Negra, ativista quilombola e mãe de santo. O assassinato Maria Bernadete Pacífico ou Mãe Bernadete, de 72 anos, como era conhecida, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, é mais que emblemático.
Sobre esse crime pesam as mãos do racismo, do preconceito e da tentativa fascista de silenciar uma voz ativa na luta por paz e pelo direito à terra, contra a discriminação racial e a intolerância religiosa. Mãe Bernadete pagou com a vida o preço por não se acovardar.
Nem a morte do seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos (Binho do Quilombo), também executado em setembro 2017, fez Iyá baixar a guarda. Seguiu firme nos seus princípios, ideias e lutas, seja à frente Ilê Axé Odé Omí Ewá, na sua função de sacerdotisa, ou no Quilombo Pitanga dos Palmares, no qual era liderança máxima, responsável pela subsistência de 290 famílias. Bernadete era também coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), onde denunciava a violência cometida contra a população quilombola e a tentativa de tomada das terras.
Portanto, Mãe Bernadete não é uma vítima da violência, pura simples. Sua execução deixa digitais evidentes e tem uma mira apontada para quem defende os direitos humanos. Quem mandou matar Mãe Bernadete? Nesse novo contexto de reconstrução do país, assim como no caso Marielle Franco, o da líder quilombola urge por esclarecimentos urgentes.
É inaceitável novas “bernadetes” e “marielles”. Mãe Bernadete jamais será silenciada. Da sua morte precoce e dolorosa pode renascer a esperança. A ialorixá vai virar símbolo de luta do seu povo e da sua ancestralidade.
Mãe Bernadete virou um encantado. Sob a égide de Oxumaré, seu orixá de cabeça, segue firme nas trincheiras, fazendo o bom combate.
Arroboboi, Bernadete!
Baiano de Salvador-BA é graduado em Jornalismo e editor-chefe do NORDESTeuSOU, maior portal comunitário do Norte-Nordeste.