Na noite dessa quarta-feira (12), o trânsito iguaçuano parecia colaborar. Até o tradicional e diário engarrafamento na Dutra resolveu dar uma trégua na sua missão diária de lembrar ao proletariado como é duro servir a capital do Rio.
É com dores como essas que o morador da Baixada Fluminense convive e até esquece que existe cinema. Isso é coisa pra quem tem tempo, a maioria pensa – e tem razão, de uma certa forma, quando a gente concebe que um bom filme envolve duas horas de exibição, procurar vaga no estacionamento, comprar pipoca, ler pelo menos a sinopse ou ver o trailer…
Belford Roxo nem sala de cinema tem. Mesquita também sofre desse problema. Nilópolis até tem, mas alguns filmes demoram pra chegar na cidade. São João de Meriti, Duque de Caxias e Nova Iguaçu concentram as salas melhor equipadas. Em Nova Iguaçu tem até uma daquelas que a poltrona parece um sofá. Cinema gourmet – já fui e é muito bom, por sinal.
Apesar de o mercado não acreditar no público da Baixada Fluminense, esse território produz cinema. São incontáveis realizadores audiovisuais que produzem filmes internacionalmente reconhecidos – há os que rodam o mundo inteiro disputando prêmios, sendo indicados e vencendo competições internacionais.
De olho nessa indústria criativa, a turma do EncontrArte lançou uma Mostra de Cinema para celebrar tanta criatividade. Foram 20 anos com um festival de teatro de sucesso cujo fim não é oficial, mas também que segue confirmado de não acontecer mais. Faltam recursos, o vulgo “dinheiro” mesmo. Mas com a Mostra de Cinema a coisa é diferente.
Ironicamente a primeira edição da mostra de cinema acontece em um… Teatro. A abertura não poderia ser mais simbólica ao ocupar o Teatro Nova Iguaçu. Uma noite repleta de autoridades, artistas, produtores e muitos estudantes de cinema – é que a turma de 2022 foi lá receber seu diploma sob muitos aplausos.
A Baixada Fluminense merece celebrar a si mesmo na telona. Ter o mesmo direito que os nova iorquinos têm de ver sua própria cidade servindo de cenário para histórias. O território merece porque pertence a um povo sem acesso a coisas que até existem perto de casa, mas não lhe cabe porque a estrutura não deixa.
Até o dia 27 de abril acontece a 1ª Mostra de Cinema EncontrArte Audiovisual, cujo encerramento invade o Estação Botafogo “na Meca do cinema carioca”, como o produtor Fabio Mateus gosta de paralelizar.
Esse montão de jovens criativos na Baixada Fluminense que ousam viver de cultura são uma quebra de paradigma. São o anúncio de novos tempos.
O trailer de um filme que poderá ser assistido pelas próximas gerações.
Serviço
1ª Mostra de Cinema EncontrArte Audiovisual
12 a 27 de abril
Nova Iguaçu, Mesquita, Queimados e Rio de Janeiro
Horários e programação completa em https://www.instagram.com/encontrarteaudiovisual/
Wesley Brasil
Baixada Fluminense até o osso: Wesley Brasil é um tradutor das ruas da metrópole carioca que mobiiza pessoas a favor do seu território.