Foto: Andrea Piacquadio
Guerreira. Guerreira porque acorda, faz café e já pensa no almoço. Trabalha. Estuda. Cuida da casa, dos filhos. Vai ao mercado, cozinha de novo. Guerreira porque dá conta de mil e uma atividades, sem reclamar. Nenhuma mulher é guerreira por desempenhar dezenas de funções e, geralmente, carregar sozinha responsabilidades que deveriam ser compartilhadas.
O discurso que enfatiza a luta, a dedicação eterna para conquistar os objetivos é cruel porque para determinadas pessoas, a única opção é ser forte. Mas não deveria ser assim. As mulheres desempenham vários papéis impostos pela sociedade e ainda têm sua humanidade negada, pois são consideradas heroínas incansáveis.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) divulgada pelo IBGE, em 2017, as mulheres eram responsáveis por 30,5 milhões dos lares brasileiros, o que representa 28,5% do total. A pesquisa também mostrou que, além de chefiarem o lar, mesmo quando elas têm emprego, trabalham mais em casa do que o homem desempregado.
Atualmente, os resultados da pesquisa, ao meu ver, seriam diferentes considerando o período de distanciamento social.
Os dados mencionados revelam partes de um país que destinou aos homens o papel de provedor, e às mulheres o de cuidadora. Vale destacar que isso se agrava quando a questão racial é pautada. As mulheres negras, por exemplo, sentem na pele a desigualdade em diversos aspectos (racial, social, econômica, de gênero, etc).
Além de enfrentarem a dupla jornada de trabalho e vários obstáculos diários, as mulheres precisam ser guerreiras, batalhadoras, mesmo quando estão exaustas. Isso quer dizer que elas não podem desistir, nem descansar. Ou seja, priorizar-se não deve ser uma opção. Já parou para pensar em como está a vida da(s) mulher(es) ao seu redor durante o período de isolamento social? Dizer que uma mulher é guerreira é, também, romantizar suas dificuldades e o seu cansaço!