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Moradores de favelas cariocas respondem o que esperam de 2024

O Voz das Comunidades perguntou para seis pessoas de localidades diferentes quais as expectativas para o novo ano
Arte: Reprodução

Adeus ano velho, feliz ano novo, mas há coisas que parecem nunca mudar. Nas favelas cariocas, por exemplo, há problemas que se estendem por anos e isso afeta diretamente os sonhos dos moradores. Então, afinal, o que os crias de favela esperam de 2024? O Voz das Comunidades perguntou exatamente isso para alguns e as respostas, óbvio, foram plurais.

  • DJ Swag do Complexo / Miguel Rocha, 23 anos, Complexo do Alemão (Bonsucesso, Zona Norte)
Foto: Gabriele Morelli

“Eu, como artista e morador do Complexo do Alemão, não espero que nada caia do céu pra esse 2024 (mas se cair, eu recebo a benção)”, confessa, brincando – ou não.

“Dessa vez, me preparei pra buscar um caminho artístico e entregar resultados que me agradam e agradam a quem me acompanha. Mas, principalmente, quebrar toda e qualquer barreira que possa existir; ser um cria de favela que trabalha diretamente com o Funk e a Música Eletrônica Periférica Brasileira a viajar o país inteiro, tocar em grandes festivais e realizar uma Eurotour. Sonhar é sem limites e a minha capacidade de realizar isso, com a minha equipe, com certeza também não tem limite!”, diz.

“Mas, como pessoa, eu espero realizar o mínimo mediante essa correria toda. Ter ao menos um pouquinho de estabilidade financeira, poder conquistar as minhas coisinhas e ter um conforto melhor dentro de casa; geladeira cheia e sem me preocupar com as contas no fim do mês, além de poder cuidar e proporcionar do bom e do melhor para o meu filho. Eu acho que isso é o que todo cria almeja e é o que nos mais falta, o mínimo.”

  • Fabrício Jordan, 22 anos, Morro dos Macacos (Vila Isabel, Zona Norte)

Fabrício, ou Till F, é rapper e poeta. Ele espera para 2024 que favelados possam adentrar ainda mais os espaços aos quais pertencem e merecem alcançar. “Sobretudo, através da cultura e da arte. Somos música, dança, cinema, pintura, moda e muitas coisas mais. Somos potência! Muitas das vezes só precisando de uma oportunidade para evidenciar isso”, reforça.

“A força que inspira e move o mundo. Estamos nas telinhas, telões, fones, carros ou rádios. Somos a esperança e a perspectiva de melhora, pra nós mesmos, por nós e pelos nossos. Aquilo que os pivetes possam ter como caminho a seguir, coluna a escorar e lâmpada para iluminar. Para 2024, que a arte e cultura transbordem, transpassem e transformem a minha favela, a sua favela e todas as favelas que percorrem o nosso Brasilzão.”

  • Karoline Freitas, 25 anos, Mata Machado (Alto da Boa Vista, Zona Norte)
Foto: Reprodução

Karol, como gosta de ser chamada, sempre espera algo positivo e com sentimento de esperança. “Acredito que sempre pode melhorar de alguma forma. A cultura traz um pouco disso também; eu acho que ela tem o poder e a capacidade de despertar isso nas outras pessoas – esperança. Arte toca a gente de uma maneira diferente. Desejo que todas as pessoas de favela possam ter acesso à cultura e possam sentir essa sensação!”

  • Mariana Andrade, 36 anos, Morro do Cajueiro (Turiaçu, Zona Norte)
Foto: Reprodução

Mariana trabalha como enfermeira e pesquisa a saúde das adolescências e da população negra. Para ela, “falar de favela é falar de saúde! É necessário que as políticas públicas adentre esses espaços trazendo promoção à saúde, saneamento básico, educação em saúde de forma clara e objetiva, que a favela seja inserida nas gestões de cada político desta cidade.”

  • Mariluz / Marina Motta, 24 anos, Morro do Pinto (Santo Cristo, Centro)
Foto: BERRO INC.

Mariluz, que é artista e correria, pontua o saneamento básico para as favelas. “Espero que em 2024 o saneamento básico seja levado a sério de fato nas comunidades. Falta de água é algo recorrente, ondas de calor e as pessoas sem um pingo de água em casa. Esgoto a céu aberto trazendo doenças, falta de recolhimento ou pontos estratégicos para o lixo… É sobre dignidade, sabe? Pois o nome mesmo já diz: saneamento básico!”, denunciou.

  • Miriam Generoso, 37 anos, Morro da Providência (Gamboa, Centro)
Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

Miriam é coordenadora de projetos e trabalha diretamente com mulheres na favela onde mora. “A vida na favela é sempre vista pelo olhar externo como como violento e perigoso. Mas assim como eu, muitos outros moradores amam os lugares e exageramos todas as potencialidades que nossos territórios têm. Não há lugar mais bonito no mundo que o sorriso das nossas crianças e a alegria que emana de ver os erês brincarem”

“Desejo que as ações e pautas sociais avancem ou ao menos consigamos diminuir os impactos desastrosos da gestão passada. Que possamos tbm potencializar os moradores de favelas a criarem suas próprias narrativas de pertencimento de si e dos territórios de onde vivem, utilizando como ferramenta a educação, cultura e arte. Eu espero que possa ser um ano de transformação para todos nós e que possamos avançar entendendo a potência que nós somos.”

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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