Por Thayan Mina e Matheus Ramos
Escolas fechadas, crianças sem aula, unidades de saúde paradas, comércio fechado: essa é a rotina em diversas comunidades do Rio de Janeiro em dia de operação policial. A pedagoga Andrea Araujo entende que as operações policiais nas comunidades do Rio de Janeiro, trazem “medo, insegurança, incerteza e angústia, pois nunca se sabe o que pode acontecer”.
Os dados do Instituto Fogo Cruzado do mês de julho confirmam a visão da educadora. Os primeiros seis meses de 2024 tiveram 1.346 tiroteios/disparos de arma de fogo na região metropolitana do RJ. As operações policiais continuam sendo o principal motivo dos registros mapeados.
Entre os tiroteios registrados de janeiro a junho, 450 envolveram a presença policial, correspondendo a 33% do total. Andreia faz um alerta sobre as operações policiais frequentes nas favelas.
“As operações afetam o acesso das crianças com o prejuízo dos dias letivos influenciando diretamente o direito das crianças em ter aulas, piorando a qualidade do ensino”.
Em fevereiro, a PM e a Civil iniciaram operação conjunta em diversas comunidades no RJ, que impactou o dia a dia de moradores das regiões e os serviços de educação e saúde. Segundo a Secretária Municipal de Educação, cerca de 22.596 mil alunos da rede ficaram sem aula por conta das operações, e 62 escolas não puderam abrir.
No primeiro semestre, 732 pessoas foram baleadas: 370 morreram e 362 ficaram feridas. Houve uma redução de 36% no número de mortes e de 32% no número de feridos. A PM informou que fez 2.810 operações entre março de 2020 e maio de 2023.
As operações foram realizadas quando o Supremo Tribunal Federal (STF) havia restringido e determinado a elaboração de um plano para reduzir a letalidade policial. Em maio, o governo do RJ afirmou ao STF que não iria restringir operações policiais em áreas próximas a escolas.
Andreia explica que a violência traz obstáculos para educação: “O fechamento das escolas e com isso a paralisação das atividades estudantis, o impedimento ao acesso para o local de trabalho, a dificuldade de repor o conteúdo perdido com a falta da aula, a oscilação da frequência dos alunos e com certeza a evasão escolar causada pelo medo de ir para a escola“.
Negros são as maiores vítimas
O 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que o Brasil registrou 6.393 mortes decorrentes de intervenções policiais em 2023. Embora esse número represente uma redução de 1% em relação a 2022, a letalidade policial no país aumentou 188,9% ao longo dos últimos dez anos (2013 a 2023).
As vítimas de intervenções policiais que resultaram em morte foram predominantemente pessoas negras, que representaram 82,7% do total. A taxa de mortalidade entre negros é de 3,5 por 100 mil habitantes, comparada a 0,9 por 100 mil entre brancos.