Em 2024, os moradores do Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio, atravessaram episódios de intensos de operações policiais. Até novembro, foram registrados 39 tiroteios na região, segundo o Instituto Fogo Cruzado. Essas ações resultaram em 16 mortes e 11 feridos. O território é um dos mais afetados pela escalada da violência policial e armada: para cada quatro tiroteios na Maré, três são decorrentes de operações policiais.
Além da violência direta, as consequências para o cotidiano dos moradores são preocupantes. A educação, por exemplo, registrou 22 dias de tiroteios nas imediações das escolas, prejudicando o ano letivo e a aprendizagem dos alunos. Em 64% desses dias, havia presença policial. Outro impacto das operações foi o fechamento total ou parcial das escolas públicas no Complexo da Maré por mais de 15 dias, o que contribuiu para resultados abaixo da média no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em comparação com escolas de outras áreas sem conflitos armados, conforme levantamento do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Em outubro deste ano, o Voz das Comunidades publicou uma matéria que retratava que dados recolhidos pela organização Redes da Maré apontavam excesso de violência e direitos negados a população.
O impacto também é sentido na saúde, com as UPAs e Clínicas da Família da região suspendendo seus serviços, o que obriga o reagendamento de atendimentos e exames, transferindo-os para outras unidades de saúde próximas. Outras áreas, como o transporte e o retorno dos trabalhadores, também são afetadas, com ônibus alterando suas rotas, demorando mais para passar ou até mesmo suspendendo a circulação.
“A população tem direito de saber qual o objetivo desta política de segurança que fecha escolas, interrompe serviços essenciais e expõe crianças a níveis alarmantes de violência,” destaca Carlos Nhanga, coordenador do Fogo Cruzado.