Reportagem em parceria com o jornal Maré de Notícias
O dia 19 de agosto é o Dia Nacional do Orgulho Lésbico. a data é uma celebração pela vida, história e pelos direitos de mulheres lésbicas. Este dia marca o “pequeno Stonewall brasileiro”, em alusão ao evento que deu inicio as manifestações do orgulho nos Estados Unidos na porta do bar Stonewall inn, em Nova York. Aqui no Brasil, o movimento se manifestou na tomada do Ferro’s Bar na noite de 19 de agosto de 1983 pelo Grupo Ação Lésbica- Feminista (GALF). Elas agiram contra o machismo e opressão sofrida pelas mulheres que frequentavam o estabelecimento. Porém, ela não é a única no Rio de Janeiro que celebra o amor entre mulheres.
Embora lésbicas estejam representadas no início da sigla LGBTQIAPN+, não são as primeiras nas conquistas de oportunidades e visibilidade. Essas são questões levantadas pela Resistência Lésbica, uma coletiva que atua há cinco anos com acolhimento e apoio para lésbicas e bissexuais. A Casa Resistência Lésbica, criada há um pouco mais de um ano, é a primeira casa de acolhimento para este público dentro de uma favela. Ela está localizada na Vila do Pinheiro, no Conjunto de Favelas da Maré.
Segundo Camilla Fellipe, de 26 anos, uma das lideranças da Resistência Lésbica, considera que o dia 29 de agosto Dia da Visibilidade Lésbica é mais importante para as mulheres lésbicas por ser um marco da reunião do Seminário Nacional de Lésbicas, que aconteceu aqui no Rio de Janeiro em 1996. No seminário, mulheres debateram sobre as violações dos direitos por causa da sua orientação sexual.
‘Nós por nós‘
Camila conta que mesmo tendo motivos para comemorar no dia do orgulho lésbico, ainda continuam tendo que ser resistentes para se manter, principalmente dentro da favela. “Primeiro por ser mulher, além de ser lésbica. A favela ainda é muito machista apesar das casas serem chefiadas por mulheres”, detalha. “Nossa luta é o ano inteiro. Passamos por muita invisibilidade. É tudo nós por nós”, completa Camila. Dayana Gusmão, 38 anos, coordenadora da coletiva, afirma que as lutas das lésbicas do asfalto e da favela são diferentes. “Lésbicas de favela estão lutando para ter um teto”.
Dayana conta que ser forte para poder ser ouvida é cansativo. “Quanto tempo mais vamos ter que falar o óbvio? Entrar em embates é cansativo e sempre que uma mulher negra se manifesta ela é chamada de raivosa” afirma.
Modo sementes
Dayana reflete que tem motivos de comemorar sobre a mobilização das mulheres lésbicas de favelas. “A gente se organiza em modo de sementes, vamos plantando em cada lugar e nascendo os frutos”. Segundo ela, nos últimos quatro anos “muita sapatão acordou”.
Tanto para Camila como também para Paloma Marins, 38 anos, coordenadora de empregabilidade da coletiva, Dayana é uma referência na luta pelos direitos das lésbicas de favela. Elas contam que é difícil ter referências porque não se fala muito do amor entre mulheres. Além disso, muitas, principalmente as mais velhas, têm medo de sofrer a lesbofobia, ou seja, o preconceito por serem lésbicas.
Dayana cita algumas referências como Dona Orosina, uma antiga moradora, liderança da favela. Mulher negra, rezadeira, Orosina, que morou no morro do Timbau, denunciou os abusos dos militares do Exército Brasileiro para o Presidente Getúlio Vargas. E Marielle Franco, figura política, ativista e vereadora carioca, cria da Maré.
A Coletiva
A Resistência Lésbica existe há 5 anos e segue acolhendo mulheres lésbicas e bissexuais com apoio emocional, psicológico e atendimento jurídico. Além do atendimento, as mulheres podem utilizar a Casa Resistência como lar temporário. No espaço, mulheres encontram o apoio que não encontram em suas famílias.
Conforme Dayana, elas são “mortas em vida” quando são abandonadas pelos parentes que não procuram mais saber das filhas. Paloma, a coordenadora de empregabilidade, lamenta que as mulheres não encontrem oportunidades de emprego, pelo fato de muitas meninas que chegam à casa, não possuem o ensino médio completo.
Para ajudar a semear, promovendo cidadania e direitos humanos, a Casa Resistência está fazendo uma vaquinha para poder arrecadar o valor necessário para comprar o espaço. Elas já tem R$ 40 mil que é apenas uma parte do valor. O total se aproxima dos R$ 80 mil. Atualmente, a urgência é ter a sede da coletiva para poder fazer reformas no espaço e deixar cada vez mais acolhedor para a população lésbica, bissexual, travesti e transexual (LBT).