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Moradora do Morro da Fé vai representar o Brasil nas Paralimpíadas

Tayana Medeiros vai fazer sua estreia nos jogos, competindo no levantamento de peso

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Nascida e criada no Morro da Fé, uma das favelas do Complexo da Penha, Tayana Medeiros, de 28 anos, é uma das esperanças de medalha da delegação da seleção paralímpica brasileira em Tóquio 2021. Tayana nasceu com artrogripose, uma deficiência congênita que limita os movimentos das articulações. Porém nem isso foi barreira para ela ir atrás dos seus sonhos. Hoje carrega nos braços não só os pesos, e barra do halterofilismo, mas também uma história de superação. O halterofilismo paralímpico é uma modalidade esportiva que tem como objetivo testar a força de membros superiores de seus atletas. Diferente da prática olímpica, trabalha com a força máxima, ao invés de força explosiva. Parece não haver tanta diferença, mas o treinamento é completamente diferente. 

Início no esporte

Tayana conheceu os esportes paralímpicos através de um amigo que, aos 15 anos, contraiu uma bactéria e ficou impossibilitado de algumas práticas do dia a dia. Mas, mesmo com todas as dificuldades dele, atuava em modalidades paralímpicas, e isso a motivou a conhecer mais a modalidade, ao começar não parou mais. 

Inicialmente, treinou no Atletismo, nas modalidades de arremesso de peso, lançamento de dardo e disco. Foi medalhista já na sua primeira competição, com apenas cinco meses de treino. Mas, acabou se apaixonando pelo Halterofilismo após um período de reabilitação e graças ao seu treinador Claudemir Santos. Os dois se conheceram no Grêmio Recreativo Esportivo da Penha, Zona Norte da cidade. Hoje estão no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes da Marinha do Brasil, também no bairro da Penha, local que treina até hoje. Atualmente também integra o Projeto Paralímpico, uma parceria entre Marinha do Brasil e Caixa Econômica Federal com patrocínio das Loterias Caixa.

Durante a pandemia da Covid-19, o pai da atleta foi demitido da empresa na qual trabalhava. Com o dinheiro da rescisão, comprou alguns aparelhos de levantamento de peso para que ela treinasse durante a pandemia.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

“O esporte mudou minha vida em vários aspectos. Eu me conheci melhor, me descobri como pessoa. Hoje faço faculdade de educação física. Estou prestes a me formar, e mudei a vida da minha família com o esporte. Sou nascida e criada no Morro da Fé. Sempre vivenciei muitas coisas ali, e o esporte me fez abrir a mente para um mundo diferente daquela realidade. Já vi muitos amigos perdendo a vida por pouca coisa, e não queria aquilo pra mim. Mesmo sendo deficente, sempre sonhei um pouco mais, além da favela”, comentou a atleta. 

As dificuldades da vida de uma esportista de favela 

Em pouquíssimo tempo, a atleta já estava competindo e conquistando vagas no Campeonato Brasileiro e se classificando para a Copa do Mundo na Hungria, onde já se iniciava a corrida para Tóquio. Mesmo assim, com todo esse destaque no cenário dos esportes paralímpicos, Tayana convive com as realidades negativas de todo morador, como a violência. “Eu já passei por muitas dificuldades dentro da comunidade. Já sai para ir treinar em meio a uma operação policial, já deixei de treinar por conta de tiroteios. Sair de cadeira de rodas com a minha minha mãe me levando debaixo de tiros é muito complicado”, conta ela.

A família foi fundamental para toda a trajetória e já garantiram que vão fazer vigília nas madrugadas para
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

A chegada da pandemia da Covid-19 em março de 2020 causou uma mudança nos planos: os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que aconteceriam em 2020, foram adiados para este ano. Tayana também teve muita dificuldade durante esse período, pois não tinha material de treino em casa, mas seguiu acompanhada do treinador e, assim que permitido, voltou ao local onde pratica sua modalidade.

Os primeiros jogos paralímpicos 

Tayana Medeiros é uma das apostas de medalhas da delegação brasileira que desembarcou em Tóquio. Ela, que bateu o recorde brasileiro de Halterofilismo Paralímpico em 2019 na categoria até 86kg feminina, comentou sobre as expectativas. “O sentimento é de dever cumprido. Cheguei no esporte há 4 anos atrás, sonhava com as olimpíadas, mas não almejava estar presente nela agora, porque achava que pra mim seria um passe muito grande. E depois que vi que era possível esse sonho, eu agarrei com unhas e dentes e fui treinando, abrindo mão de muitas coisa. Minha expectativa hoje é de fazer minha melhor marca no mundial, claro uma medalha”.  

A atleta fala também com muito carinho sobre sua comunidade e diz ter vontade de fazer algo voltado para os esportes para as pessoas do Complexo da Penha. “Meu recado para os moradores é: Nunca desista dos seus sonhos. Não é porque somos favelados, negros e moramos numa comunidade com muitos problemas que nós não podemos realizar nossos sonhos e conseguir alcançar nossos objetivos.”. Os jogos olímpicos começaram nesta sexta-feira 23 de julho e vão até o dia 8 de agosto. Mas, as modalidades paralímpicas só vão ser iniciadas no dia 24 de agosto, com duração até o domingo 5 de setembro.  

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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