territórios.”
Violência e morte
De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), do governo estadual, 1.327 pessoas morreram em ações de segurança do estado do Rio de Janeiro em 2022, o que equivalente a 29,7% de todas as mortes violentas (homicídios dolosos, mortes decorrentes de ação policial, roubo seguido de morte e lesão corporal seguida de morte) registradas no ano, que totalizaram 4.473.
Segundo o Instituto Fogo Cruzado, nos últimos 7 anos, entre julho de 2016 e julho de 2023, as ações e operações policiais foram o principal motivo para vitimar crianças e adolescentes. Nesse período, 112 crianças e adolescentes foram mortas e 174 ficaram feridas.