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OPINIÃO – Professores brasileiros: desvalorização, sobrecarga e o futuro da profissão em questão

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Imagem: Freepik

O ano letivo nas escolas do país iniciou. Se para o estudante é o momento de expectativas com as possibilidades do ano, para os professores é o retorno de um merecido descanso após o nível de desgaste acumulado ao longo do ano. Ainda motivados e com muitas demandas para cumprir, não se sentem amenizados pelas falas que todo gestor cumpre logo no início.

A Secretaria de Educação do Distrito Federal divulgou em outubro do ano passado que mais de 1.326 professores foram afastados com problemas relacionados à saúde mental, em 4 meses. Em São Paulo, por exemplo, o número chega a 20.173, em seis meses, que representa 15% a mais do que o número do ano passado. Quando incluímos os professores das redes privadas de ensino esse número tende a subir consideravelmente. Nos últimos anos os casos de afastamento de professores e de profissionais desistindo da profissão tem aumentado.  

Este cenário, sem muitas perspectivas positivas, não parece melhorar no médio prazo. Considerando diversos aspectos, o salário sempre aparece como um motivador das dificuldades, já que em muitas cidades no país não cumprem nem o piso nacional que tem o valor de R$4.580,57, reajustado no início deste ano. Contudo, a estrutura em que os professores estão inseridos, tanto no público quanto no privado, garantindo suas especificidades, tende a ampliar o adoecimento dos profissionais da educação.

 Em muitas escolas, principalmente nas instituições particulares, com justificativa de metodologias mais modernas de gestão e controle de resultados, são criadas diversas tarefas para a execução pelos professores. Essas demandas, quase sempre não remuneradas, ou incluídas no valor da hora aula como uma atividade de planejamento, ampliam as demandas que precisam ser executadas pelo docente. Sem o planejamento adequado e incluídas ao longo do período letivo, muitas dessas atividades não geram resultados significativos.

Nesse ambiente, de cobranças em excesso, turmas com uma quantidade elevada de estudantes, realidade na maioria das escolas públicas, ausência de infraestrutura e salário vão tensionando as relações, ampliando ainda mais os casos de assédio. Atividades que precisam ser executadas de última hora, ligações ou mensagens fora do horário de trabalho, questionamentos quanto aos processos avaliativos e a liberdade de cátedra são somente alguns dos inúmeros casos que ocorrem no ambiente escolar.

Nas instituições privadas, onde a educação se torna mercadoria, a relação dos pais e responsáveis é mercantilizada e, para a escola, prevalece cada vez mais a máxima que o cliente tem sempre razão. Em um número elevado, os responsáveis pelos estudantes questionam conteúdos e metodologias utilizadas pelos professores que em muitos casos estão orientados pelos documentos legais. Em várias situações, a escola aceita incondicionalmente o que os pais e estudantes expõem, sem avaliar a pertinência das denúncias, repreendendo professores ou, em alguns casos, demitindo-os.

Neste sentido, essas condições vão ampliando a desvalorização dos professores e o sucateamento da profissão, com cada vez menos jovens com interesse nas licenciaturas. É preciso construir, com escuta ativa dos professores, políticas públicas mais robustas que impactem não somente nos docentes, mas em toda comunidade escolar, além da garantia dos direitos já conquistados. A escola não precisa ser o que era antes para ser considerada de qualidade. Podemos acompanhar as mudanças necessárias para os dias atuais sem muitas invenções, com soluções complexas, porém factíveis. Enquanto isso, precisamos cuidar daqueles que encaram cotidianamente essa realidade, sem heroísmos e superação, mas dignidade. 

VINI MACHADO
Coordenador-Geral de Promoção de Direitos da População Negra na Secretaria de Acesso à Justiça, no Ministério da Justiça e Segurança Pública. Formado em Geografia pela UnB trabalha com educação e direitos humanos. Líder do Mapa Educação e Coordenador da Politize em Brasília. Fundador da Rede de Cursinhos Populares do Distrito Federal e Entorno. Sou cofundador do Projeto Tem Cor no Ensino.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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