Moradores lidam com danos materiais e emocionais causados durante megaoperação no Alemão

Moradores enfrentam perdas e traumas após ação policial na sexta-feira (24)
Resultado de 12 horas de megaoperação no CPX do Alemão. Foto: Reprodução

Os danos causados pela megaoperação que ocorreu sexta-feira (24) no Complexo do Alemão continuam afetando a vida dos moradores. São carros, motos e casas atingidos que impactam desde o trabalho até o dia a dia da comunidade. E o pior, os danos emocionais, que são irreparáveis. Moradores estão assustados com a situação de guerra que viveram.

Rafaele Paulo de Souza mora há mais de 15 anos no Complexo do Alemão e começou a trabalhar na comunidade vendendo bolsas de porta em porta. Seu carro foi atingido por tiros. “Fiquei apavorada ao ver que acertaram os quatro vidros, os dois pneus, a lataria”, relata. O orçamento para trocar apenas os vidros ficou mais de R$3 mil, valor que ela não tem como pagar. Além disso, Rafaele ainda enfrenta outras dívidas com o veículo. “Os pneus a gente ainda está pagando no cartão, que compramos com muito sacrifício. O carro também está sendo pago, e a gente usa para trabalhar na feira de Inhaúma”, conta.

Rafaele ainda lida com questões emocionais consequente da operação, “estou com síndrome do pânico total, toda hora indo para o hospital”, relata. Após precisar procurar atendimento médico na UPA e ma Clínica da Família por conta das crises, ela conta que sente medo para sair de casa, “tenho três crianças pequenas, não estou conseguindo nem sair para trabalhar, nem dormir em casa, de tanto pânico”.

Paulo Sérgio Nascimento também teve prejuízos durante a ação policial. Sua moto foi destruída, comprometendo seu trabalho. “Faço entregas de lanche na comunidade para complementar a renda. Moro de aluguel e sem a moto fica ainda mais difícil”, lamenta. Ele também relata os impactos psicológicos do episódio. “Minha esposa passou mal. Uma senhora que conheço também, porque os policiais usaram o portão da casa dela como escudo. Eles não respeitam os moradores, nem os trabalhadores da comunidade”, denuncia.

Assim que ficou a moto de Paulo Sérgio após a megaoperação que durou mais de 12 horas.
Vídeo: Reprodução

A situação tem sido insustentável para a família. “Uso a moto para trabalhar e minha esposa está pensando em sair da comunidade, porque quando tem operação aqui fica insuportável”, desabafa Paulo Sérgio. Ele não conseguiu ir ao encontro com a Defensoria Pública porque estava trabalhando no momento.

Fátima Rodrigues também viu sua casa ser atingida pelos disparos. Ela mora em um prédio de esquina no loteamento da Nova Brasília, que apareceu em diversas imagens nas redes sociais devido aos estragos. “Perdi meu ar-condicionado, não teve conserto. Minha janela está quase caindo e a parede do meu quarto ficou cheia de buracos. O telhado que eu tinha acabado de reformar com minha rescisão também foi destruído”, conta.

Ela tentou buscar ajuda na Defensoria Pública, mas não conseguiu atendimento. “Quando soube já eram quatro horas. Fui correndo para lá, mas me informaram que os representantes tinham ido atender um caso na casa onde o muro caiu. Fiquei esperando, mas ninguém voltou. Depois de muito tempo, desisti e voltei para casa”, relata.

No momento dos disparos, Fátima estava em casa com o neto de cinco anos e o sobrinho de quinze. Ela lembra com angústia da cena. “Fui para a cozinha fazer o almoço. Foi quando ouvi o barulho do blindado. Corri para a sala e vi o caveirão parado na minha porta. Peguei meu neto, meu sobrinho e fomos nos arrastando pelo chão da sala até o banheiro. Ficamos no box, sentados, achando que a qualquer momento uma bala ia entrar e atingir a gente”, conta.

Todos estão assustados. “Meu neto ficou muito assustado, ainda está muito nervoso”, diz Fátima, ainda sem acreditar no que viveu. “Estou sem chão, parece que a ficha não caiu”.

Teve danos materiais durante uma mega operação?

Se você teve danos materiais durante a ação policial é possível pedir reparo ao plantão de atendimento do Ministério Público através do número (21) 2215-7003. Ao ligar, não esqueça de pedir o protocolo da solicitação. Dessa forma, você consegue acompanhar o seu processo. Você também pode notificar entrar em contato com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro para atendimento jurídico gratuito. Basta ligar para o número 129.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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