No Dia da Favela, Voz das Comunidades promove premiação de personalidades da favela

Em sua primeira edição, o Prêmio Liderança de Favela aconteceu no cinema do CineCarioca no Alemão e seis moradores foram homenageados
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Esta quinta-feira, 4 de novembro, marca a comemoração do Dia da Favela. Por conta disso, o Voz das Comunidades resolveu celebrar a data da melhor forma possível. A ONG homenageou algumas das personalidades importantes das comunidades da cidade do Rio de Janeiro. O Prêmio Liderança de Favela aconteceu no Alemão, na sala de cinema do CineCarioca, da Nova Brasília, Zona Norte do Rio.

Ao todo, seis pessoas de diferentes comunidades do Rio de Janeiro foram premiadas nesta primeira edição do evento, que aconteceu na manhã de hoje. A premiação foi apresentado pela jornalista do Voz das Comunidades Alana Nascimento.

Os premiados

Renata Kely dos Santos Nunes, 42 anos, moradora da Cidade de Deus, na Zona Oeste, é uma mulher negra militante humanitária, candomblecista, favelada e flamenguista. Há 10 anos ela é  líder comunitária na CDD, começou como Agente Comunitária de Saúde através de um convite da política Benedita da Silva, para um projeto chamado Vida Nova, em 1998. Seu momento mais especial frente à comunidade foi quando o Projeto RH Social empregou na primeira ação 182 pessoas de uma só vez. Atualmente, seus principais projetos sociais são: Projeto RH Social, Frente CDD, Correspondente Voz e Diretora Social GRES Coroado de Jacarepaguá. 

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Renata fala com orgulho a representatividade desta premiação. “Pra mim a importância é o reconhecimento, né? Nós, como favelados, recebermos um carinho, um abraço, é tudo de bom. Agradeço a todas as pessoas, não só as que estão aqui sendo homenageadas, porque estamos representando todo o Rio de Janeiro, porque todas as favelas têm a sua luta e sua construção social. Estou aqui representando todas as mulheres negras e todas as mulheres de todas as favelas“.

Natalina Maria Barbosa, mais conhecida como Nathy, de 30 anos, é pernambucana, moradora do Morro do Adeus, mãe do Richard, Enzo e Eloah e idealizadora do projeto Resgatando a Inocência. Criado em 2018, no Morro do Adeus, o projeto atende às crianças carentes da comunidade e tem como objetivo receber meninos moradores de rua, oferecendo a eles atividades, alimentação e muito afeto. Antes da pandemia da Covid-19, a iniciativa chegou a atender mais de 100 crianças. Nathy é uma referência para as crianças e famílias da comunidade, onde oferece atividades socioeducativas, alimentação para as crianças (e seus familiares), além de atender outras demandas necessárias dos moradores.  

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Nathy comemorou o reconhecimento de anos de atuação. “Significa que a gente está sendo reconhecido, que não está sendo em vão, mesmo com muita gente dizendo que é, e eu as crianças não vão a lugar nenhum. Mas nós dizemos que sim, que eles podem ir aonde quiserem. Esse prêmio é pra toda comunidade do Adeus“.

Kamila de Fátima Camillo, cria da Maré, 31 anos, carioca, psicóloga e fotógrafa, atua no eixo de educação da Redes Maré, e também é idealizadora do projeto Crias do Tijolinho. A paixão pela fotografia veio desde muito nova. Aos 14 anos, ela começou a fotografar eventos na Igreja que frequentava. Atualmente, Kamila é formada em psicologia, frequentou também a Escola Popular de Comunicação Crítica – ESPOCC/Observatório de Favelas, a escola de Cinema Olhares da Maré/Redes da Maré e participou de projetos do Imagens do Povo/Observatório de Favelas. A fotógrafa é participante do projeto Mulheres Gordas de Favelas, que nasceu a partir de um olhar crítico perante estereótipos e estigmas sociais, que tem como objetivo principal o empoderamento e autoestima de corpos femininos, gordos e favelados através do registro dos seus cotidianos pela fotografia. 

