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“Não há política de continuidade”, diz presidente do CAU/RJ sobre projetos de urbanização nas favelas

Abandono das políticas de projetos urbanísticos para as favelas é um problema, segundo Sydnei Menezes
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Dos mais de 203 milhões de habitantes do Brasil, cerca de 16 milhões são moradores de favelas (Censo 2022). Ainda assim, as políticas públicas de urbanização não atendem a essas pessoas como atendem, por exemplo, na Zona Sul carioca. Parafraseando o geógrafo David Harvey: “o direito à cidade como ele está constituído agora, está extremamente confinado, restrito na maioria dos casos à pequena elite política e econômica, que está em posição de moldar as cidades cada vez mais ao seu gosto”. 

De acordo com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ), Sydnei Menezes, o grande problema dos projetos urbanísticos pensados para espaços como favelas e periferia é o abandono. “Não houve, não há e não sei se um dia haverá política de continuidade. O que é? Planeja, executa e mantém”, explica. Pontuando, ainda nessa esfera, que “a pior coisa é refazer obra”. Isso se daria justamente pela não continuidade de um projeto de urbanização. 

“O que você vai encontrar lá [nas favelas que receberam projetos de urbanização]? Rigorosamente, a favela como era antes da intervenção. Alguma coisa tá errada. Alguma coisa não deu certo nessa história”, afirma Menezes. 

O que Harvey fala sobre o direito à cidade, Menezes concorda. A favela não é considerada, de fato, como parte da cidade pelos governos. Na verdade, ele pondera ser além disso. “Eles acham que o problema está resolvido. Darcy Ribeiro dizia isso; que favela é solução. A solução que o povo encontrou para a omissão do governo.” E por quê? Porque, assim, se economiza recursos para investir em outras áreas que considera mais vantajosas para o poder público”, critica. 

Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades

David Harvey

“Aposto que dentro de quinze anos, se a tendência atual continuar, todas aquelas ladeiras ocupadas por favelas no Rio de Janeiro serão cobertas por condomínios de alto padrão com fabulosa vista para a idílica baía, enquanto os primeiros moradores terão sido removidos para alguma periferia remota.”

E, quando é falado sobre o não direito à cidade, é possível lembrar de um exemplo recente de quando, nas Olimpíadas que aconteceram no Rio, em 2016, as favelas cariocas foram retiradas do mapa oficial da cidade. No entanto, não foi uma ação isolada. “Na década de 70, as favelas eram espaços em branco nos mapas”, relembra Menezes.

Urbanismo climático

O urbanismo climático seriam os princípios básicos da arquitetura, segundo o presidente do CAU. “Ventilação, insolação e iluminação. Então, para ter um bom resultado, você tem que ter um ambiente que tenha esses três. Então, toda essa questão climática que se discute hoje é a partir disso, desse equilíbrio que deve ser encontrado na realização dos projetos e intervenção dos espaços públicos. Para, assim, conseguir a qualidade de vida e a sustentabilidade”, explicou.

Planejamento urbano e prioridade de permeabilidade do solo são duas coisas que faltam. Um exemplo que, “climaticamente” falando, não é o ideal foi o recente asfaltamento do Morro da Providência, que é pavimentado com paralelepípedos. “Quando chove, parte é absorbida pelo solo. Com asfalto não. A chuva bate no asfalto e vira um rio; se for uma via inclinada, você vai ver uma cachoeira no final.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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