“Nossa estrela”, diz tia de adolescente assassinado por policiais na Cidade de Deus

Thiago Menezes Flausino jogava futebol e recém tinha sido aprovado em um clube do Rio; garoto tinha 13 anos
A família de Thiago acusa a polícia pela morte do menino(Foto: Reprodução)
A família de Thiago acusa a polícia pela morte do menino. Foto: Reprodução

“Um menino muito tranquilo, hoje a escola já ligou para dizer que sente muito e que está todo mundo triste, é um cara muito família, uma criança muito amorosa, sempre com um sorriso no rosto e sem contar que era nossa estrela do futebol né?” descreve Nathaly Bezerra Flausino, tia de Thiago Menezes de apenas 13 anos. 

O adolescente foi morto na Cidade de Deus (CDD), Zona Oeste do Rio de Janeiro, na madrugada desta segunda-feira (07). Thiago Menezes, de apenas 13 anos, morreu  com pelo menos cinco tiros na entrada da CDD. Segundo relatos da família que foram confirmados por testemunhas, Thiago passava de moto quando os policiais atiraram. 

A  tia de Thiago, conta que não estava tendo operação na hora do assassinato do jovem. Apenas rumores de que teria ação policial na favela. O rapaz estava do outro lado da CDD de moto com amigos, e quando o pai soube dos rumores da operação policial, alertou para que o rapaz voltasse para casa. Na entrada, Thiago foi recebido por disparos pelos policiais.

Thiago não tinha envolvimento com tráfico de drogas. O corpo do adolescente ficou no local durante toda a madrugada. Segundo testemunhas, após identificarem que o adolescente estava morto, os policiais tentaram remover o corpo do local mas foram impedidos pelos moradores. 

Policiais tentaram forjar crime, mas foram impedidos por moradores

Nathaly conta também que os policiais tentaram dispersar as pessoas que estavam no local com tiros e spray  de pimenta e acredita que eles [a polícia] queriam alterar a cena do crime. “Havia uma câmera ali posicionada no local onde aconteceu, e essa câmera foi talvez manipulada porque é um sistema de wi-fi. Ela não pega o período do que aconteceu. Pega um minuto antes e um minuto depois no minuto final aparece o meu sobrinho deitado no chão ainda com vida e um policial perto, aí a câmera não mostra mais o que aconteceu”.

Os moradores relatam ainda que os policiais forjaram a cena para simular que a morte aconteceu em uma operação policial. Após o ocorrido, o Batalhão de Polícia de Choque começou uma  operação na Cidade de Deus. Segundo os moradores houve troca de tiros e uso de spray de pimenta.

Investigações do assassinato

Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar (SEPM) informou que os policiais envolvidos na ocorrência do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) alegaram que dois homens em uma motocicleta atiraram contra a guarnição. E que após confronto, o adolescente “foi encontrado atingido” e não resistiu aos ferimentos. Ainda segundo a nota, uma pistola calibre 9mm foi apreendida no local. A área foi isolada e a Delegacia de Homicídios da Capital acionada.

O comando da SEPM já instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato e colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil. De acordo com informações da Polícia Civil, os policiais envolvidos na ação tiveram as armas apreendidas e uma perícia foi realizada no local para o início das investigações. Os policiais não estavam com câmeras nas fardas o que dificulta a investigação e põe em dúvida a versão dos agentes.

Polícia disparou bombas contra protesto pacífico

Após o assassinato de Thiago, a polícia iniciou uma operação na região da Cidade de Deus. Ainda na segunda-feira, moradores da Cidade de Deus fizeram uma manifestação no local do crime que é um dos acessos da favela. A manifestação estava pacífica até chegar a praça da CDD.

Ao chegar ao local, policiais lançaram bombas de efeito moral, houve confronto entre policiais e manifestantes mas sem registros de feridos.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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