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Ela comentou sobre a significativa homenagem. “É um momento muito importante, né, para minha história, para minha trajetória. Tô sentindo muito esta emoção e dizer que estar nesse lugar é poder fazer com que Maré também esteja nesse lugar e seja reconhecida. É um privilégio, um presente, né?! Porque só a gente sabe das nossas lutas na trajetória. Mas é isso! É uma alegria muito grande poder receber esse prêmio. E, esse prêmio não é meu, é da Maré, é do Tijolinho, é da Redes da Maré. É das nossas construções juntos. Eu acredito no coletivo!”

Davi Gomes é um jovem de 20 anos, carioca, estudante de administração, cria da Vila Vintém, onde fundou o projeto S.O.S Vila Vintém. Foi Embaixador da maior conferência do Brasil no Exterior, chamada Brazil Conference 2021 and Harvard in MIT, nos EUA. Davi tem se destacado pelo seu trabalho sociocultural realizado em sua comunidade. A ONG SOS Vila Vintém tem por missão ajudar as famílias em vulnerabilidade social e fortalecer o comércio local através de um vale-compras no valor de R$100,00 reais. O movimento tem ajudado mais de 4 mil famílias na Vintém. 

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Davi falou da relevância do trabalho da juventude nos movimentos sociais. “Hoje é um dia especial! Dia da Favela. Quero dedicar a todos os voluntários do SOS Vintém, porque não fazemos nada sozinhos. E dizer que estamos mudando a cara da Vila Vintém. Se impactamos a vida de tantas famílias, isso é fruto de um trabalho coletivo, que é 90% jovem“.

Alessandra Silva Vieira, conhecida como Sandra, de 48 anos, é carioca, cria da Penha e mãe do Daniel. Sandra estudou contabilidade. Há 21 anos ela é diretora da ONG Atitude Social do Complexo da Penha, na qual foca principalmente  no desenvolvimento humano, formando Cidadãos e Cidadãs, preparando as crianças da comunidade para a vida. O Atitudes Social oferece diversas atividades socioculturais, além de práticas esportivas. 

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Sandra falou com gratidão pela lembrança. “Estar sendo premiada e reconhecida é especial. Porque muita das vezes nosso trabalho é tão árduo e tão difícil e a gente quase não tem esse reconhecimento. Quando alguém lembra da gente que tem tanta credibilidade, como o Voz das Comunidades, é especial. Meu coração está saltitando de alegria. Eu quero agradecer a Deus e a minha família aqui da comunidade que contribuiu até aqui“.

Zenilton da Silva Fernandes, conhecido com Nito, 37 anos, é carioca, eletricista, cria da Central, Complexo do Alemão, pai da Sofia, fundador e presidente do projeto Talentos do Morro. O jovem cresceu tocando pandeiro e, no mundo da música, percebeu o quanto os moradores de comunidades não têm muitas oportunidades. Com isso, juntou-se com amigos e iniciou o trabalho com crianças e os jovens da comunidade. O Talentos do Morro tem como finalidade promover a captação de pessoas, o desenvolvimento social, cultural e inclusão da população no mercado de trabalho.

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Nildo comentou como é importante valorizar os trabalhos sociais e estimular a luta por oportunidade. “Este prêmio é um reconhecimento de todo um trabalho realizado dentro da comunidade. É importantíssimo para gente esse prêmio, para dar um estímulo e continuar desenvolvendo mais projetos para nossa favela“.

Sobre o evento do Prêmio Liderança de Favela

Durante a premiação, o grupo Ação Social Pela Música se apresentou para as pessoas presentes na sala de cinema, trazendo o seu repertório de canções clássicas. Cerca de 80 pessoas participaram do evento, entre elas presidentes das associações de moradores, personalidades da favela e representantes do poder público, como o Secretário de Juventude Salvino Oliveira.

Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

A equipe de responsabilidade social do Voz das Comunidades também foi homenageada pela organização do Prêmio Liderança de Favela. Os jovens foram fundamentais durante toda esta pandemia da Covid-19, com inúmeras ações comunitárias de assistência social.

Flávia Costa, Gustavo Barli, Marcella Melo, Geisa Pires, Felipe França, Beto Lopes e João Victor foram os integrantes do Voz premiados.
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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